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Da Redação
Publicado em 9 de setembro de 2016 às 03:44
- Atualizado há 2 anos
Semana passada o Papa Francisco concluiu o processo de canonização de Madre Tereza de Calcutá, em menos tempo do que o previsto, antecipando o processo em três anos, e segundo alguns críticos sem que os dois milagres que balizaram a decisão do pontífice tenham sido de fato comprovados. Um deles, o do brasileiro que teria se curado de tumores malignos no cérebro em 2008. Por essas e outras, e a sempre presente inveja do ser humano, a canonização da freira nascida na Macedônia foi objeto de polêmica.A julgar pelos argumentos dos críticos, doravante, esse processo da comprovação dos milagres será cada vez menos consensual. Num passado bem remoto a ciência não dispunha de condições para confrontar as provas a favor de um milagre e, quando este confronto ocorreu, o argumento da fé era o suficiente para dirimir dúvidas. Também não existia a tecnologia da informação, de modo que os processos de canonização se davam em círculos restritos controlados pela Igreja e não como hoje, num âmbito de abrangência que envolve o mundo inteiro. Naqueles idos, as testemunhas eram interrogadas por juízes da Igreja, hoje também por jornalistas.Procedimentos a parte, o que vale é o conjunto da obra. E a de Madre Teresa de Calcutá está aí para quem quiser ver, no mundo inteiro, através da congregação das Missionarias da Caridade, que criou com essa finalidade, atuante em 139 países. Presente no Brasil, na Bahia, desde 1979 na comunidade dos Alagados. Madre Teresa passou a vida fazendo caridade, tratando de doentes, inclusive do mal de Hansen, na época tão estigmatizado na sociedade; teve uma vida pública exemplar, reconhecida como santa mesmo antes do título oficial. Com certeza teve mais méritos do que muitos santos que não deixaram legado nem comunitário, nem de desprendimento pessoal.Os pecados atribuídos à Santa Tereza de Calcutá pelos seus vários detratores pelo mundo afora dizem mais da intolerância deles do que outra coisa. O escritor inglês Christopher Hitchens, no seu livro lançado em 1995, descreveu a freira como “fundamentalista religiosa”, “agente política”, “pregadora primitiva” e “cúmplice dos poderes seculares mundanos”. Não conheço o livro, mas, expressões como “pregadora primitiva”, ou seja, sem um conteúdo dogmático doutoral e “cúmplice” de poderes seculares dogmáticos, no meu entender desqualificam o autor que se revela preconceituoso.Não menos injustas parecem as críticas de outros que tentaram e ainda tentam, sem sucesso, desconstruir a obra de Madre Tereza. Um desses argumentos, e do qual Irmã Dulce também foi vítima aqui na terrinha, é o da “falta de higiene” e condições sanitárias adequadas para o tratamento dos doentes recolhidos nas ruas e sarjetas de Calcutá. No tempo em que Madre Tereza praticou a caridade, a Índia não era nenhum exemplo de higiene, como não é ainda hoje, muito menos de acolhimento ambulatorial. Exigir da freira padrões sanitários dos hospitais dos países de primeiro mundo é pura implicância. Ela não dispunha de recursos além das doações que ia buscar porta a porta.Madre Tereza mereceu sim a sua canonização, que na prática nada mais é do que um diploma, Na vida real já era santa, consagrada por milhões de testemunhas de uma obra que não é melhor porque é humana.>
* Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às sextas-feiras>