Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

'Para combater a violência é educação e oportunidade', diz Marivaldo dos Santos

Músico fala sobre o trabalho da Quabales, que completa 12 anos e inicia residência artística na Casa Rosa nesta quinta-feira (14)

  • Foto do(a) author(a) Mari Leal
  • Mari Leal

Publicado em 14 de setembro de 2023 às 06:23

Marivaldo dos Santos comanda o Quabales
Marivaldo dos Santos comanda o Quabales Crédito: Marina Silva

Criada há 12 anos, a Associação Cultural Quabales combina arte e iniciativas formativas, para ajudar a mudar a realidade do Nordeste de Amaralina e seu entorno. A parte musical já pode ser vista em várias iniciativas na Bahia, como o Festival de Verão e o Afropunk, ou nacionais, como o Rock in Rio e a Casa Natura (SP) e até mesmo no exterior.

Quem quiser conhecer mais de perto o trabalho comandado pelo músico Marivaldo dos Santos tem uma ótima oportunidade na residência artística Essa é Bahia, que a Banda Quabales inicia nesta quinta-feira (14), às 19h, na Casa Rosa, no Rio Vermelho. Os encontros mensais são gratuitos, sendo necessária retirada prévia de ingressos pela Sympla.

Vivendo na ponte área entre Estados Unidos e Brasil, Marivaldo celebra as conquistas e compartilha suas experiências de vida com a juventude do seu bairro. Ele integra o importante grupo performático Stomp há mais de vinte anos e já esteve ao lado de astros como Sting, Lauryn Hill e Paul Simon, mas sonha em expandir a atuação da Quebales.

O Quabales nasceu no Nordeste de Amaralina e 12 anos depois lança um projeto de fôlego e aberto ao público no Rio Vermelho. Dá para dizer ‘a favela venceu’?

Para mim a favela está sempre em evolução, em construção. Não digo que venceu, mas que a visão da gente é sempre fazer algo novo. Cada coisa nova que a gente cria significa que a gente está vencendo.

A residência é intitulada Essa é a Bahia. Que Bahia é essa que vocês estão se propondo a apresentar?

Essa é a minha, a sua Bahia. A Bahia do mundo. A Bahia de alegria, de sossego. Nenhum outro lugar traz tão bem nossas raízes africanas. É a Bahia música, de arte, inclusão, que tem esse mistério que também tem a solução. O título é porque a gente é a Bahia também. A gente traz outras vertentes, principalmente musicais. Misturas linguagens à percussão baiana, o pop, o rap, o trap, o samba reggae. Quando a gente fala essa Bahia é como se fossem várias Bahias. Essa residência é muito aberta. Tem também performances, que um forte do Quabales, e é aberta para todos os públicos. Para quem quer curtir e dançar, mas também músicos que querem apreciar outros estilos de música.

Aa Banda
Aa Banda Crédito: Cassius Borges/Divulgação

O Quabales está no episódio de estreia da série Inspira Fundo, do canal Futura, que coletou iniciativas de sucesso na área da cultura. Como você descreve esse sucesso do projeto que você está à frente?

O Quabales já existe há 12 anos. Já se criou um movimento, que inclusive já está trazendo outros movimentos como o Favelê Music, um selo musical criado por nós que vai trazer toda essa galera das periferias, das favelas cantando artisticamente. O sucesso talvez esteja no acreditar. O Quabales é fato. Ele existe. É conhecido fora do país, fora do estado da Bahia. As pessoas vêm visitar. Já virou referência. É esse tipo de sucesso que a gente está falando, a resistência de está aqui fazendo. Não é fácil manter um projeto como esse, mesmo atendendo a comunidade. Já passaram por lá 5 mil pessoas. Hoje em média 400 pessoas inscritas. A nossa resistência de continuar e acreditar, apesar de tudo, talvez esteja aí dentro desse círculo que é o sucesso. É dizer que a gente ainda existe.

É possível detalhar mais sobre o selo?

