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Osmar Marrom Martins
Publicado em 26 de julho de 2025 às 11:00
A comoção que causou a morte da querida Preta Gil em todo o Brasil é mais do que justa. Além de mostrar ser uma mulher à frente do seu tempo, enfrentando com altivez todos os preconceitos de cor, gordofobia e opção sexual (ela se considerava bissexual), Preta deu mais uma prova de sua personalidade quando enfrentou, com força e coragem, um câncer que começou no intestino e terminou se espalhando por outros órgãos do corpo. >
Depois de ter tentado todos os procedimentos possíveis no Brasil, ela foi em busca de uma possível solução em Nova York, nos Estados Unidos, num tratamento ainda em fase experimental. Lutou até quando pode, mas acabou não resistindo a essa cruel doença que ceifou sua vida aos 50 anos. Tão jovem e com muitos sonhos a realizar. Mas ela não se entregou e se expôs como poucos.>
Essa atitude trouxe à tona a necessidade de cuidarmos mais de nossa saúde. Até porque, ultimamente, esse tipo de câncer tem atingido muita gente jovem. Tem servido de alerta para os médicos, que querem saber o que tem levado a esse fenômeno. Poucas pessoas teriam a coragem de encarar de frente, mostrando todo o seu sofrimento de forma altiva.>
Mas eu quero lembrar de Preta como eu a conheci. Desde pequena, quando ela ainda morava com seus pais Gilberto Gil e Sandra Gadelha na casa em que eles viveram anos no Costa Azul. Hoje a casa não existe mais. Foram anos inesquecíveis. Eu e meus amigos éramos mais velhos. E Preta uma garota já esperta e com a veia artística. Ela sempre soube lidar com o “palco” desde criancinha.>
Eu já escrevi uma vez quando falei sobre Sandra Gadelha (Drão) que era comum, quando Gil viajava para fazer shows, a gente ir para a casa deles comer caranguejo, conversar bastante. Uma espécie de companhia. Tanto assim que Gil chamava a gente de Jardim de Infância. Era muito divertido e desse tempo guardo boas lembranças. E não era para menos. >
Depois, quando Preta voltou para o Rio de Janeiro, os encontros foram mais escassos. Até que ela cresceu, virou uma empresária de sucesso, produzindo alguns artistas, investindo na realização de vídeos e, em seguida, lançou-se como cantora. Quando lançou seu primeiro disco e apareceu com o corpo natural na capa, foi criticada severamente por pessoas preconceituosas.>
Pensam que ela se deixou abater? Nada disso. A Preta que não levava desaforo para casa não comeu reggae, como a gente costuma falar aqui na Bahia. E assim, enfrentando dificuldade e quebrando barreiras, ela foi se estabelecendo, ganhou o respeito e a simpatia de grandes artistas da MPB como Ivete Sangalo, Ana Carolina entre outros. Sem falar em Caetano Veloso, Maria Bethânia, espécie de tios, e Gal Costa, sua madrinha de batismo.>
O último contato que eu tive presencialmente com ela foi no Carnaval deste ano, no Camarote Expresso 2222. Depois, ela me mandou um exemplar de seu livro autografado. Nunca mais vamos ter a sua presença física, mas ela estará sempre presente nas nossas lembranças. Ela não passou por esse mundo em vão. Descanse em paz, minha Preta Pretinha.>