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Paulo Leandro
Publicado em 8 de junho de 2022 às 05:08
- Atualizado há 2 anos
Uma competição torna-se tanto mais interessante quando medem forças times de capacidade equilibrada, como parece ser o bom exemplo desta noite, no clássico Bahia x Sport. Não atrase o dinheiro da pensão da criança, mas se precisar, tome algum emprestado (menos a banco). Se o condomínio já levou o último centavo, se vire. E este mês tem São João, Jah há de prover!>
Nestas condições de distribuição de energeia (atividade) e dinamys (ser forte), torna-se mais presente a sensação do princípio agonístico, comportamento social relacionado à luta, a base de toda e qualquer disputa, cujo objetivo é vencer o adversário.>
O agon, de onde vem a expressão "agonístico", entre várias outras palavras da língua portuguesa, nasce na dramaturgia grega clássica, primeiro como combate verbal dos personagens em cena, no teatro pioneiro.>
Professor Guto quer 33 mil pagantes, enquanto o docente rubro-negro também já se pronunciou, reafirmando a consistência de sua defesa, a articulação do meio-campo em um formato “losango”, além de sua orientação para os homens de frente permanecerem em incessante apetite de gol.>
Dentro de campo, o comportamento agonístico correspondente ao do jogador assemelha-se ao dos animais não-humanos, considerando o contato físico aspecto fundamental. Trata-se de um jogo agressivo, cujo excesso de cuidados vem tirando o sabor das divididas: o juiz tem de dirigir assembleias desnecessárias, qualquer encostadinha, o jogador cai-cai.>
A mercadoria precisa ser protegida, mas tornou-se péssimo hábito cair em campo, alterando o efeito de lances antes tão corriqueiros.>
Embora o mundo possa ser interpretado como "movimentação" e "mudança", a depender do pressuposto conflituoso, o planejamento não deve ser superdimensionado. Quando a bola rola, é provável toda a proposta ou uma grande parte dela sofrer a erosão inevitável da tal de “realidade”, conceito muito difícil de dizer, mais complexo a cada tentativa de definição.>
Também não se pode garantir de o futuro repetir o passado, portanto bom retrospecto e ótima campanha são geradores de pautas para nós, jornalistas, mas não passam de projeções de como as equipes vão se comportar. É muito comum um time negar toda a expectativa dos especialistas.>
Esta característica do futebol, ao aproximar-se da vida como ela é, faz deste esporte o mais imprevisível, tem a bola na trave, o impedimento mal marcado, o pênalti invisível a quem manipula a tecnologia do VAR, o gol espírita, quando a bola bate na canela do zagueiro e desvia, enfim, são infinitas as possibilidades de um lance fortuito mudar a história de um jogo.>
A racionalidade do VAR, como tentativa de controlar a natureza do jogo, vem tirando um dos temperos mais importantes do futebol, a crença no erro como capaz de modificar o andamento do duelo, sem quebrar o ritmo, além de produzir combustível para resenhas intermináveis.>
É como se a tecnologia, em si, substituísse a consciência e a capacidade do árbitro, em uma tendência quase mágica de alcançarmos a perfeição, fazendo o futebol aproximar-se do remo, do basquete e até do hipismo, com o uso do retrato de qual cavalo passou a marca primeiro, em caso de dúvida. Vamos ver um jogão de bola, Bahia x Sport ‘Ricife’!>
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.>