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Wendel de Novais
Publicado em 29 de abril de 2020 às 19:48
- Atualizado há 2 anos
A família de Domingos Alves Moreira, 74 anos, que morreu vítima do novo coronavírus, agora convive com a possibilidade de familiares e amigos presentes no velório terem sido infectados.
O idoso teve seu corpo velado em um caixão aberto na cidade de Itapetinga, no sudoeste da Bahia, contrariando as recomendações dos órgãos de saúde e a determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Nestes casos, sepultamentos de vítimas do coronavírus, tanto em casos suspeitos como confirmados, devem ser realizados com caixões lacrados e sem aglomerações de pessoas, para evitar contato com o corpo e possíveis contaminações.
Segundo o neto do idoso, Felipe Fernandes, 22, o velório não seguiu as recomendações porque a família não recebeu nenhuma orientação da Secretaria Municipal de Saúde de Itapetinga e não sabia da recomendação de realizar o velório com o caixão fechado.“Não recebemos orientação da Secretaria de Saúde antes de velar. Quando já estava acontecendo o velório, eles entraram em contato e perguntaram se estava velando com o caixão aberto ou fechado”, contou o neto.Ao CORREIO, o secretário de Saúde da cidade, Hugo Sousa, alegou que existe um decreto da Prefeitura de Itapetinga que orienta os cidadãos sobre os cuidados que devem ser tomados durante os velórios e sepultamentos destes pacientes. “Foi publicado um decreto que lista os cuidados necessários com o corpo de pessoas confirmadas ou com suspeita de coronavírus”, disse.
O secretário também explicou que o cemitério onde o corpo foi velado é particular e as precauções necessárias deveriam ter sido tomadas pela própria funerária que realizou o velório. “Como o cemitério é particular, e não municipal, nós só ficamos sabendo na hora que o velório estava acontecendo com o caixão aberto e notificamos a funerária”, pontuou Hugo Sousa.
Procurado, José Mauro, gerente da Pax Perfeição, funerária responsável pelo velório, informou que o procedimento foi feito de acordo com as normas presentes no decreto divulgado pela prefeitura e disse não saber se o caixão foi aberto pelos familiares. “Tudo que fizemos nesse processo respeitou o decreto. Só não sei te dizer se o caixão foi aberto depois”, afirmou.
Apesar da afirmativa da empresa, Felipe contou que a funerária disse aos familiares que o caixão poderia ser aberto normalmente, caso a família autorizasse. “Eles disseram que só podia se a família autorizasse. A família abriu, velou e sepultou normal, mantendo contato com o corpo". Filhos, netos e a esposa do idoso participaram do velório, que durou cerca de 30 minutos por orientação da Pax Perfeição e da Guarda Municipal da cidade.
Todas as pessoas presentes no velório, segundo a Secretaria de Saúde de Itapetinga, estão sendo monitoradas pela equipe epidemiológica do município. Um dos filhos de Domingos está com suspeita e fez o teste para coronavírus. O resultado deve sair nos próximos dias. Tanto familiares quanto a pasta não informaram o número de presentes na cerimônia. O CORREIO também procurou a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), mas não obteve retorno.Riscos A infectologista Melissa Falcão explicou ao CORREIO que é arriscado vítimas de covid-19 com caixão aberto porque, mesmo após o óbito, o paciente infectado ainda pode transmitir o vírus para pessoas que entrem em contato com o cadáver.
“O corpo ainda pode armazenar o vírus depois do óbito e transmitir a doença para outras pessoas através da secreção. Os familiares não devem entrar em contato com o corpo mesmo após a morte do paciente”, afirmou.
Por se tratar de uma doença nova, a medicina ainda não sabe precisar por quanto tempo após a morte a vítima da covid-19 carrega o vírus ou pode infectar quem entre em contato com o corpo.
* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro