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Paula Theotonio
Publicado em 9 de dezembro de 2021 às 15:40
- Atualizado há 2 anos
Se você chegou neste texto, é porque gostaria de aprender a tomar vinhos e quer saber por onde começar. E se eu tenho UMA certeza sobre este assunto é que há um longo e delicioso caminho a ser percorrido até desenvolver seu paladar; ou, pelo menos, até entender qual o seu estilo predileto e aprender a explorar. >
Só aproveitando essa jornada é que conseguimos compreender as nuances de aromas, sabores, texturas que fazem parte de toda a graça da bebida. “COM OU SEM AÇÚCAR?” Quando alguém me pergunta qual vinho indicaria para quem está começando, gosto muito de fazer uma comparação com o café.>
Dotado de acidez, doçura natural, amargor e – em alguns casos – adstringência, o cafezinho que você toma no seu dia-a-dia pode dar um bom direcionamento.>
Se você só o toma com açúcar, talvez seja ideal começar pelos vinhos finos suaves. A palavra fino indica que estão sendo utilizadas uvas de origem européia, como as conhecidas Cabernet Sauvignon e Chardonnay. >
A classificação suave, por sua vez, indica bastante presença de açúcar. São vinhos doces e macios no paladar, pois o açúcar contido nele ajuda a aliviar a sensação de boca seca que muitos vinhos tintos e secos têm. Não confundir com “vinhos de mesa”, que são feitos com uvas americanas e podem ou não serem doces. >
Há vinhos finos suaves dos tipos branco, rosé e tinto no mercado; bem como frisantes e espumantes bem doces. A Rio Sol, do Vale do São Francisco, tem rótulos suaves bem interessantes; assim como a Terranova, da Bahia, com a marca Vintage. Os espumantes moscatéis, de ambas, são ótimos para iniciantes com paladar mais inclinado aos doces. Do Sul, aposte na elegante linha Naturelle da Casa Valduga. >
Os vinhos importados de piscina — Tous a La Mér, Rosé Piscine, Casal Garcia — ainda trazem o convite para que você coloque gelo na taça e seja feliz nesse calor!>
É interessante pontuar que, assim como no café de baixa qualidade, o açúcar em excesso pode OU NÃO ser usado por vinícolas para mascarar vinhos bem ruins. Outra questão é que essa doçura demasiada não te deixa aproveitar muitas outras dimensões de sabor que a bebida pode ter.>
Muita gente, quando tira o açúcar de um café de qualidade duvidosa, descobre que gosta mais da sensação quentinha e da doçura que do sabor real da bebida. É por isso que o próximo passo pede menos doçura e mais equilíbrio. Se você já está querendo dar um passo à frente ou já não curte tanto dulçor, a próxima etapa pode ser um vinho fino meio seco.>
No Brasil é muito fácil encontrar importados nesta categoria, pois a legislação brasileira categoriza desta forma todos os vinhos que contém entre 4,1g/l de açúcar e 25g/l. Os mais conhecidos são os vinhos italianos da uva Primitivo, da região da Puglia; além de alguns vinhos regionais alentejanos, de Portugal. Há, ainda, muitos espumantes estilo demi-sec no mercado e que cumprem esse papel de serem um meio-termo. >
Mais do que uma preparação para os secos, estes vinhos são interessantíssimas opções para harmonizações com comidas agridoces e até mesmo apimentadas. >
Um lançamento recente e com bastante personalidade é o Dadá, da vinícola argentina Finca Las Moras. Trazida ao Brasil pela Wine e com preços entre R$ 44,90 e R$ 49,90, a marca se inspira no Dadaísmo (movimento artístico) para apresentar rótulos que destacam sensações, em detrimento de clima ou geologia.>
“Falar que o vinho é elaborado em solo de argila não dá referência de sabor ao consumidor. Agora, dizer que tem notas de cacau, faz com que ele sinta o gosto na boca mesmo antes de provar o vinho”, conta a sommelière da Wine, Paula Daidone.>
O Dadá Nº 1, por exemplo, é claramente doce e exala nítidas notas de baunilha. No Dadá Art Malbec, ameixas maduras dividem espaço com aromas com cacau e baunilha. Este último harmonizou muito bem com um hambúrguer de carne bovina e cebola caramelizada. Ambos são bem macios no paladar, o que os tornam ainda mais amigáveis.>
“UM CAFÉ SEM AÇÚCAR, POR FAVOR!” Se você já eliminou o açúcar na sua vida, quer entender mais de uvas e terroirs, mas vinhos secos ainda não descem, talvez o que te incomode no vinho sejam os taninos. >
Cientificamente falando, eles são polifenóis que existem como mecanismo de defesa natural em muitas plantas. Nas uvas, se encontram nas cascas, sementes e engaços. >
Taninos têm um sabor amargo e adstringente; e nos vinhos, quando em excesso, causam na gente uma sensação de boca travada, assim como o caju. Em equilíbrio, ajudam a dar corpo e estrutura para a bebida, transformam tintos em pares perfeitos para carne vermelha; além de permitirem maior envelhecimento. Vinhos de Pinot Noir em todo o mundo; Cinsault e País/Missión dos vales chilenos de Itata e Bío-Bío, vinhos feitos com a uva Gamay, como Beaujolais; as uvas italianas Barbera, Dolcetto e Corvina (este último, base dos Valpolicella).Quem tem essa sensibilidade maior deve escolher vinhos feitos com uvas que naturalmente não têm tantos taninos. >
Outra reclamação comum é quanto à acidez elevada em alguns vinhos brancos, como Sauvignon Blanc. A sensação é de um leve incômodo no fundo da boca, perto do osso maxilar, com pequenas variações. Essa característica, quando bem trabalhada no vinho, ajuda a dar frescor à bebida e a transforma em excelente acompanhamento para comidas mais gordurosas ou igualmente ácidas.>
Para evitar acidez alta, fique longe de uvas como Alvarinho, Riesling e Chenin Blanc; e aposte em vinhos brancos elaborados com Chardonnay do novo mundo (principalmente os amadurecidos em carvalho); Semillon e Gewurztraminer. Depois disso é só explorar. Busque variar uvas e regiões, leia sobre estilos de enólogos e troque ideia com quem também gosta da bebida. O curioso é que por mais que você deixe de ser um iniciante, você nunca vai deixar de aprender com o vinho! >