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Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2012 às 04:29
Vida de torcedor de time pequeno é assim mesmo: viagem longa até o interior, estádio quase vazio, última partida com a corda no pescoço. O rebaixamento no estadual é logo ali, a segunda divisão local é o fundo do poço para time e torcedores que já viram dias melhores, em alguns casos, muito melhores.Na arquibancada, a torcida de time pequeno é uma família, quase todo mundo se conhece, tem aquele encontro semanal durante o estadual e depois fica meses sem se ver. É uma família, geralmente, em fase minguante. Alguns desistem do sofrimento de torcer para perder de pouco dos grandes e ganhar dos seus iguais, da angústia de viver mais um rebaixamento. Outros são alcançados pela morte e não deixam herdeiros na arquibancada. Muitos não consideram justo deixar esse fardo para a nova geração - ninguém quer ver o filho e o neto sofrendo.E, assim, a torcida de time pequeno é uma torcida que envelhece. São muitos cabelos brancos, muitos corações que apanharam muito mais do que bateram nos estádios mambembes dos campeonatos estaduais. São muitas tardes de sol inclemente na testa - porque estádio de time pequeno não tem arquibancada coberta. São tardes de cerveja quase gelada - porque os bares também não têm lá um grande refrigerador. Mas os sobreviventes não reclamam. Tem algo de solidário e de heroico nessa aventura. São tardes de futebol sem briga de torcida, com camaradagem e boas histórias de tempos antigos.Times pequenos também têm algumas - poucas - histórias de glória para contar. No domingo passado, 390 testemunhas estiveram no Estádio do Trabalhador, na cidade fluminense de Resende, quase na divisa com São Paulo, para ver o Bangu - campeão carioca em 1933 e 1966 - enfrentar o time local. O pequeno da capital vivia o cúmulo do paradoxo, por arte dessas fórmulas exóticas dos estaduais de Norte a Sul do país. Se perdesse, o Bangu estava no limbo da segunda divisão do estadual; se ganhasse, garantia a vaga na semifinal da Taça Rio.Sentado na redação do CORREIO, acompanhando a batalha de Resende pela internet, revivo tardes no Estádio Proletário, em Moça Bonita, campo do Bangu, na zona oeste do Rio. De uma quarta-feira que matei aula e vi o Bangu levar de 5x1 do Campo Grande. De uma derrota para o Madureira em que houve até tentativa de agressão ao bandeirinha. Década de 70, tempos tétricos. De um 7x0 no São Cristóvão na década de 80 já com Arturzinho e Marinho, heróis de uma época em que o time foi vice-campeão brasileiro e vice-carioca e campeão da Taça Rio. Naquelas tardes, eu era um jovem testemunha do encontro de velhos camaradas, que ficavam felizes de se encontrar na vitória como na derrota. Imagino como estariam felizes agora - entre sorrisos e lágrimas como eu - se pudessem se encontrar lá em Resende para ver o Bangu fazer 3x0 e chegar à semifinal da Taça Rio depois de 10 anos.>