As origens da Rádio Sociedade da Bahia

A Rádio Sociedade da Bahia ‘nasceu’ praticamente na residência do Dr. Cesário de Andrade, professor da Faculdade de Medicina

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  • Nelson Cadena

Publicado em 22 de fevereiro de 2024 às 05:00

No próximo dia 24 de março, a Rádio Sociedade da Bahia completa 100 anos de existência. É a segunda emissora mais antiga em operação no país e a única que conservou o seu nome original ao longo do século transcorrido. É, ainda, a mais antiga emissora de rádio privada do Brasil e líder de audiência, por muitas décadas, no segmento de rádios AM.

Duas emissoras a antecederam: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que passou a ser denominada de Rádio Ministério de Educação, em 1936, e depois de Rádio MEC, um nome pior do que o outro, e a Rádio Clube de Pernambuco, fundada no papel em 1919, mas que entrou no ar, com regularidade, em 1923; no ano em que comemoraria seu centenário deixou de transmitir na frequência de 720 kHz, operando apenas pela Internet.

A Rádio Sociedade da Bahia “nasceu” praticamente na residência do Dr. Cesário de Andrade, professor da Faculdade de Medicina. O médico tinha assistido na capital do país demonstrações experimentais de radiotelefonia, realizadas pela Western/Westinghouse, por ocasião da Exposição Internacional do Centenário da Independência e que a história registrou como o marco zero do rádio no Brasil. Empolgado com a novidade, requereu autorização do Ministério de Viação e Obras Públicas para a implantação de um posto tele-radiofônico na sua casa, no Campo Grande.

Licença concedida, o posto foi inaugurado em junho de 1923, um mês após o início de operações da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a emissora, de fato, que foi o verdadeiro marco inicial da radiofonia no Brasil, no modelo de ter uma grade de programação, regularidade nas transmissões, receptores individuais e audiência.

O Dr. Andrade, ao longo de oito meses, operou sua estação, ouvindo irradiações do Brasil e do mundo, no estilo radioamador e, em 1924, constituiu a Rádio Sociedade da Bahia com Agenor Augusto de Miranda, Caio Moura, Arquimedes Gonçalves, Oscar Carrascosa, Gustavo Lopes, Gaston de Oliveira e Dagoberto Menezes, dentre outros.

Em 24 de março, nos salões do Instituto Politécnico da Bahia, foi constituída formalmente a Sociedade. No papel. O engenheiro Agenor Augusto de Miranda, chefe do Distrito de Telégrafos, foi eleito como presidente. Em seguida, procedeu-se à inauguração oficial de fato, no Palacete Mercuri, Rua Chile, pertencente a Giovano Mercuri, bisavô de Daniela Mercuri (y). A turma posou para a revista Renascença, edição de abril, ao lado de gramofones. Tinham adquirido um transmissor que demorou meses para chegar no Brasil e, após, ficou retido na alfândega. Os diretores da rádio solicitaram a intervenção do governador Góes Calmon para liberar o equipamento.

Somente em 1925, a emissora entrou de fato em operação. Não mais experimental. Irradiando música, palestras e conferências. Tinha 200 associados, que pagavam uma taxa mensal para cobrir as despesas, mas, nem todos possuíam receptores, de modo que a audiência era bem menor. Demorou a tê-la como todas as emissoras de seu tempo, por falta dos aparelhos. O improviso, com a fabricação dos toscos rádios de galena, um armengue com antena de fio cru, bobina, capacitor, fio terra e fone de ouvido (não expandia o som), quebrou o galho até a importação dos rádios Phillips, a partir de 1927, Telefunken, e a sua massificação pela Philco, representada pela Frutos G. Dias & Cia.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras