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Vinicius Nascimento
Publicado em 16 de setembro de 2022 às 05:30
Periperi, Engenho Velho da Federação, São Tomé de Paripe, São Caetano, Bairro da Paz e Cali. Isso mesmo: Cali, a cidade colombiana. Foi lá onde nasceu Jery Daniel, 16, uma das modelos que participou da última seletiva de bairros do Afro Fashion Day, que aconteceu nesta quinta (15), no bairro de Periperi. >
Nascida em Cali, ela veio para Salvador há seis anos, com a mãe brasileira e hoje vive no Alto das Pombas. Desde pequena, sonha em ser modelo: pegava o salto da mãe e desfilava dentro de casa. Viu no evento realizado pelo CORREIO a oportunidade de se projetar. Ao todo, 66 modelos participaram da seletiva e o tom desse último evento foi o da esperança. >
No dia 28 de setembro acontece a final, quando os jurados vão escolher as novas caras da passarela mais negra do Brasil. A seletiva com mais participantes foi a primeira, no Vale das Pedrinhas, com 85 modelos no Centro Cultural Ganga Zumba. O segundo dia contou com 44 aspirantes, que foram até a Escola de Capoeira Mundo Negro, em Itapuã. Ao todo, 191 modelos estiveram nas seletivas. O júri vai reunir os melhores avaliados na grande final, em local que será anunciado em breve. O Afro Fashion Day não inclui desfile de crianças. 62 candidatos participaram da última etapa da seletiva (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Curador do projeto, Fagner Bispo comemorou a receptividade e a quantidade de modelos tentando a sorte nesta edição do AFD. Ele confessa que será difícil escolher os nomes e diz que poderia muito bem fazer toda a passarela com a galera que participou dos castings nos bairros. Fagner diz que os jurados buscam atitude. Eles olham bem quem desfruta da oficina de passarela ministrada por Jonas Bueno, CEO da Focus Modas, e os bate-papos com Pepê Santos, da One Models.>
“É muito bom poder voltar assim. Fizemos dois anos no modelo virtual pelo Tik Tok e foi um sucesso. Mas estar aqui presencialmente com esse contato, olho no olho, podendo ouvir tantas histórias e sonhos. É disso que o Afro Fashion Day é feito”, disse. >
Cozinheira e moradora de São Tomé de Paripe, Larissa Almeida, 24, comemorou que o projeto vá aos bairros em busca de novos talentos e ofereça diversidade de corpos. “Como uma mulher gorda, eu fico feliz de ter sido inspirada por mulheres que já desfilaram nessa passarela e por poder inspirar outras mulheres como eu que sou preta, gorda, lésbica e candomblecista. Tenho fé nos Orixás que vou ser aprovada”, vibrou.>
Neste ano, o tema do Afro Fashion Day será a Capoeira. Por isso, as seletivas foram feitas em parceria com espaços culturais e escolas de capoeira dentro dos próprios bairros. Quem fechou a tríade foi a Escola Guritá, que funciona na Associação 8 de Maio e nasceu no Conjunto Guerreira Zeferina, em Periperi, quando o local ainda era conhecido como Cidade de Plástico.>
O professor Carlos Trenel (@carlossalesti, @inovacomunidade.zeferina) explica que cerca de 30 crianças são atendidas pelo projeto social, que também oferece aulas de informática, computação, robótica e poesia.>
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"Aqui, a gente cria o maior número de oportunidades possíveis para essas crianças que vêm, muitas vezes, de uma situação de vulnerabilidade social. Ficamos muito felizes de participar do Afro Fashion Day porque só vem para somar esforços e ainda mexe com uma coisa tão importante como a autoestima", disse o professor.>
Gerente de Economia Criativa da Prefeitura Municipal de Salvador, Yuri Dias explica que eventos como o Afro Fashion Day fazem parte de um grande movimento que já existe na cidade e a Prefeitura vem fazendo esforços para organizar e gerar mais oportunidades de emprego e renda aos soteropolitanos: o da economia criativa.>
"Temos a missão de apoiar eventos com o Afro Fashion Day, o Afropunk; de instalar equipamentos na cidade como o Doca 1, onde a gente reúne cultura, moda, games; os espaços Boca de Brasa, que estamos com o edital aberto para oportunidades de capacitação nessa área de criatividade. Tudo isso engloba essa cadeia gigante que já acontece na cidade e, agora, queremos organizar esse grande movimento e gerar oportunidade para todo mundo", disse o gerente.>
Tentando participar da passarela pela terceira vez, Layonel Simões, 31, repetiu o seu mantra para mostrar o quão confiante está: "eu quero, eu posso, eu consigo". Morador de Periperi, ele ficou feliz pela possibilidade de fazer o casting em seu bairro e falou sobre o quanto essa ida até os locais é importante para abrir mais oportunidades.>
"Muitas vezes o modelo só precisa de uma oportunidade, mas não pode se deslocar, não tem dinheiro sequer para uma passagem. Sendo mais perto de casa, quem sabe a gente não encontra uma joia?", contou sorridente.>
O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com o apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio do Shopping Barra.>