Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2021 às 08:34
- Atualizado há 2 anos
Baseado no livro História Preta das Coisas, de autoria da professora e doutora Bárbara Carine, a Escolinha Maria Felipa vai lançar, na próxima sexta, sua Feira de Ciência voltada a produções científicas africanas. O livro tem 50 invenções de pessoas negras, conecta os alunos e alunas, seus responsáveis, familiares e a instituição em um engajamento frente aos conhecimentos e construções africanas.>
Batizada de Afrotech, a ideia da Feira é descortinar coletivamente sobre conhecimentos pautados em saberes ancestrais e afrodiaspóricos, em um momento em que a escola traz as famílias para protagonizar com seus filhos e filhas um diálogo importante para a sua afroformação, faz com que as crianças associem a ancestralidade à potência e não ao escravismo. >
"Elas passam a compreender na prática que pessoas negras são igualmente intelectualizadas, portanto, igualmente humanas e começam a acessar uma história outra que não a história única brancocêntrica e eurocêntrica. Além disso, as crianças brancas passam a reconhecer e valorizar a potencialidade das pessoas para além do seu círculo étnico-cultural", diz Bárbara Carine, idealizadora e consultora pedagógica da Escola. (Foto: Divulgação) Diante da pandemia o Covid-19 e todo o período de reclusão vivido pelas crianças e suas famílias, o projeto foi pensado para integrar também o acolhimento. Aquilombar. Após retorno às aulas presenciais há um mês, desde 30 de agosto, a instituição desenvolve essa ação para fortalecer a subjetividade altiva e positivada do povo negro, a empatia, responsabilidade e conscientização racial de não negros, assim como trazer a tona a leveza da convivência de forma coletiva.>
Para Maju Passos, sócia e gestora da Maria Felipa, em um momento que mundialmente todas as pessoas re-aprendem a conviver, em meio a tantas medidas de proteção, é importante que esse tipo de ação aconteça para promover e estimular todas/os/es que enfrentam atravessamentos em muitos níveis de relações. >
"Ver nossa comunidade encantada com as invenções africanas, se apropriando dessas produções intelectuais, que buscam multiplicar esses saberes e se estimular criativamente e coletivamente para produzir juntas/os/es, é um resultado que me faz acreditar na construção de uma educação afroafetiva, que acontece porque estamos todas/os/es envolvidos nesse projeto que queremos e merecemos enquanto povo", afirma Maju. >
Neste alinhamento entre ciência e conhecimento, os responsáveis e familiares se tornam protagonistas da feira junto com as crianças, em uma investigação dessas invenções. >
"É muito bom me ver aprendendo junto com meu filho um conteúdo que não me foi ensinado. Para além de importante para o meu desenvolvimento intelectual, é também importante para o meu desenvolvimento enquanto mulher negra, uma forma de fortalecer minha identidade e de exemplificar para meu filho e para a minha rede que todas as pessoas são capazes e não só algumas como foi evidenciado em toda a minha vida escolar", disse Maju, também mãe de Ayo. de 3 anos, aluno da turma G3 da Escola.>
Pedagoga e diretora da Escolinha, Cristiane Coelho diz que a instituição compreende que os responsáveis continuam a executar suas atividades profissionais em home office e que nesta fase de retorno às aulas presenciais era preciso engajar os familiares nas atividades escolares para que se sentissem seguros quanto aos cuidados sanitários tomados. Coelho explica que durante a pandemia, a Escola também adotou outras ações de interação com as famílias, como leituras coletivas em que pais e mães participavam de aulas e liam histórias e livros com as crianças. >
Na AfroTech, além de oferecer literatura base para o desenvolvimento das criações e replicações das invenções africanas e do povo preto, a Escola deu apoio e incentivo, além de liberdade criativa e subjetiva. >
"Pensando nesse cuidado, nesse contato, estímulo à leveza, incentivamos através de sugestões, apoio e do pedido para que esse momento fosse lúdico, no encontro da noite, no programa do final de semana, nessa busca por elementos, artefatos, produções, pois entendemos que a família precisa estar bem e pensamos nesse lugar de companheirismo, coletividade e unificação das famílias - escola, através também da diversão no conhecer", afirma Cristiane. (Foto: Divulgação) História Preta das Coisas Referência e base para a Afrotech, o livro A História Preta das Coisas, que é de autoria de Bárbara Carine e foi lançado em maio deste ano, pela Editora Livraria Física, apresenta produções científico-tecnológicas ancestrais e contemporâneas em afroperspectiva, buscando ressignificar as bases intelectuais ocidentais. >
Ao problematizar "o milagre grego" - narrativa mitológica que assenta a origem de grande parte dos saberes ocidentais à civilização grega - e pautar a primazia kemética nas bases dos conhecimentos científicos, traz conceitos fundamentais para o entendimento deste apagamento histórico, como: pilhagem epistêmica e genocídio epistêmico, além de destacar 50 produções científicas pretas que foram fundamentais para o desenvolvimento humano impulsionado pela ciência e tecnologia africana e afrodiaspórica. >
O livro ainda traz o fundamento da filosofia Ubuntu para compreensão de outras possibilidades de ser e estar no mundo, produzindo ciência a partir de outros marcadores existenciais e metodológicos.>