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Nelson Cadena: uma festa sem história

  • D
  • Da Redação

Publicado em 28 de outubro de 2016 às 04:39

 - Atualizado há 3 anos

 Em tempos remotos, nesta época do ano, devotados mestres e marinheiros dos saveiros baianos costuravam velas, retocavam com tinta o casco e o mastro, introduziam pedaços de estofa nos buracos, ou fendas da embarcação, preparavam com esmero os barcos para a grande procissão marítima de 1° de novembro, e da qual não há memória escrita, nenhuma referência na literatura. Sabemos de sua existência em função de documentos que encontramos no Arquivo Público da Bahia, ofícios endereçados às autoridades como era a praxe entre os organizadores de festejos públicos. A festa dos saveiristas foi realizada pela primeira vez em 1850, e o motivo não foi como você deve ter imaginado em homenagem à descoberta da Baia de Todos os Santos, por Américo Vespúcio, embora avaliemos uma relação simbólica no sentido de retribuir à bênção dos santos da terra. Nasceu para celebrar a assinatura da Lei Eusébio de Queiroz, promulgada em 4 de setembro daquele ano e que colocou um ponto final no tráfico de escravos, especificamente no transporte de cativos da África para o território brasileiro. Nos ofícios endereçados às autoridades, os saveiristas sempre evocavam o “aniversário de sua emancipação do tráfico livre do porto”. Era um evento organizado por mestres e marinheiros de saveiros e barcos de propriedade de homens nascidos no Brasil. Nos ofícios endereçados às autoridades faziam questão de exaltar essa característica da nacionalidade. Naquele tempo, o mercado marítimo era denominado pelos estrangeiros, ingleses e portugueses, e esses últimos privilegiavam a mão de obra africana. Alguns africanos tornaram-se proprietários das embarcações. A luta por um espaço social entre os negros e mulatos baianos e os negros africanos tinha no segmento marítimo um campo para contínuas tensões.Esse ponto das tensões entre baianos libertos e africanos infelizmente não tem sido abordado pela historiografia baiana, há um certo receio de enfrentar a questão racial, evidente entre os negros de lá e os negros de cá. Urge abordar este tema por mais espinhoso que pareça para uma melhor compreensão da sociedade baiana no século XIX. Uma das reivindicações dos nacionalistas junto aos políticos era justamente a de quebrar o monopólio de mão de obra africana nas embarcações. Baianos e africanos não se relacionavam, também, em algumas irmandades das igrejas, irmandades exclusivas de mulatos não aceitavam negros.Retomando o fio da festa dos saveiristas, sabemos que os festejos se prolongavam por três dias. No 1° de novembro ocorria a procissão marítima, no segundo e no terceiro, a festa ocorria em terra, no espaço do Cais, onde era montado um coreto ou palanque para apresentação das bandas militares e outras atrações. Era um festejo com as formalidades de outras festas populares, inclusive a exibição no coreto de um retrato do imperador D. Pedro II, como ocorria na festa cívica de 2 de julho, em Salvador, 7 de janeiro em Itaparica e 25 de junho em Cachoeira. Quando acabou e por que acabou o evento de 1° de novembro? Uma das hipóteses a considerar é a reforma e ampliação do Porto de Salvador, com a construção de dois quebra-mares, que durou muitos anos e de alguma maneira interferiu no espaço da festa, transformado-o em canteiro de obras. Outra hipótese é que tenha deixado de existir após a assinatura da Lei Áurea em 1888. Ilações apenas, enquanto não surgirem novas evidências.