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Nelson Cadena: profanos

  • D
  • Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2014 às 03:46

 - Atualizado há 3 anos

A Lavagem do Bonfim está cada vez menos lavagem, menos sentimento religioso e cada vez mais profana. Alto lá!. O lado profano não são os milhares de baianos e turistas que rendem culto ao álcool e se esbaldam no pagode e no ritmo contagioso do samba das bandas de música, tomam umas, nada errado nessa atitude, tudo vale em nome do Senhor do Bonfim. Não vejo como separar o sagrado e o profano no sentido do que nos convencionamos a admitir e assim nos ensinaram; foi a mídia quem estabeleceu ao longo de mais de um século essa linha divisória cultural.

O sagrado e o profano em festas populares são uma coisa só. Ou vão me dizer que se você bebeu meia dúzia de cervejas, rebolou sempre que uma banda puxou o ritmo, beijou e abraçou os amigos e depois fez absoluta questão de subir a colina e cantou o hino do Senhor do Bonfim e se aproximou das escadarias para receber água de cheiro, vão me dizer que isso não é sagrado? Os baianos e turistas se esbaldam de alegria, mas estão ali com um sentimento de devoção ao Senhor do Bonfim ou a Oxalá e não há nenhuma contradição entre a intenção e o sentimento e o ato de beber, dançar e paquerar. Uma coisa não exclui a outra. Ninguém é tão profano assim, nem tão sagrado assim na vida real para delimitar modelos comportamentais.

Mas, como ia dizendo, a Festa do Bonfim está cada vez mais profana e se você viu alguma contradição neste meu convencimento e o discurso é porque não expliquei direto. O profano não é o povo, nem suas atitudes, seus ritos de festa. Profano sim é a exibição de bandeiras de partidos políticos, sindicatos e outras agremiações que se empenham em transformar a maior festa popular da Bahia num comício, como se a ideologia tivesse a ver alguma coisa com festa ou com sentimento religioso, nem uma coisa nem outra. E eu disse ideologia por generosidade que não é o caso; partidos políticos no Brasil representam qualquer coisa menos ideias no sentido formal. E sindicatos buscam benesses, digamos “compensações” para não ofender a história. O fato é que a poluição de bandeiras e faixas de partidos e sindicatos na festa da lavagem é um acinte à população, um desrespeito com as tradições de nosso povo e tenho para mim que se existe o inferno o Senhor do Bonfim já elaborou uma listinha para o administrador das profundezas  reservar, lá adiante, um lugarzinho fétido e ardido para quem se atreveu a profanar o seu espaço de pagode e devoção. Bem feito! Bandeiras e faixas de proselitismo ou de protesto são intrusas na Lavagem, assim são enxergadas pela população. Somente eles, os mentores dessa injuria, não percebem. Flâmulas partidárias são, de fato, elementos alheios ao que representam as festas populares: manifestações com o mote de um santo de devoção, ou de um fato cívico; energia do povo que invoca, evoca, extravasa. A política tem seus valores ou pelo menos deveria ter e certamente que um deles, o respeito às tradições e sentimento da população, não se coaduna com a invasão de um espaço lúdico que não é o seu e nunca será. Na Festa do Bonfim, observando a invasão do cortejo pelas flâmulas hereges, entendi, de fato, o verdadeiro sentido do P que encabeça as siglas partidárias e que até a dita Lavagem imaginava significa apenas P de Partidos. Estava equivocado. É  P de Profanos.