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Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2018 às 02:46
- Atualizado há 2 anos
Estou no fim da manhã de sexta-feira, 6 de abril, manhã de tensões. Depois de um percurso jurídico acidentado, o líder político mais famoso do Brasil, o pop star Lula da Silva, teve sua prisão decretada para a tarde de hoje. Os movimentos sociais ameaçam, o Partido dos Trabalhadores promete que Lula não se entregará. É um dia propício às reflexões de amanhã, sábado, sobre os sonhos coletivos, esses que se parecem tanto entre si e raramente se tornam realidade.>
Vários trechos do Evangelho de Mateus se encontram nos discursos dos guerrilheiros dos Anos 1970, nos textos de Marx e Engels do Século 19, na poesia de John Lennon, nas promessas lulopetistas do final dos 1980, início dos 1990. Todos eles esbravejaram que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino do Senhor. Na terra, o Vaticano detentor dos direitos autorais dos evangelhos está podre de rico e sempre dá menos do que guarda. Os textos de Marx e Engels fracassaram na Rússia, em Cuba, na China (?). O lulopetismo enriqueceu líderes da guerrilha dos anos 1970, José Dirceu como exemplo, e centenas dos profetas sindicalistas que assim que chegaram ao poder passaram a comprar agulhas, camelos e humanos esquecidos que a questão era ser e não ter.>
E o desejo de ter, essa febre, se multiplica sem parar, produzindo ricos em todos os estamentos humanos depois de demolido o juízo estúpido de que existiam humanos melhores que outros, escolhidos por Deus, ou nascidos com sangue azul. A lenda do sangue azul persistiu até a Revolução Francesa quando Luiz XVI e Maria Antonieta, os reis, foram guilhotinados na Praça da Concórdia e milhares de franceses viram, ao vivo e em cores, que seus sangues reais eram vermelhos como o sangue dos servos.>
De lá pra cá, a humanidade vem investindo pesadamente no entendimento de que ter azula o sangue e, no Brasil, onde ser nunca mereceu muito respeito, ter ou não ter é quase uma questão existencial, de se eu tenho eu sou. A questão é que, para ter, por aqui, desde o início, sempre houve o saque à coisa pública, sem que os saqueadores fossem importunados pelas construções de fortunas inconcebíveis de construir-se com funções públicas.>
Em 2014, a Lava Jato iniciou um combate à construção dessas fortunas como primeiro projeto ofensivo à corrupção no Brasil, que está corrompido em toda sua pirâmide, e onde ser honesto é exceção e deixar-se corromper é regra geral. A prisão de Marcelo Odebrecht, em 2015, mostrou que a República de Curitiba não brincava. Sua continuidade por três anos esclareceu que ela não era frágil. E a prisão de Lula ilustra isso, agora.>
Porque Lula foi um sonho, um dia, de milhares de brasileiros, como eu, de fazer do Brasil um país de políticos sem propriedades construídas com o erário, um país governado sem ganância, combatendo a miséria com educação. Foi um sonho fracassado apesar de nós, os sonhadores, termos transformado suas promessas em possibilidade, levando-o ao poder. Lula traiu o sonho. Este sonho acabou.>
Agora é hora do Brasil se reinventar e acreditar no sonho, outra vez, todos juntos, porque “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade.”>