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Paulo Leandro
Publicado em 14 de dezembro de 2022 às 05:08
Tudo é política, imbecil! Um Machiavelli deselegante talvez destratasse um destes tantos interlocutores idiotas, incapazes de elaborar um pensamento completo, digno, independentemente do grau de escolaridade.>
Pois a semifinal Marrocos x França deixa de ser um jogo e alcança a dimensão de um conflito, cabelo de um, cabelo de outro, tendo os marroquinos conquistado sua independência apenas em 2 de março de 1956.>
Vamos combinar ser o povo berbere, um dos mais antigos do Magrebe (Norte da África), nenhum bestinha e também andou atacando a Península Ibérica, de onde foi rechaçado por Portugal e Espanha, atracando-se por mil anos.>
Como a vida imita a Copa, Marrocos eliminou os espanhóis, depois despachou os portugueses, e hoje fará a cobra sair do cesto e subir para picar os franceses, servindo a bola de poder simbólico para corrigir a história.>
Os marroquinos terminaram assimilando os erros dos senhores da guerra e ocuparam o Saara Ocidental, na cara dura, sinal evidente de não existir santinho quando se trata de gente com arma na mão.>
Os territórios conquistados pela turma boazinha cristã, à base do uso de canhões (matadeiras), deixaram suas cicatrizes entre os marroquinos.>
Agravaram-se no século XX as mágoas semeadas por este vício da guerra, embora somente a Rússia, ao ocupar recentemente a Ucrânia, seja tida como malvada; perto da coleção de agressões dos franceses os russos são tchutchucas.>
Ressentem-se os inventores do delicioso cuscuz marroquino da xenofobia contra a presença deles na Europa hoje, acrescida do racismo e islamofobia, mas só passam na televisão as mulheres vestidas de burka, que horror.>
Não apenas o Marrocos, mas a Argélia, onde a degola era prática comum dos franceses contra ativistas pela independência, e a Tunísia, não têm como esquecer do terror causado pelos europeus.>
Chega desta Copa reaça repetir a ordem mundial na qual os países felizes por causa da extração das riquezas dos africanos contrastam com a miséria dos espoliados, deixando um rastro de destruição. Desde 2006 só dá europeu campeão. Basta.>
Jogando toda remendada, sem Pogba, Kanté, Benzema, mesmo assim a França tem Mbappé e Griezmann, mas poucos lembram da invencibilidade do Marrocos, super bem protegido na fortaleza defensiva, com Alá no comando do ataque.>
Faria bem ao mundo uma chacoalhada pelo caminho da linguagem mais universal, a da bola, Marrocos campeão, o mundo árabe e a África, enfim, comendo um pedacinho deste bolo, poderíamos pensar melhor sobre o convívio da espécie.>
Os marroquinos jogaram com o padrão da Portuguesa de Desportos contra Portugal e assim ganharam minha simpatia, por ser fã da Lusa, do tempo de Badeco, Enéas, Tatá e Xaxá, treinador Otto Glória, inventor dos triângulos móveis.>
Daí, apostar com qualquer um de vocês, na classificação dos berberes, valendo a transferência por pix, uma oncinha para alegrar, chega de tanta Europa mandando, invadindo, matando, enriquecendo, enquanto sofrem os países de menor força.>
E vê se não esquece, leitora e leitor desta coluna: Tudo é política, imbecil! Marrocos x França não é um jogo, mas uma profecia de Maomé a ser cumprida, com a derrota dos infiéis ocidentais e o começo da devolução de uma roubalheira de séculos.>
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.>