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Verdi, o inventor do arrastão no Carnaval

  • Foto do(a) author(a) Nelson Cadena
  • Nelson Cadena

Publicado em 3 de novembro de 2022 às 05:00

. Crédito: .

Foi Giuseppe Verdi, o famoso compositor Italiano de óperas do século XIX, quem ‘inventou’ o “arrastão” de rua do Carnaval da Bahia. Ele e o maestro francês Philipe Musard. Se não se conheceram pessoalmente, um tinha ouvido falar do outro. Foram contemporâneos. Quando o arrastão no Carnaval da Bahia tornou-se uma referência de encerramento da festa, a partir da década de 1990, Verdi e Musard eram apenas referências da composição e execução de música para ópera. Os que reinventaram o arrastão sequer imaginavam a influência dos artistas europeus.

Alguns anos antes do Carnaval de rua de Salvador ter o seu primeiro desfile de agremiações Carnavalescas (1884), a festa, então chamada de Bailes de Mascarados, ocorria nos salões da Associação Comercial da Bahia e em especial no Teatro São João. As máscaras tinham um legado cultural e um propósito de anonimato. Gente fina pôde extravasar na alegria, mas nem tanto assim para ser reconhecida. Nesses bailes descarados, errei na grafia, quis escrever mascarados, o grand-finale ocorria com uma coreografia de arrastão ao estilo de Musard, embalada pelas músicas de Verdi nos trechos acelerados, adaptadas ao ritmo de quadrilhas por um certo professor Eduardo.

“Galope infernal” era como a imprensa baiana denominava as coreografias inspiradas em Philipe Musard. Revolucionaram os bailes de mascarados de Paris, francês já é chegado a uma sacanagem, e no Rio de Janeiro e Bahia, passou a ser a cereja do bolo da programação carnavalesca. No Teatro São João os pares saíam correndo pelo salão, pegavam-se pela cintura, corriam para um lado e para o outro, com meneios de corpo e interpretavam coreografias de arrastão. Eram em torno de 15 minutos de exaltação, o grand-finale que justificava o sacrifício financeiro e o calor e desconforto das roupas fechadas e das máscaras na cara.

As músicas de Verdi eram as preferidas, os trechos acelerados de La Traviata, Rigoletto, Nabucodonosor, com as adaptações do maestro já referido. O músico italiano chegou a ser convidado pelo “Congresso das Sumidades Carnavalescas”, do Rio de Janeiro, primeiro bloco de Carnaval do país, para compor dois hinos específicos para o préstito de rua do grupo. O compositor aceitou a encomenda.

O ritmo de polcas, mazurcas e quadrilhas era o que prevalecia nos bailes de mascarados do Teatro São João, interpretados por uma orquestra da Polícia Militar da Bahia, sob a batuta por muitos anos do maestro Lourenço José de Aragão. “O Carnaval de Paris” era, junto com as composições de Verdi, um dos hits carnavalescos do “Galope infernal”. Os jornais descreviam a composição como “estrondosa quadrilha entremeada de tiros de pistola”. Não estranhe os tiros, querido leitor, fazia parte da sonoplastia delirante de fim de festa que incluía gritos estridentes, tinir de moedas, efeitos de trovões e relâmpagos, estalos de chicote no chão, som de castanholas e o coro de gritos de Ohê! Ohê! Ohê!

Se o arrastão de Carnaval, que mais de um século transcorrido, chegaria nas ruas da Bahia, ao som dos timbales axezeiros como referência rítmica, foi uma marca carnavalesca, a abertura da festa com um longo som de corneta, não foi diferente. Quando o Carnaval chegou às ruas, no final do século XIX, os arautos dos desfiles dos grandes blocos desempenhavam esse papel. Nos anos 50, o toque de clarim era a marca dos Filhos de Ghandi e na década seguinte o toque de gongo de Nelson Maleiro sinalizava o início do desfile dos Mercadores de Bagdá. E em tempos de axé, solos de guitarra, ou apitos, sinalizavam o início dos desfiles dos blocos.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras