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Nelson Cadena
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 05:01
- Atualizado há um ano
Os yankees invadiram a cidade no Carnaval de Salvador de 1943, era fácil reconhecê-los com seus cabelos loiros, olhos azuis da maioria, atléticos; portavam garrafas de whisky na mão e assoviavam para as mulheres que, maravilhadas com os estrangeiros, abriam um sorriso de boca a boca. Não eram turistas convencionais e sim fu zileiros navais que se encontravam na cidade, desde o ano anterior. Um grupo numeroso que praticava exercícios no Solar do Unhão e na base militar de Ipitanga, hoje Aeroporto Luís Eduardo Magalhães.
Os gringos invadiram as ruas e os clubes e alguns desfilaram em corsos. A Tarde noticiou: “Marinheiros do Tio Sam participam do Carnaval baiano” e destacou “Guizos no lugar de bombas”. A reportagem descreveu “os marines, no meio das gurias, para lá de exaltadas” e contou que, já animados pelo álcool, entravam nos cordões “fazendo extravagâncias e passos de suingue, ora com a cadência dos novos frevos e sambas”. Se fartaram de bebidas e lança-perfumes e, na terça feira, o jornal replicou o assunto em manchete, acompanhada de fotos: “Centenas de marinheiros aderiram ao nosso Carnaval”.
Turistas estrangeiros, de fato, o nosso Carnaval só veio ter na década de 1950, uruguaios e argentinos, pequenos grupos que já frequentavam o Carnaval do Rio de Janeiro. Nas primeiras décadas do século XX era inviável o turismo de fora do continente. Até a década de 30 o único meio de transporte para Salvador era marítimo e quando tivemos linhas regulares de aviões, internas apenas, era desconfortável. Os hidroaviões pousavam no mar de Itapagipe e ficavam flutuando aguardando as canoas se aproximarem para recolherem passageiros e bagagens. Fora essas dificuldades, dentre outras, o nosso Carnaval não oferecia grandes atrativos.
O turismo nacional esse sim manteve uma dinâmica própria. Principalmente em função do tráfego intenso de pessoas entre o Rio de Janeiro e a Bahia. Mas foi na década de 50 que ganhou força com a construção do Hotel da Bahia e a ampla divulgação feita nos mercados do sul pelos órgãos de turismo. O Baile do Galo Vermelho - abertura do nosso Carnaval -, um projeto do baiano João Dória, atraía centenas de turistas endinheirados do Rio e São Paulo, que chegavam em voos fretados com esse objetivo. Mais tarde, década de 1960, quando Vasconcelos Maia comandava a Secretaria de Turismo e a divulgação do destino Bahia no Verão era de extrema competência, os turistas estrangeiros já eram presença visível nos bailes de salão e alguns deles nas ruas.
Os argentinos dessa vez vieram em maior número e a prefeitura, empolgada com los hermanos, exagerou na receptividade e botou representantes no júri oficial para avaliar escolas de samba, cordões e pequenos clubes. Sem entenderem patativas de nossa música, coreografias e estética das agremiações, podemos imaginar a qualidade e confiabilidade das notas desses turistas nas planilhas. Porém, é na década de 70 que o turismo de Verão, com o Carnaval como maior atrativo, se consolida. Já tínhamos uma infraestrutura hoteleira razoável, uma boa promoção da Bahiatursa, nos mercados emissores, publicidade e ampla divulgação de nosso Carnaval nas revistas nacionais.
O trio elétrico fazia sucesso, deixando de ser instrumental para ter grandes cantores, atrações como Moraes Moreira e os Novos Baianos, Caetano Veloso e o Trio de Dodô, Osmar e Armandinho. E logo mais teríamos os blocos de trio e com eles empresas organizadas, com foco no marketing e uma estrutura de captação eficiente, atraindo milhares de turistas nacionais e até internacionais para as agremiações com artistas em alta na mídia. Os yankees nunca mais foram destaque na avenida. Ainda bem. A guerra era uma lembrança infeliz.