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Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2017 às 04:06
- Atualizado há 3 anos
O Garcia guarda algumas das mais antigas tradições carnavalescas da cidade, assim como os bairros de Santo Antônio, Massaranduba, Preguiça e Tororó, territórios onde os tambores já ecoavam no início do Verão, numa intensa movimentação de moradores, nos preparativos para as festas de Momo. A Fazenda Garcia, em particular, foi arena de blocos afros, cordões, escolas de samba e blocos de índios, além da badalada Mudança.O mais antigo bloco carnavalesco do Garcia, de meu conhecimento, foi uma agremiação que foi às ruas pela primeira vez por volta de 1900, denominada Papai Folia, organizado por Timóteo que vivia de ganho na Curva Grande. Logo mais, em 1902, surge Lembrança dos Africanos, fundado pelo encanador Egídio Cândido Maciel e que desfilou até 1905 quando da proibição definitiva de apresentação de blocos afros, através de portaria governamental. Nesse mesmo ano, por coincidência, ou quem sabe uma conveniente metamorfose, surge o bloco a União das Cozinheiras, que teve grande aceitação popular, desfilou por mais de duas décadas, sempre na chamada segunda feira gorda de Carnaval, no horário vespertino. A Lembrança dos Africanos volta às ruas em meados da década de 20 organizado por João Arthur Belchior. E mais tarde (1931) a Fazenda Garcia teria outro bloco afro despontando no bairro: o afoxé Otum Obá de África, iniciativa de João Baptista, motorista da companhia de saneamento da cidade que costumava reunir, em torno de um vatapá servido no preceito, outros cordões do gênero, nas vésperas do Carnaval. Eram eles Africanos em Folia, Lyra Chorosa e Guerreiros da África.Mas, antes disso, final da década de 10, até meados da década de 1920, era no Garcia que o empresário Henrique Lanat, primeiro proprietário de carros da Bahia, mantinha um galpão onde enfeitava com esmero e capricho os seus automóveis para os célebres desfiles de corsos na Rua Chile e Praça Castro Alves. O engenheiro era uma das atrações, dividiu aplausos e prêmios com os carnavalescos Rafael Avena e Teófilo Vasconcelos, durante anos.Ainda na década de 20 nasce, com 60 integrantes de início, um dos mais animados blocos do Carnaval baiano e que deu origem a um bordão popular, propagado na música Dona Flor e Seus dois Maridos, de Antônio Carlos & Jocafi: Deixa a vida de Quelê. Um bloco de travestidos com grande prestígio e por isso era convidado de honra para animar os gritos de Carnaval de outros bairros. Surgem ainda no Garcia, dentre outros blocos, batucadas e cordões que conquistaram o público: Não Tem que Ver, As Gueixas e o Arranca-Tocos e, a partir de 1959, a mais famosa das agremiações carnavalescas do bairro, pela sua longevidade e resistência: Mudança do Garcia.A Mudança, segundo a oralidade, teria sido originada do Arranca Tocos, bloco formado por músicos da Banda da Polícia Militar, após a II Guerra Mundial, que mais tarde passou a se chamar Faxina do Garcia e, a partir de 1959, por iniciativa do vereador Herbert de Castro, Mudança do Garcia; teria sido uma dissidência do outro. Há uma outra versão que remonta às suas origens na década de 1920 e que tem como protagonista o pai de Riachão. Esse, proprietário de uma carroça, teria cedido o equipamento para transportar os trastes de uma prostituta do bairro, expulsa da Rua do Baú. O episódio teria acontecido em meio de grande algazarra e cortejo da garotada do bairro.Antes da Mudança, o samba fazia sua aparição no bairro através do cordão carnavalesco Filhos do Garcia, que surge em 1956 e dele nasce, em 1965, a Escola de Samba Juventude do Garcia, tricampeã do Carnaval baiano no auge dessas agremiações, iniciativa de João Barroso, que trouxe do Rio de Janeiro a expertise das escolas Bafo de Onça e Cacique de Ramos. A Fazenda Garcia seria também o berço de dois importantes blocos de índios na década de 70: Cacique (pioneiro da categoria em Salvador) que surge por volta de 1960 e O Tupy, fundado em 31/1/1972.>