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A falta de leitura prejudica a política brasileira? Eis a questão

Leia a coluna na íntegra

  • Foto do(a) author(a) Rodrigo Daniel Silva
  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 28 de outubro de 2025 às 05:00

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Pesquisadores temem que, ao perder o hábito de ler prosa complexa, percamos também a capacidade de desenvolver ideias complexas Crédito: Imagem gerada por IA

Amigos, uma reportagem publicada no início do mês passado pela revista britânica The Economist - uma das mais prestigiadas do mundo - levanta uma provocação instigante: o declínio da leitura tem deixado a política mais burra? O texto mostra que tanto crianças e adolescentes quanto adultos estão lendo cada vez menos, e a situação se agrava nas faixas de renda mais baixas.

Segundo a revista, nos Estados Unidos, o número de pessoas que leem por prazer caiu dois quintos em 20 anos, conforme estudo publicado na iScience em agosto. No Reino Unido, o instituto YouGov descobriu que 40% dos britânicos não leram nem ouviram um único livro em 2024.

No Brasil, o cenário é ainda mais grave. A 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada no ano passado, revelou que 53% dos entrevistados não leram sequer parte de uma obra nos três meses anteriores à pesquisa. Foi a primeira vez, na série histórica, que a maioria dos brasileiros se declara não leitora.

Se considerarmos apenas quem leu livros inteiros no mesmo período, o número cai para 27%. O levantamento também mostra que 81% dos brasileiros usam o tempo livre na internet, enquanto apenas 20% dedicam esse tempo à leitura.

Alguns atribuem a apatia intelectual moderna ao alto custo dos livros ou ao fechamento de bibliotecas. Mas, como observa The Economist, os livros nunca foram tão acessíveis - as vendas online e as versões digitais reduziram significativamente os preços.

A reportagem alerta que a perda de sofisticação literária pode levar à perda de sofisticação política. Para ilustrar, analisa discursos parlamentares britânicos, que encolheram um terço em uma década, e quase 250 anos de pronunciamentos presidenciais americanos. Enquanto o discurso de George Washington exigia um nível de leitura equivalente à pós-graduação, o de Donald Trump tem nível de um estudante do ensino médio.

Pesquisadores temem que, ao perder o hábito de ler prosa complexa, percamos também a capacidade de desenvolver ideias complexas e aquelas que “permitem ver nuances e sustentar dois pensamentos contraditórios ao mesmo tempo”.

No Brasil, não há estudos semelhantes sobre o nível dos discursos, mas a decadência é evidente. Basta assistir a uma sessão da Assembleia Legislativa da Bahia ou de qualquer Câmara Municipal para notar a pobreza franciscana dos discursos. A sofisticação desapareceu. No passado, havia políticos reconhecidos pela qualidade de seus textos - como o ex-deputado Barbosa Romeu.

Na política nacional, a situação é igual. Já tivemos, com seus defeitos e virtudes (que não julgo aqui), figuras como Carlos Lacerda - um ex-governador que chegou a traduzir do inglês para o português a peça Júlio César, de William Shakespeare. Hoje, o que se vê nas tribunas do Congresso é, em boa parte, avacalhação.

E fica a pergunta: se até a elite política começa a tratar a leitura como algo irrelevante, para onde estamos indo?