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Da Redação
Publicado em 17 de setembro de 2019 às 14:40
- Atualizado há 2 anos
Após o primeiro turno de utilização do VAR (árbitro de vídeo) no Campeonato Brasileiro, mais da metade dos clubes da Série A - entre os times, o Bahia - defende mudanças. O pedido principal é a liberação das imagens revistas no vídeo e do áudio das conversas entre o árbitro de campo e os auxiliares da cabine.>
Os cartolas também querem que os torcedores no estádio saibam o que está sendo analisado. Para eles, a tecnologia só deve ser usada para reverter uma decisão caso a marcação do juiz no gramado seja um erro claro.>
O Estado consultou os 20 clubes da elite do futebol brasileiro sobre o árbitro de vídeo. Doze se pronunciaram, propondo alterações. Foram eles: Bahia, Atlético-MG, Ceará, Fortaleza, Goiás, Internacional, Chapecoense, Avaí, Palmeiras, Vasco, Fluminense e Flamengo.>
Oito não quiseram se manifestar sobre o VAR (Corinthians, São Paulo, Santos, Grêmio, Cruzeiro, Botafogo, Athletico-PR e CSA).>
"Não vejo por que os diálogos não serem habitualmente mostrados - e as imagens também, mesmo que seja para reconhecer erros. Afinal de contas não existe sistema que não tenha erros. A transparência, na nossa visão, vai servir para defender o árbitro de vídeo e não prejudicá-lo", disse Guilherme Bellintani, presidente do Bahia.>
Embora não tenha se posicionado oficialmente, o Corinthians realizou palestra para os jogadores ressaltando a importância do VAR. O presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, visitou o clube na semana passada e tirou dúvidas dos atletas.>
"A reunião serviu para que membros de comissão técnica e atletas entendessem mais sobre novas regras e sobre como operam na checagem dos lances para que todos tenham melhor compreensão das mudanças", comentou o gerente de futebol do Corinthians, Vilson Menezes.>
Existem quatro tipos de lances que podem ser analisados pelo VAR, segundo o Conselho da Federação Internacional de Futebol (Ifab, na sigla em inglês): se foi gol ou não, se houve pênalti, erro de identificação para aplicar um cartão e se a jogada foi ou não para vermelho direto.>
"O Atlético-MG considera que a publicação e a publicidade de áudios e vídeos do VAR são a chave do processo. Isso é fundamental", opinou Lásaro Cândido da Cunha, vice-presidente do Atlético-MG.>
Posição da CBF A CBF ainda não se manifestou oficialmente sobre as reclamações dos clubes. Em evento realizado em agosto, a entidade sinalizou que deverá atender boa parte das solicitações a partir da primeira rodada do returno, marcada para o próximo final de semana.>
A entidade anunciou que as revisões do VAR terão as imagens liberadas para quem acompanha os jogos pela TV. Quem estiver no estádio também poderá ver o vídeo utilizado para a análise do árbitro logo após a revisão dos lances.>
Por outro lado, os áudios com as conversas entre o juiz de campo e o da cabine devem continuar restritos à equipe de arbitragem.>
Marcelo Segurado, diretor de futebol do Ceará, propõe que os clubes tenham direito a solicitar o uso do VAR. "Seria interessante que houvesse uma ou duas solicitações ou do treinador ou do capitão da equipe em cada tempo do jogo", avaliou o dirigente.>
Guilherme Bellintani retoma uma discussão antiga na arbitragem brasileira: a questão da profissionalização. "A profissionalização da arbitragem é o passo necessário para que o árbitro de vídeo seja mais bem utilizado. A profissionalização traz com ela mais formação, mais capacidade de análise, enfim, qualidade técnica geral".>
O maior problema tem sido a demora para tomada de decisão no gramado. No empate entre Palmeiras e Bahia, pela 14.ª rodada do Brasileirão, dois pênaltis foram marcados para a equipe baiana após o mineiro Ricardo Marques Ribeiro, árbitro de vídeo, acionar o conterrâneo Igor Benevenuto em campo. Em cada uma das vezes, cerca de cinco minutos foram gastos para que um consenso fosse tomado sobre as infrações.>
A partida teve uma duração total de 110 minutos - 20 a mais do que o tempo regulamentar. "O tempo que se toma a decisão tem de ser reduzido", disse Mauricio Galiotte, presidente do clube alviverde.>
O clube paulista se considera pioneiro na discussão sobre o uso do VAR. Na final do Campeonato Paulista de 2018 contra o Corinthians, o Palmeiras alega que houve interferência externa para ajudar o árbitro Marcelo Aparecido de Souza a marcar e, depois de oito minutos, cancelar um pênalti de Ralf no atacante Dudu, no segundo tempo da decisão.>
Depois de o STJD negar, por unanimidade, o pedido de impugnação da final, o clube paulista desistiu de recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CSA, na sigla em inglês), a última instância do direito esportivo.>
Confira o que disseram os representantes dos clubes:>
