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Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2014 às 03:44
- Atualizado há 2 anos
Ele atuou por Bahia e Vitória. Jogou na Série A, suou na segundona, penou na terceira divisão e viveu as tensões da Copa do Brasil. Com grande movimentação e bastante versátil, deixou zagueiros no chão, deu canseira nos volantes, cobriu a subida dos laterais, apertou meio-campistas e botou muito atacante na cara do gol. Depois de anos no auge, perdeu espaço, mas seus feitos jamais serão esquecidos por quem acompanha o futebol baiano. Refiro-me, óbvio, ao finado Casquinha de Siri (um minuto de silêncio).>
Engolida pelo implacável processo civilizatório, a casa de shows de Piatã foi posta abaixo esta semana, para tristeza de incontáveis frequentadores que agora ecoam a própria dor pelos becos da primeira capital do Brasil.>
A justificativa oficial da prefeitura é bonita: os empresários deviam até as calças ao município e a área será aproveitada na revitalização da orla. O que não se divulgou até agora foi o verdadeiro motivo: só a demolição do Casquinha poderá salvar a dupla Ba-Vi.>
Que ninguém faça troça porque o assunto é sério. Está provado que os dois clubes estão à deriva, em vias de afundarem abraçados no Campeonato Brasileiro. Então, a única (e dolorosa) saída foi botar no chão qualquer coisa que pudesse roubar a atenção dos jogadores. Sobrou para o já saudoso Casquinha de Siri Drinks e Tira-gostos, como indica a razão social.>
Ultimamente, o bar atendia por Bali Beach Club, uma praiana americanização que não conseguiu afastar do espaço alguns dos seus habituès: zagueiros técnicos, volantes que sabem jogar, atacantes de beirada e centroavantes brigadores, que ali se misturavam a pagodeiros de carteirinha, playboys deslumbrados, bêbados mofinos, solteiros em despedida, bandos de gringos e prostitutas – muitas delas.>
De uns anos pra cá, a maioria dos jogadores que aporta na Bahia fixa residência pelas bandas de Lauro de Freitas. Mas, houve um tempo em que quase todos moravam ali por Piatã, alguns até com vista para o Casquinha. Então, caíam na farra como quem vai à esquina comprar pão. Cumprimentavam garçons com intimidade, mantinham conta aberta, bebiam com vontade e se envolviam com as simpáticas moças sem qualquer pudor.>
O Casquinha reinava entre os boleiros. Junto com o Lagoa Mar (Ladroa Mar?), Bate-Papo e Estação da Cerveja, chegou a formar um quarteto fantástico (ou seria um quadrado mágico?) da noite soteropolitana. Rodada após rodada, era certa a presença de boa parte do elenco de Bahia e Vitória. Havia também os atletas (?) que, depois de passarem por um dos dois clubes, faziam de tudo por uma liberação de seus times após uma partida em Salvador só pra dar uma chegadinha por lá.>
Aí, esquecidas as caneladas e os gols perdidos, todo mundo ralava o tchan, descia na boquinha da garrafa e pegava no carrinho de mão (padá!). Tudo, é claro, com muita discrição. Detalhe relevante: mesmo fiel ao templo da sacanagem, a boleirada de uns anos atrás jogava bem mais que a atual.>
Ainda que estivesse em declínio, o espaço matinha alguma mística. Uma fonte deste abatido repórter garante que, depois de golear Portugal na Copa do Mundo, a delegação da Alemanha teve direito a uma festinha particular na Bali Beach, com muitas, muitas mulheres. À época, evitei escrever sobre isso porque não vi uma foto ou vídeo que atestasse a aventura germânica. >
Escrevo agora porque, passado o trator, a farra dos campeões do mundo se junta a outras incontáveis anedotas do velho Casquinha, todas flutuando entre o fato e o mito, o real e o imaginário, a fantasia e o concreto.>
As saborosas histórias, assim como a Fortaleza de Piatã, agora são somente memória e pó. Foi-se o Casquinha. Alívio nas arquibancadas, tristeza em campo. #Luto.>