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Bahia e Grupo City: primeiras impressões sobre o projeto da SAF tricolor

Leia artigo de Pedro Henriques

  • D
  • Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2022 às 05:50

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Felipe Oliveira/EC Bahia

Ver a apresentação de proposta para aquisição do Bahia pelo Grupo City é algo muito gratificante e que enche de orgulho não apenas os torcedores, mas todos que contribuíram para a profissionalização do clube durante o processo de democratização que ocorre desde 2013.

Os termos divulgados do possível negócio são muito interessantes. Destaco abaixo os pontos mais relevantes e alguns que merecem atenção e cuidado.

Quitação de dívidas

A previsão de aporte de R$ 300 milhões para quitação das dívidas sem necessidade de Recuperação Judicial ou Regime Centralizado de Execuções é excelente. Seu efeito fundamental é de recuperar a credibilidade da instituição que, infelizmente, vem entrando num ritmo ruim de inadimplementos nos últimos anos.

Priorizar essa questão é um ponto que merece elogios tanto para o clube quanto para o Grupo City. Isso passa por equacionar  eventuais pendências trabalhistas, de FGTS, impostos e também com prestadores de serviços em geral e dentro do específico mercado do futebol, o que será fundamental para o início do projeto da SAF - que, em relação à credibilidade, já terá um grande “boost” que é a vinculação à marca do City Group.

Dinheiro para contratações

O valor de R$ 500 milhões para aquisição de jogadores é um número que impressiona, mas essa sensação diminui quando se estabelece o prazo de 15 anos (média de R$ 33 mi por ano) e, também, quando se lembra que há gastos além da compra dos direitos econômicos, como comissões e luvas (quando não diluídas no contrato de trabalho).

Por outro lado, se uma maior parte desse valor for bem investida em, digamos, cinco anos - com uma gestão competente - o clube pode ser capaz de se retroalimentar e manter boa capacidade de investimento sem novos aportes.

Aliás, o maior valor que essa negociação agrega ao Bahia é a experiência e know-how do Grupo City, provavelmente o maior player do planeta quando se fala em MCO (multi-club ownership), uma vez que tem controle ou, ao menos, participação em uma dezena de clubes pelo mundo, em importantes mercados.

É de se esperar muito mais eficiência e assertividade nas ações de gestão do clube, especialmente no departamento de futebol.

Infraestrutura e Base

A previsão de investimento de R$ 200 milhões em infraestrutura é muito boa. Certamente pode proporcionar o que há de melhor para equipes de base e profissional. Não houve, contudo, previsões sobre estádio, então, seria importante saber como será a política de relacionamento com a Fonte Nova.

Outro ponto relevante a destacar é que, conforme a apresentação, esse valor não é um investimento obrigatório. Sua estipulação ficou bacana para atingir o número redondo de R$ 1 bilhão da proposta apresentada, mas diante da ausência de obrigação, essa questão ficou um tanto vaga.

Por outro lado, foi importante evidenciar que o Grupo City está não apenas atento, mas disposto a fazer investimentos nessas áreas.

Folha da SAF

A previsão de folha de pagamento mínima no valor de R$ 120 milhões/ano - ou 60% do faturamento da SAF (o que for maior) - deve proporcionar uma folha mensal de aproximadamente R$ 9 milhões (lembrando que tem 13º, encargos e há, para os jogadores de futebol, a possibilidade de divisão da remuneração em 60/40 entre CLT e imagem).

É preciso lembrar que a folha da SAF não incluirá apenas atletas e comissão técnica, mas também uma equipe de executivos e funcionários das respectivas áreas.

De toda sorte é uma boa previsão, especialmente porque se presume que será paga sempre em dia, o que é um diferencial no futebol brasileiro. Não é, entretanto, uma folha de Top-6 do Brasil.

É importante, ainda, verificar se há previsão contratual de correção desse valor mínimo ao longo dos anos.

Aquisição de mais 5% das ações pelo Grupo City

O direito de aquisição de mais 5% das ações do Bahia pelo City Group soou bastante estranho. Primeiro porque não se vislumbra o objetivo do investidor na obtenção dessas ações. Segundo, porque, sem esse percentual, o clube perderia alguns direitos previstos na Lei de SAF (como voto necessário para decidir participação em campeonatos, extinção das atividades ou atos de reorganização societária).

Não se vislumbra benefício para a associação com essa cláusula, a princípio. Além disso, sendo o Bahia um clube que não tem sede social nem desenvolve outras modalidades esportivas, é de se questionar o que seria feito com os milhões oriundos da venda dessas ações.

Não divulgação do contrato para os sócios

O ponto mais preocupante desse processo, até o momento, é a não disponibilização do contrato para análise do sócio.

É de se esperar que essa questão seja revista, pois, do contrário, haverá desrespeito à transparência do clube e ao seu estatuto. É que a competência para tomada da decisão de virar SAF é da Assembleia Geral, que é composta pelos sócios. Eles não podem deliberar apenas com base no que a diretoria ou conselheiros informarem. Os sócios têm direito de ver e analisar cada detalhe do contrato que irão votar.

Esse proceder de não disponibilizar o contrato é uma temeridade, inclusive, porque pode tornar controverso e litigioso algo que tem tudo para ser aprovado com tranquilidade - basta ver a repercussão bastante positiva de tudo o que foi anunciado. Não há motivos para impedir o sócio de ver o contrato que garante o que está sendo prometido. Não se pode alegar confidencialidade de documento em face de quem irá deliberar sobre o mesmo.

Impressões finais

Diante do exposto - e apenas com base no que foi divulgado - a proposta de aquisição da SAF do Bahia pelo Grupo City é a grande notícia do mercado do futebol brasileiro neste ano.

Ferran Soriano, CEO do grupo, é uma das maiores autoridades do mundo quando se fala em gestão de futebol. Ter uma figura desse calibre atenta ao futebol brasileiro é algo animador para toda indústria e espera-se, inclusive, que isso traga outros reflexos positivos, como na discussão sobre a Liga. Mas esse é um assunto para outro dia.

Pedro Henriques é gestor de futebol, advogado e foi vice-presidente do Esporte Clube Bahia de 2015 a 2017 e diretor executivo de 2018 a 2020. Eleito melhor CEO de clubes de futebol no Brasil em 2019.