O selo Favelê nasceu na pandemia. É musical, especificamente para artistas das favelas e periferias de Salvador. Ainda vai ser lançado. Talvez em novembro. É através do selo, que o próprio a própria Quabales banda faz parte, que vamos lançar 35 artistas com música e videoclipe, que é a proposta, além de direcionar, cuidar dos artistas como uma agência. Essa é a ideia.

“Se o mundo não muda, mudamos nós”. Essa frase é a primeira que aparece no site do Quabales. O que foi preciso mudar em você para que se enxergasse como vetor de mudança do “mundo” Nordeste de Amaralina?

Quando eu morava no Brasil eu já tinha essa visão de juntar as pessoas. Quando eu fui para fora, trabalhando com artistas, um pouco de sorte de está em outro país e ser reconhecido como artista... Entrando no Stomp eu tive a oportunidade de viajar o mundo, e comecei a entender o que é o privilégio. Eu morava em Nova York, em um lugar sonhado por muitos, trabalhava com pessoas fenomenais. Trabalhava e trabalho em um grupo conhecido mundialmente e tinha acesso a várias coisas. Nas férias, eu vinha para Salvador e ia para a favela. Vivia aquilo que era minha raiz e voltava para o glamour. Chegou um momento que eu questionei o que é realmente o poder. É aquilo que você tem. Entendi que o meu poder era o acesso e disse ‘quero levar isso para lá para a favela’. O Quabales veio com essa junção de visão. Resolvi devolver um pouco daquilo que eu estava ganhando. A melhor forma foi criando opções. O projeto social e o pessoal ir lá tocar música é só um pouco. Na verdade, o que o Quabales deu principalmente foi o acesso. Vem daí, da certeza de que o pouquinho que você faça vai ajudar muita gente.

Você acredita que um dia o Brasil será capaz de se converter, de fato, em uma nação de bem estar e bem viver, sobretudo para as famílias periféricas?

Eu sou uma pessoa muito esperançosa. Acredito, sim. Ter esse tipo de esperança significa que você tem esse tipo de energia de sempre querer algo melhor. Um pouco de trabalho de cada um com essa intenção faz a coisa acontecer.

E quem são e quais os papeis desses agentes de transformação?

Fundamental a educação. Os professores, os mestres. Cuidar das nossas crianças e dar uma direção, principalmente através da educação. Às vezes os professores passam mais tempo com as crianças do que a própria família. Até as pessoas que cuidam das crianças, as babás, elas são mentoras. Ela está ali mostrando o que é possível e o que não é possível. Para mim, essa é a base: os mentores e professores.

A Bahia tem vivido uma crescente da violência e da insegurança. A partir da sua vivência empírica, em que medida o investimento em arte, educação e cultura é segurar ou reverter essa onda?

Isso é certeza absoluta. Eu tenho um sonho muito grande de criar um prédio lá na sede do Quabales que tenha não só música e dança, mas também possibilidades, formação técnica. Talvez a gente consiga trazer uma pequena fábrica de camisas, costura. O meu sonho é ter esse prédio e oferecer arte, profissionalização para todas as idades, inclusive para os da melhor idade. São pessoas capacitadas, que passaram a vida trabalhando e hoje procuram algo para espairecer a cabeça. Por que não se preparar para uma nova profissão, trazer receita para o próprio país? Essa é minha ideia. Para combater a violência é educação e oportunidade. Para isso precisa de espaço e recursos, pessoas que queiram investir e acreditar naquilo que você sonha.

Qual o papel do Estado nessa dinâmica?

Tem que ter. O Estado, o municipio trabalham com o dinheiro que a gente paga, as taxas, impostos. O poder público é essencial. Ir na base da educação é essencial.

O futuro do Quabales é, então, nessa linha de expansão física e de áreas de atendimento?

Com certeza. Estamos em um bairro com mais de 100 mil pessoas. Dando essa oportunidade com certeza pode mudar muita coisa. Esse é o caminho, sim.