Bahia Farm Show começa hoje em meio a safra recorde e guerra comercial EUA x China

Apesar do contexto econômico nacional ainda incerto, expectativas dos produtores não poderiam ser melhores

  • D
  • Da Redação

Publicado em 28 de maio de 2019 às 05:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Mário Bittencourt / Arquivo Correio)

Hotéis lotados, passagens aéreas esgotadas, comércio aquecido, e um movimento ainda mais intenso na BR-242, rodovia que corta o Oeste da Bahia. É este o cenário no município de Luis Eduardo Magalhães. Nos próximos cinco dias, todos os caminhos do agronegócio levam ao parque da Bahia Farm Show. A feira, montada a cerca de 3 quilometros da cidade, completa 15 anos servindo de vitrine das principais transformações econômicas ocorridas na região. Em uma década e meia, o evento cresceu, ganhou força, diversidade, pujança, e passa a exibir maturidade em plena adolescência. Bahia Farm Show reúne 900 marcas de máquinas e implementos agrícolás. (Foto: AIBA) Diante de um contexto econômico nacional ainda incerto, as expectativas não poderiam ser melhores. Com a segunda maior colheita de soja já registrada na história da região e uma estimativa de safra recorde de algodão, nem as oscilações de preços do mercado internacional devem abalar os negócios que serão travados durante o evento. A maior feira de tecnologia agrícola do norte e nordeste será aberta hoje (28/5) e vai até o próximo sábado (1º/6).

O desempenho das duas principais commodities brasileiras no campo tende a se refletir no volume negociado. A estimativa é de um crescimento médio de 10% no volume de negócios.

“Enfrentamos uma oscilação do mercado internacional e a guerra comercial entre China e Estados Unidos. Mas todos os agentes financeiros estão aqui com linhas de crédito especiais, e acreditamos que podemos ultrapassar a marca dos R$ 1,8 bilhões negociados no ano passado. Certamente os produtores rurais vão avaliar o mercado, e as próprias possibilidades de compra para fechar negócio, mas projetamos uma excelente feira”, afirma Celestino Zanella, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), organizadora da Bahia Farm.

Novo pavilhão

Ao completar 15 anos, a feira está atraindo um número de expositores 35% maior do que na edição anterior. São mais de 900 marcas e produtos. Para abrigar tantas empresas, entre elas 62 novos expositores, um novo pavilhão foi montado na área do parque.

“O novo pavilhão tem 1.650 metros quadrados e a procura nos surpreendeu. Todos os espaços foram comercializados. São expositores de diversas áreas e de vários segmentos, desde a linha de peças, eletrônicos, sementes, utensílios, energia solar até imobiliário", afirma Rose Cerrato, coordenadora geral do Bahia Farm Show.

Nesta edição a feira também traz como inovação uma programação dedicada às produtoras rurais. O Seminário Mulheres do Agro vai promover palestras e cursos voltados para gestão, administração e capacitação das mulheres no campo. As atividades vão reunir cerca de 150 mulheres que já atuam no agronegócio da região e realizam ações educativas e sociais ao longo do ano.

Outra inovação é uma arena exclusiva para expositores da área de segurança pública, e outra dedicada exclusivamente aos produtos de agricultura familiar.

Ainda durante o evento, uma ampla programação será realizada pelos principais institutos e órgãos de pesquisa agropecuária do país. Um dos lançamentos será uma nova cultivar de soja desenvolvida pela Embrapa. Feira tem 35% a mais de expositores do que a edição anterior. (Foto: AIBA) Crédito   Ainda há incertezas em relação ao crédito rural público. As dúvidas só serão sanadas daqui a quinze dias quando deve ser anunciado o Plano Safra pelo governo federal. O que já está confirmado, pelo Ministério da Agricultura, é que este ano os agricultores vão poder contar com um aporte de R$ 500 milhões a mais.

Independente do próximo plano plurianual, os sete principais agentes financeiros do agronegócio brasileiro, os bancos Bradesco, Santander, Banco do Nordeste, Desenbahia, Banco do Brasil, Sincredi e BNDES, estão presentes na feira.

Eles oferecem desde linhas de crédito para financiamento de máquinas, implementos, energia solar, armazenamento, correção de solo, aquisição de animais a projetos de irrigação e consórcios de veículos. Todos prometem oferecer taxas de juros e condições especiais de parcelamento.

“Estaremos com ofertas diferenciadas e portfólio completo de linhas de crédito, além de uma equipe de especialistas na área de riscos para atender mais rápido as necessidades e dar todo o suporte ao produtor. Teremos as linhas de financiamento de longo e curto prazo, linhas para projetos fotovoltaicos, para armazenagem e estocagem, consórcio Agro e Seguros”, destaca Paulo Bertolane, superintendente executivo de Agronegócios do Santander Brasil. 

O Desenbahia vem com financiamento em projetos de irrigação e armazenagem.

“Nossa meta é superar o recorde de negócios realizado em anos anteriores, atingindo um número cada vez maior de empresários do agronegócio, além do comércio, serviços e indústria”, comenta Francisco Miranda, presidente do Desenbahia.

Pelo quarto ano seguindo na feira, o Sincredi vai disponibilizar cerca de R$ 50 milhões em linhas de crédito para custeio agrícola e pecuário. Já o Bradesco informou que a expectativa é superar em 20% os números do ano passado. O banco possui aproximadamente R$ 23 bilhões em contratos vigentes na região. Feira vai reunir mais de 900 marcas até o próximo sábado. ( Foto: AIBA) Matopiba

Nos próximos cinco dias, a Bahia Farm deve receber também a visita de agricultores de vários estados do Nordeste. A feira é uma espécie de vitrine da evolução econômica da região.

Com uma localização geográfica estratégica, o município Luis Eduardo Magalhães é o principal ponto de convergência dos agricultores do Matopiba, fronteira agrícola que reúne parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

A área foi delimitada na década de 1980 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a partir de condições geográficas, climáticas e sociais. Foi a partir daí que a área, antes inexplorada comercialmente, começou a se transformar em um dos maiores polos agrícolas do país.

Em pleno cerrado, a região é considerada a última fronteira agrícola do país, por ainda possuir áreas com possibilidade de extensão da atividade agrícola e pecuária. Daí a necessidade de mais máquinas, tecnologia e capacitação da mão-de-obra.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), nos próximos 10 anos a área plantada nos quatro estados deve atingir 8,8 milhões de hectares e 25,4 milhões de toneladas de grãos. Apenas o Oeste da Bahia produziu este ano mais de 5 milhões de toneladas de soja, e vem se consolidando como grande produtor de café, frutas, gado de corte e algodão. Nos últimos anos, um dos focos dos agricultores tem sido a intensificação no uso de sistemas sustentáveis de produção.

“A Bahia Farm está amadurecendo, criando raízes mais profundas e com um olhar atento, mais aguçado, no horizonte futuro. Teremos palestras sobre plantio direto, tecnologia de preservação do solo, economia de água e combustível, e desenvolvimento de sistemas sustentáveis, que sempre foram uma preocupação dos produtores rurais, mas que agora dispõem de mais tecnologia”, completa Zanella. A plantadeira dobrável fabricada pela Massey Fergusson estará em exposição na Bahia Farm. Super máquinas

No segmento de máquinas agrícolas, estrelas maiores da feira, as vendas podem crescer mais de 12%, como ocorreu nas duas edições anteriores. Esta é a expectativa de Anfavea, Associação Nacional de Fabricantes de Veiculos Automotores. As principais marcas mundiais estão presentes na Bahia Farm.

“Com a retomada da rentabilidade dos agricultores, muitos já vêm registrando o interesse de fechar os negócios obtendo as melhores condições que tradicionalmente serão encontradas na Bahia Farm”, afirma Rogério Rodrigues, presidente da Associação de Máquinas e Implementos Agrícolas do Oeste da Bahia (Assomiba), e diretor da revendedora Agrosul, representante regional da montadora Jonh Deere.

A agricultura digital e de precisão é o principal destaque entre as máquinas, e inclui novidades em tratores, pulverizadores e colheitadeiras.

Fabricante de tratores de alta tecnologia, a LS Tractor trouxe para a feira a linha de máquinas com aplicativos e telemetria. Os modelos incluem um novo sistema de controle, o Unit Control, capaz de monitorar máquinas via satélite. A fabricante considera o Oeste da Bahia um dos mercados mais promissores do Brasil.

“A região do Oeste baiano e, por extensão, do Matopiba, é um importante mercado e, por esta razão, temos participado da Bahia Farm, desde que chegamos ao Brasil, há seis anos. Hoje, onde tem agricultura, tem necessidade de implantação de tecnologias, tanto as que vêm no conjunto do trator, quando as que se pode incorporar. E os produtores de Luis Eduardo e entorno, demonstram que estão demandando tê-las em seus tratores”, afirma Ronaldo Pereira, gerente nacional de vendas da LS Tractor. Um dos destaques da marca é o trator da Linha H, com 125 a 145 cavalos, que possui pacote LS Tech, capaz de promover uma economia de até 15% no gasto com combustível. Série H da LS Tractor é uma das máquinas expostas na feira. (Foto: divulgação) A agricultura 4.0, de última geração, faz parte do portfólio das principais marcas. A tecnologia é considerado fator essencial para aumento da produtividade.

"Acreditamos no potencial do Oeste Baiano. Estamos aumentando os esforços para apresentar aos agricultores da região as tecnologias que geram inteligência e trazem uma melhora na tomada de decisão do produtor. Demonstrando como o uso destes serviços pode aumentar a eficiência no campo, de forma sustentável", afirma Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart, uma das maiores empresas de agricultura digital da América Latina. Entre os produtos da marca estão equipamentos que dispensam sinal de celular ou internet no campo. Sistema tem sensores que aplicam o produto apenas na planta, permitindo economia de até 90%. (Foto: Trimble) Já a Trimble, fabricante mundial de tecnologias, está trazendo para a feira um sistema de pulverização seletiva que economiza até 90% na aplicação de defensivos agrícolas. Um dos destaques é o pulverizador que ajuda a combater a resistência do capim amargoso aos herbicidas. A tecnologia permite a aplicação do produto apenas na planta.