Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Georgina Maynart
Publicado em 17 de abril de 2019 às 18:00
- Atualizado há 2 anos
Produzir mais cacau na mata atlântica, sem prejudicar a preservação do bioma. O que parecia um sonho, tanto para cacauicultores como para ambientalistas, agora pode se tornar realidade.>
Depois de várias discussões, foi publicada nesta quarta (17/4) a chamada “Portaria da Cabruca”, que define um novo modelo de manejo para o cacau cultivado junto com as outras árvores da mata, no meio do bosque. Cabruca é o sistema de produção agroflorestal em que a sombra das outras árvores ajuda no desenvolvimento do cacaueiro.>
A portaria, publicada no Diário Oficial, é assinada em conjunto pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hidricos (Inema).>
“Além da certeza da preservação da mata atlântica, a portaria estimula a manutenção do agrossistema e o enriquecimento das cabrucas com espécies nativas, com ganhos ambientais. O cacau é uma planta conservacionista e graças a esse cultivo o sul da Bahia possui grandes áreas de Mata Atlântica. É um produto inserido na sustentabilidade econômica, social, cultural e ambiental”, diz o Secretário de Meio Ambiente da Bahia, João Carlos Oliveira. Novas regras valem para o cultivo do cacau cabruca na faixa de Mata Atlântica na Bahia. Foto: divulgação Impasse era antigo>
Ao contrário do cultivo a pleno sol, que é muito utilizado atualmente, as plantações no sistema cabruca são mas tradicionais. Elas começaram a ser implantada no sul da Bahia no fim do século XVIII pelos antigos desbravadores das florestas tropicais, e são consideradas patrimônio regional.>
O sistema sempre foi visto como preservacionista e sustentável por permitir o crescimento do cacaueiro sem a necessidade de desmatamento.>
Mas, nos últimos anos, os produtores começaram a perceber que o excesso de sombra também prejudica a produtividade da planta. Quando fica completamente sem contato com o sol, a árvore não consegue realizar a fotossíntese de forma plena. O excesso de umidade favorece inclusive o aparecimento de doenças como a vassoura de bruxa. Por este motivo, o sombreamento total passou a ser apontado como um dos fatores da baixa produtividade nas lavouras.>
O raleio, que é a retirada do excesso de galhos, também não era permitido. Uma lei federal de proteção da Mata Atlântica proibe a poda ou retirada de árvores, mesmo que não fossem nativas, caso o agricultor não tivesse autorização prévia dos órgãos ambientais.>
A portaria assinada hoje pelo governo torna desnecessária a autorização para o manejo de espécies exóticas. A mudança nas regras era uma antiga reivindicação dos produtores rurais que passaram a se sentir de mão atadas. Várias portarias publicadas anteriormente não teriam ajudado a resolver o problema.>
Os representantes da cacauicultura baiana ainda estão analisando o texto da nova portaria publicada hoje. Segundo eles, as regras anteriores tornavam inviável e caro o cultivo da cabruca. Em entrevista ao CORREIO, eles adiantaram que esperam deste novo texto mais segurança jurídica para o cultivo do cacau,>
“Acreditamos que é possível simplificar o cultivo, sem comprometer a questão ambiental. Esperamos que esta nova portaria seja um marco legal que dê previsibilidade para o agricultor. Tem muita gente querendo investir na região, mas que sempre observou com cautela por não haver regramento claro. Uma portaria que seja próxima da realidade do produtor rural facilitará a chegada de novos investimentos”, afirma Guilherme Moura, vice-presidente administrativo da Federação de Agricultura da Bahia (Faeb) e Presidente da Câmara Setorial da Lavoura Cacaueira do Ministério da Agricultura (Mapa).>
Outras mudanças>
A nova regra também torna possível o plantio de até 700 pés de cacau por hectare, cerca de 130% a mais do que a média atual de 300 pés.>
O texto facilita ainda o cadastramento das cabrucas no Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (Cefir), reduz o custo do projeto técnico exigido para concessão do licenciamento e concede isenção de taxa de análise para os produtores da agricultura familiar.>
Estima-se que a medida deve beneficiar cerca de 20 mil pequenos produtores rurais da região.>
As regras trazem ainda uma outra vantagem. Elas foram discutidas de forma conjunta por vários órgãos ambientais, associações de produtores rurais, ministério público e cientistas de vários institutos de pesquisa e ensino, entre eles a Ceplac e a Universidade Estadual de Santa Cruz. Cacau serve de renda para mais de 30 mil produtores rurais da Bahia. Estado é o maior produtor do Brasil. (Foto:Georgina Maynart) >