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Carnaval? Credo, que delícia!

  • Foto do(a) author(a) Victor Villarpando
  • Victor Villarpando

Publicado em 2 de março de 2019 às 05:05

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Eu passo o ano inteiro dizendo que não gosto de tí. E quando chega fevereiro, nego, eu fico ruim. Como a maioria das pessoas que mora em Salvador, eu não quero nem conta com Carnaval. Sonho em viajar pra longe. Ir para a Chapada, pra Morro de São Paulo... Se nada der certo até Lauro de Freitas eu tô topando. Mas não dá. O trabalho não deixa.

Ver a montagem dos camarotes – e o engarrafamento que vem junto – torra minha paciência. Os dias passam e fico mais ginjado. O calor só piora. Até a Mc Donalds mais perto de casa fica lotada, cheia de fila. Leo Santana puxando 1 milhão de pessoas no Furdunço é a visão do inferno para mim. Tô sonhando com praias paradisíacas, pô!

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Mas aí vem a quinta-feira de Carnaval. Crachá no pescoço, farda do trabalho, bloquinho e caneta na mão. Vida de jornalista. Vejo os zaps dos amigos montando as fantasias e começa uma comichão. Tiro os óculos e os 3 graus de miopia nem parecem existir. Ao invés de mocassim ou sapatênis, calço aquele tênis velho, confortável e encardido, que só Deus pode me julgar por não ter jogado fora. Só pra garantir, claro. Não caio no meio daquela pipoca suada nem se Margareth cantar Elegibô na minha cara. Da redação, o carro do jornal me deixa na porta do camarote onde vou passar a noite puxando conversa com famosos ou quase.

Daqui do alto, vejo o pau quebrar na pipoca do Psirico. A manteiga chega derrete. Na rua tem diabinha, anjinho, Jenifer, vampiro, sereia e toda aquela fauna maravilhosa que só se vê na quinta-feira de Carnaval. Gente de todo jeito, toda cor, toda delícia. Sinto tremer a estrutura do prédio em que fica o camarote. Parece que vai cair. São os pulos da multidão do BaianaSystem. Arrepio. Jovens senhoras loiras esticam sorrisos no limite do botox. Celebridades passam, subcelebridades ficam e, entre entrevistas berradas – já tentaram conversar perto de um trio elétrico? - brotam borboletas no estômago.

Cinco minutos antes do turno acabar, os amigos mandam fotos no zap. Todo mundo produzido, lacrando na concentração dos Mascarados. Lá longe vejo Daniela. Ela chamou Maimbê. Fudeu. Cada vez que essa mulher levanta a sobrancelha é um flash. Acabou o trabalho. (Amém!) Tchau fontes, adeus assessores, aquele abraço segurança brother. É a hora em que Clark Kent vira o Super-Homem. Só que estilo Carreta Furacão. Possuído pelo ritmo ragatanga, tiro a camisa da empresa. Viro do avesso e visto. Crachá pra dentro da doleira. Compro uma passadeira qualquer. Um potinho de glitter. Uma latinha piriguete bem gelada.

Me jogo no contrafluxo. Gente suada se esfregando, tá difícil passar. Chego em Cajazeiras, mas não chego no Farol. Passo pela pipoca de Daniela. Só alegria. Banzeriando e cumprimentando conhecidos com tchauzinho. Por que não combinam horários que dêem pra acompanhar a Rainha e depois pular n’Os Mascarados ou vice-versa? Chego a tempo de ouvir A Noite dos Mascarados em samba reggae, abertura do desfile. Coração dispara. Encontro os meninos. Todo mundo se abraça. Compramos as piriguetes em combo, uma é dois, três é cinco.

Quem foi Naninha... Entre um aperto e outro, na subida do Cristo ou na curvinha do Morro do Gato, eu quero morrer no seu bloco, eu quero me arder no seu fogo. Sou seresteiro, poeta e cantor. E também aquele cara que tava virado na desgraça porque não ia conseguir fugir do Carnaval. No fim das contas, não consegui mesmo

Victor Villarpando, 31 anos, jornalista

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores