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Osmar Marrom Martins
Publicado em 2 de agosto de 2025 às 11:00
Baiano de Salvador, 65 anos, o ator e diretor Caco Monteiro, cujo nome de batismo é Claudio Monteiro, comemora seus 45 anos de carreira com um balanço positivo. Além de atuar no teatro e no cinema, ele foi um dos responsáveis pelo Gran Circo Troca de Segredos, que revolucionou as artes e a cultura baiana nos anos 1980. Por sinal, ele está dirigindo o filme “Caiu um circo no olho da cidade - Uma história do Gran Circo Troca de Segredos", que está em fase final de montagem. >
Em conversa com o Baú do Marrom, Caco falou um pouco sobre sua história, seus trabalhos mais marcantes, seus próximos projetos, além de abordar as dificuldades de captação para o setor. “O problema de fazer teatro na Bahia é a falta de visão das empresas de patrocinar o teatro local”.>
BAÚ DO MARROM - Que balanço você faz desses 45 anos de carreira?>
CACO MONTEIRO - O balanço dos meus 45 anos de estrada artística são 30 filmes, sendo três como diretor (“Meio Poeta", curta metragem e dois documentários; “As águas do Rio de Yá Nitinha D’Oxum"; e “Caiu um circo no olho da cidade - Uma história do Gran Circo Troca de Segredos", em fase de montagem) e 27 como ator; 18 participações em TV como ator (séries, novelas, etc.); 20 espetáculos de teatro e 81 comerciais de TV. Dois prêmios em teatro como melhor ator baiano (por "Inspetor Geral", direção de Paulo Conde; e por "Lulu", direção de Marcio Meirelles), um prêmio em cinema como melhor ator no Festival de Cinema de Córdoba, Argentina (por "Radio Gogó", direção de José Araripe Jr.) e um prêmio de melhor ator/nacional de publicidade (com a Campanha dos Postos Br, direção de João Moreira Salles). São 45 anos de muitos trabalhos deliciosos.>
Quais trabalhos lhe marcaram durante esse tempo? >
Foram vários que me marcaram. Primeiro, os três grupos de teatro que fiz parte ("Teatro Livre da Bahia", "Troca de Segredos em Geral" e "Grupo Lanavevá"). O "Teatro Livre” foi onde tudo começou profissionalmente e tive o grandioso ator e diretor Bemvindo Sequeira como mestre. O "Troca de Segredos" foi o meu segundo grupo, onde comecei a ter noção do que é uma produção teatral, com o outro mestre Paulo Conde, ambos aqui em Salvador. E “Lanavevá” foi a minha grande escola de vida, já no Rio de Janeiro sob a regência do mestre Jorginho de Carvalho. Com o “Lanavevá” eu conheci o Brasil (100 cidades) através do teatro com o espetáculo “Porcos com asas”, de 1984 a 1990. Ainda no teatro, tive a honra de trabalhar com Werner Herzog (em "Sonho de uma noite de Verão", de 1992), Nehle Franke (em "Divinas Palavras", de 1997) e Sergio Britto ( em "Poder do Hábito", de 1999). No cinema, com Cacá Diegues (em "Tieta", de 1996), Vicente Amorim (em "Caminho das nuvens", de 2002), Miguel Littín (em "Dawson Isla 10", de 2008), Renê Sampaio (em "Faroeste Caboclo", de 2011), Clovis Mello (em "Divaldo, o mensageiro da paz", de 2019) e Lula Oliveira (em "A Matriarca", de 2022). Na publicidade, com João Moreira Salles e Carlos Manga.>
Quais os prós e contras de fazer teatro na Bahia?>
O problema de fazer teatro na Bahia é a falta de visão das empresas de patrocinar o teatro local. Temos a Lei estadual "Faz Cultura” e uma dificuldade grande de captação. Então, as produções ficam sujeitas a editais municipais e estaduais para poderem realizar seus espetáculos.>
Além do seu trabalho como ator, você atuou como um dos executivos do Circo Troca de Segredos. Como foi essa experiência?>
O “Troca de Segredos” foi minha primeira escola como produtor cultural. Eu era um jovem de 22 anos e aprendi muito com Paulo Conde, que foi o produtor do renomado grupo teatral “Asdrubal Trouxe o Trombone”. O “Troca de Segredos” me deu régua e compasso para entender o que é ser artista em todas as sua camadas.>
O que o "Troca de Segredos" representou para a cultura baiana?>
O “Circo Troca de Segredos” foi um ponto revolucionário para a cultura baiana na década de 80. Era um espaço democrático, onde a arte, o entretenimento e o libido se encontravam. É essa historia que contarei através do meu documentário “Caiu um circo no olho da cidade - Uma história do Gran Circo troca de Segredos”, como uma memória linda e afetiva de uma época gostosa na cidade da Bahia. O Axé Music começou no circo, o rock baiano tinha espaço no circo. O circo foi um espaço de discussões artísticas, políticas e sociais de uma geração. "Vai pra onde? Vou pro 'troca'. Ver quem? Todo mundo". Assim foi o Circo Troca de Segredos.>
Além do seu trabalho como ator, como é sua experiência como diretor de teatro e cinema?>
Eu sou formado em Comunicação Social com Habilitação em Cinema e Vídeo. No cinema, como diretor, tenho um curta metragem ("Meio Poeta"), uma adaptação que fiz de um conto de Luis Fernando Veríssimo; um documentário de média metragem ("As Águas do Rio de Yá Nitinha D’Oxum") sobre minha primeira Mãe de Santo, Yá Nitinha D’Oxum, que foi uma das mais importantes yalorixás do Brasil; e o meu segundo documentário agora sobre o Circo Troca de Segredos, um longa metragem. No teatro, eu nunca dirigi, mas tenho o meu monólogo “Godó, o mensageiro do Vale”, que escrevi e produzi. Estou em cartaz com ele há oito anos viajando pelo Brasil e mundo afora.>
Quem são os atores e diretores que fizeram sua cabeça?>
Eu tenho alguns heróis que admiro no teatro e no cinema. No teatro, Rubens Correa, Sérgio Brito, Bemvindo Sequeira, Chico Anísio, Pedro Cardoso, Jorginho de Carvalho, Márcio Meirelles, Marília Pera, Sônia Braga dentre outros. No cinema, Werner Herzog, Miguel Littín, Cacá Diegues, Vicente Amorim. Monique Gardenberg, Cecília Amado etc. Esses e essas que citei tive a hora de trabalhar junto em cinema e teatro.>
Como você vê a cena cultural da Bahia neste momento?>
Eu sou um ator e produtor que nunca esperou o telefone tocar para poder realizar os meus sonhos artísticos. Sempre fui à luta deles. Isso eu aprendi com o “Troca de Segredos”, pois o circo nasceu da garra de um grupo de sonhadores que foram à luta sem um tostão no bolso. Meus projetos levam anos para serem realizados, pois sempre busquei realizá-los do tamanho que eu podia. Meu monólogo “Godó”, por exemplo, eu escrevi em 2002 e só fui capaz de começar a produzi-lo em 2015. Levei dois anos para conseguir estreá-lo, pois fazia um filme, ganhava um cachê e pagava o diretor, fazia um comercial de tv e pagava o iluminador, fazia uma locução e pagava a cenógrafa e assim fui realizando a produção sem nenhum patrocínio privado, municipal ou estadual. Acho que a classe artística se acomodou aos editais. Fernando Guerreiro está fazendo uma gestão cultural sensacional, como acho que o Bruno Monteiro também esteja realizando um excelente trabalho no âmbito estadual. Ambos com muita competência e preocupados com a democratização da cultura em todos os setores.>
Quais são seus próximos projetos?>
Agora estou finalizando a montagem do meu documentário do “Troca de Segredos”. Estou em cartaz há dez semanas com o filme "A Matriarca”, de Lula Oliveira, nas Salas de Arte. No segundo semestre deve estrear uma série de TV pela TVE e Ancine, na qual sou o protagonista, chamada “Pensão Ludowico”, com direção da Ceci Alves. E meu sonho é realizar meu primeiro longa metragem de ficção chamado “Os três Gays Magros”, uma comédia pra doer de rir. >
Como Caco Monteiro o ator, diretor define o homem Caco Monteiro?>
Eu me defino como um homem de sorte, pois o universo me deu a missão de ser um homem de arte, pois a vida não basta. Trabalho com o que gosto e me divirto com que faço. Sou desses!>