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Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2014 às 04:35
- Atualizado há 3 anos
Li num post no Facebook do jornalista Válber Carvalho a sua observação de que alguns bairros de Salvador não mais comportam a sua denominação original; então, citou Cajazeiras, onde não se vê um pé de cajá, Avenida Dendezeiros, onde não há mais um pé de dendê, e o Horto Florestal que não é mais horto, floresta muito menos. Pensando bem, várias localidades da cidade perderam essa sua identidade toponímica e não há o que fazer a não ser contar às novas gerações e a outras nem tanto qual a motivação que levou os legisladores do passado a nomear bairros, avenidas, ruas e praças com referências de plantas, bichos e outras imagens lúdicas da natureza.A verdade é que algumas localidades já se reinventaram. A Fazenda Garcia, por exemplo, que desde quando se tornou bairro de espigões já era chamada de Garcia, uma opção do povo para simplificar as coisas, mas com evidente sabedoria na supressão da palavra Fazenda, que nos remetia ao século XVI, o feudo de Garcia D’Ávila. Porém, outros bairros e localidades definitivamente perderam o seu cordão umbilical. Em Sussuarana não mais habitam onças; na Estrada do Coco não se vê um pé de coqueiro, aliás não sobrou pé de coisa alguma na ocupação desordenada e predatória ocorrida nos últimos 20 anos. E em Massaranduba desapareceram as árvores frutais que cresciam entre o massapé de Itapagipe e lhe inspiraram o nome. No Imbuí não ficou um pé do imbu, ou umbu miúdo, a sua referência de batismo.Águas Claras um dia assim foi chamado pela limpeza das águas do Rio Cascão que hoje é o mesmo Rio Jaguaribe que desemboca, após percorrer um longo trecho porco e mau cheiroso, na Praia de Piatã. Não consta que as águas sejam assim tão límpidas como sugere o nome. O Rio Vermelho também desonrou o nome escurecendo ao longo dos séculos, primeiro adquiriu um tom de mogno, depois cor de vinho, hoje é um rio negro desaguando na praia; bem que poderia ser essa a nova denominação do bairro se levado ao pé da letra, sei que é uma péssima sugestão. Que seja então Rio Vermelho até o final dos tempos. Armação é outro bairro que perdeu sua identidade. Desde o início do século XX que não mais existiam as armações para a pesca da baleia. A luz elétrica tornou desnecessário capturar os cachalotes para deles extrair o óleo fedorento que alimentava os lampiões das ruas e residências. A Baixa de Sapateiros, nome que homenageava os artesãos que fabricavam sapatos, pode ser hoje chamada de Baixa de qualquer coisa, menos de Sapateiros, que se bem próximos alguns no acesso pelo Taboão, definitivamente deixaram para sempre os seus ateliês ou oficinas da rua.E localidades com nome de Fazendas? Algumas mantiveram de sua denominação original um ou outro burro, ou cavalo desgarrado, pastando no meio da rua e nada mais do que isso. Não justifica os nomes de Fazenda Grande, Fazenda Coutos. E a denominação das ruas? Para que Tira Chapéu se ninguém mais usa; para não descaracterizar tanto, então que seja Rua do Tira-Boné, sugiro. E a Rua da Forca? Que coisa mais desatualizada! A verdade é que passou da hora de reinventar o nome de algumas localidades adequando-as à realidade: Praia de Inema passaria a ser chamada de Praia dos Presidentes; Avenida Otávio Mangabeira de Avenida do Carnaval; Parque de São Bartolomeu de Parque do Rio de Espuma; o Parque da Cidade seria o Parque da Bandidagem e a Rua Junqueira Ayres, Rua do Shopping e assim por diante. Por mim, mudava tudo. Deixava apenas Salvador, o nome da cidade. Justifica, é que que apesar dos pesares o Salvador ainda zela por nós.>