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Aninha Franco
Publicado em 8 de novembro de 2014 às 04:27
- Atualizado há 3 anos
O ourives do Ouro Negro: O Theatro XVIII foi, depois das festas de largo da cidade da Baía, o único lugar onde eu vi a Bahia conviver. Era, como a voz de Maria Bethânia repetiu centenas de vezes, em áudio, “um lugar onde pretos e brancos, ricos e pobres, comunistas e capitalistas” dividiam o mesmo espaço porque todos podiam e desejavam. Em nome desse milagre de difícil repetição, Rita Assemany e eu saímos da zona de conforto das fartas bilheterias e enfrentamos a burocracia e o desamparo dos patrocínios que, em 2007, tornou-se mais difícil do que era para os >
Sempre Dissonantes, antônimo quase perfeito do Coro dos Contentes. >
Perseguido por Márcio Meirelles, secretário de cultura, que via no sucesso do XVIII, espaço público, uma ameaça ao seu negócio particular, o Teatro Vila Velha, o XVIII definhou com o governo de todos nós, depois de ter criado, em 2000, o teatro para todos. Mas tudo foi tentado para evitar sua desmontagem, como encontrar Darcles Andrade, responsável pelos patrocínios da Petrobras no Nordeste. Quando chegamos na sede da empresa, Pituba, emocionamos com o porteiro que parabenizou o XVIII, seu teatro predileto. Mas, em seguida, na sala de Darcles, o encanto se desfez quando o ocupante de um cargo tão essencial ao Nordeste desconhecia o XVIII, Assemany e eu. Mas, como? Nós perguntamos. >
Como o responsável pelos patrocínios do Nordeste com sede na Bahia desconhece o Theatro XVIII? Ricardo Bittencourt, ator fundador de Los Catedrásticos, grupo atuante e conhecido por todas as Bahia.s, me contou que ouviu de Darcles, com orgulho acentuado, que ele nunca em sua vida assistiu um só espetáculo de teatro. O.k. Mas esse perfil monstruoso não explicava porque Gabrielli, presidente da empresa, à época, fez isso com a Bahia. Até que Youssef, Paulinho e, por último, uma matéria na edição do jornal O Globo “Gerente da Petrobras é dono de postos que têm contratos milionários com prefeituras.” (2.11.2014), esclareceu tudo. Darcles nunca foi ao cargo cuidar de arte ou entretenimento que interessem à sociedade. Foi fazer negócios suspeitos com a família e para companhias presumidas, o que, em principio, põe sob suspeita todos os patrocínios da Petrobras no Nordeste. >
Secos & Molhados: De 1549 a 1989, a dissonância brasileira foi tratada com requintes de crueldade. A descrição da sentença de Tiradentes, os relatos das torturas dos presos políticos na Colônia, de Getúlio Vargas, ou da última ditadura republicana (1964-1989) são inimagináveis numa sociedade civilizada: empalamento, afogamento, asfixia, choques elétricos. Ainda se praticam essas ações bárbaras em Pedrinhas e Lemos Brito, mas contra a dissonância opinativa o martírio é de calamento. Pedidos de abaixamento de tom com saídas honrosas de Antônio Risério e Aninha Franco em A Tarde, na Bahia. Demissões de Eliane Cantanhêde e Fernando Rodrigues, ambos da Folha de S. Paulo, e outras que devem estar tentando calar esse Brasil continental. Como “imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados.” (Millor Fernandes) prevê-se o funcionamento de muitos secos e molhados nos próximos anos. NOTA DA REDAÇÃOOs artigos publicados no CORREIO são responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião do jornal. O CORREIO preza pela liberdade de expressão e de opinião>