Guilherme Bellintani, presidente do Bahia - "A profissionalização da arbitragem é o passo necessário para que o árbitro de vídeo seja mais bem utilizado. A profissionalização traz com ela mais formação, mais capacidade de análise, enfim, qualidade técnica geral. E a segunda coisa é transparência. Não vejo por que os diálogos não serem habitualmente mostrados e as imagens também, mesmo que seja para reconhecer erros".>
Lásaro Cândido da Cunha, vice-presidente do Atlético-MG - "O Atlético considera que a publicação e a publicidade de áudios e vídeos do VAR é a chave do processo. É fundamental. Não é possível a CBF ficar em conta gotas. Por outro lado, as pessoas que operam o árbitro de vídeo e também os árbitros de campo têm de ter uma formação mais adequada".>
Marcelo Segurado, diretor de futebol do Ceará - "Transparência na divulgação dos vídeos e áudios para que possa saber o que foi conversado. Outra situação é que houvesse em cada tempo uma ou duas solicitações ou do treinador ou do capitão da equipe. Outro ponto: todos são expostos aos erros: treinador, jogador presidente e diretor, menos o árbitro. A solicitação é de que árbitro de campo e de VAR participem de coletivas após os jogos">
Marcelo Paz, presidente do Fortaleza - "Quanto mais clareza, melhor. Este é o ponto. Se o porquê das decisões fosse informado seria melhor. É possível usar isso de forma transparente. Os protocolos precisam ficar cada vez mais claros. Depois que recebemos a visita do Gaciba (Leonardo Gaciba, chefe de arbitragem da CBF) aqui no Fortaleza foi muito esclarecedor. Depois disso, entendemos melhor o motivo de algumas decisões. Isso faz com que o VAR tenha mais credibilidade. Se os próprios jogadores não conheciam muito bem, imagina o público em geral".>
Túlio Lustosa, gestor de futebol do Goiás - "Maior agilidade nas decisões, menos interferências em lances interpretativos e principalmente que os assistentes só deixem de levantar a bandeira realmente na dúvida do impedimento (muitos lances de impedimento claro os assistentes estão deixando o lance 'correr' para depois levantar a bandeira)".>
Marcelo Medeiros, presidente do Internacional - "O VAR é uma realidade que veio para ficar. O uso da tecnologia, a exemplo de outros esportes, contribui com o aprimoramento do futebol. Acho que a transparência é importante. A gente ter acesso aos áudios é um passo que pode ampliar a transparência - não que as coisas sejam obscuras, mas que a gente entenda o que aquela comissão de árbitros de vídeo está repassando ao árbitro de campo. Acho que quanto maior transparência, melhor. Mas não sei se (liberar imagens e áudio) no dia do jogo é o melhor momento".>
Plinio David de Nes Filho, presidente do Chapecoense - "Eu defendo o VAR desde o primeiro dia aqui na CBF. Sou um entusiasta do VAR, porque venho do vôlei e do tênis, onde ele apresenta resultado muito bem. Tivemos dificuldade de entendimento, mas está melhorando com o passar do tempo. Tem de ser um veículo que transmita paz nos estádios, que o torcedor entenda que aquilo foi real. As coisas precisam ser bem clareadas. Acho que tem de liberar tudo. No momento que libera as imagens, libera os áudios".>
Francisco José Battistotti, presidente do Avaí - "O clube entende que o VAR precisa ser melhorado. Ganho de velocidade na avaliação dos lances em verificação. Criar um mecanismo claro como o futebol americano, onde o árbitro fala ao microfone para o estádio a decisão tomada, com o lance no telão. Mas a liberação do áudio da conversa dá transparência para as decisões tomadas".>
Mauricio Galiotte, presidente do Palmeiras - "O Palmeiras é 100% favorável à tecnologia, ao uso do VAR. A tecnologia tem como princípio a justiça, então a gente entende que ela é benéfica e temos de lutar por isso. Entretanto, o que a gente acha é que é uma ferramenta que merece ajustes. O tempo que se toma a decisão tem de ser reduzido. Acho que as imagens que estão sendo analisadas no momento do VAR deveriam ser expostas ao público, e também talvez o áudio pudesse ser divulgado".>
Alexandre Campello, presidente do Vasco - "Acho que não só deveria liberar os áudios do VAR, como deveria ser informado ao público do estádio o que está sendo analisado, para dar mais transparência. Estive aqui na CBF em dois momentos porque achei que o Vasco havia sido prejudicado em dois lances. Mas, ao ver o trabalho do pessoal do VAR e ser apresentado à lógica e às imagens dos lances - que a gente não tem às vezes quando está assistindo pela televisão -, eu acabei concordando com a arbitragem".>
Mario Bittencourt, presidente do Fluminense - "O Fluminense é a favor do VAR, desde que mudem os critérios de avaliação. Acho que hoje estão equivocados e precisam melhorar. É lógico que a gente é a favor da tecnologia, mas a gente acha que está sendo mal operado pelas pessoas. A gente já fez três ofícios criticando algumas situações em que a gente acha que o critério foi ruim. Tem de liberar imagem e áudio".>
Flamengo - "O clube considera que o VAR está cumprindo sua função e melhorou o futebol de forma geral. Entendemos que alguns pontos podem evoluir, como a uniformidade de critério, e encontrar formas de acelerar as decisões do VAR para tornar o jogo mais fluido e contínuo".>