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Carmen Vasconcelos
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 06:00
A decisão da Nestlé de reduzir cerca de 16 mil postos de trabalho no mundo até 2027 e o anúncio da Amazon de enxugar cerca de 14 mil cargos no setor corporativo globalmente lançaram sinais de alerta sobre o futuro do emprego em grandes corporações. O movimento, que busca otimizar custos e aumentar a eficiência das operações, reflete uma tendência global de reestruturações impulsionadas pela automação e por novos modelos de gestão. >
Em nota oficial, a Nestlé informou que “está trabalhando para tornar suas operações mais eficientes” e que “essas mudanças incluem uma redução planejada de aproximadamente 16.000 funcionários em todo o mundo nos próximos dois anos”. Segundo a empresa, “a redução de força de trabalho anunciada será implementada com respeito e transparência, e se aplica aos mercados e funções globalmente ao longo dos próximos dois anos”. >
A companhia acrescentou ainda que “o impacto será diferente em cada mercado, e cada operação elaborará seu próprio plano”, destacando que, no momento, “não é possível fornecer números específicos”. >
Juntamente com outras medidas de eficiência, a Nestlé aumentou sua meta de redução de custos para 3 bilhões de francos suíços até o fim de 2027, acima da meta anterior de 2,5 bilhões. >
Já a gigante do varejo e tecnologia contratou muito durante a pandemia para dar conta do boom de comércio online — agora está “corrigindo” esse excesso de expansão conforme a demanda se estabiliza. O foco no investimento em IA implica que algumas funções mais rotineiras, administrativas ou de suporte podem ser mais vulneráveis, pois a tecnologia pode substituir ou automatizar parte dessas tarefas. >
Apesar destes cortes, a empresa afirma que continuará contratando em áreas estratégicas (por exemplo, tecnologia, IA, inovação), ao mesmo tempo que faz os ajustes. Para o Brasil: não há um dado público claro até agora informando qual será o impacto local das demissões. >
Impactos>
Para o consultor de negócios e palestrante Osvaldo Matos, as decisões da Nestlé e Amazon refletem um cenário mais amplo de ajuste estrutural e digitalização acelerada. >
“Empresas do porte da Nestlé e Amazon, raramente, tomam uma decisão desse tipo por um único motivo. Os desligamentos respondem a desafios de mercado, automação e busca de eficiência. Mas os desdobramentos humanos e organizacionais são vastos”, avalia. >
Segundo ele, as funções mais vulneráveis são as que envolvem processos repetitivos e padronizados, como setores administrativos, de atendimento e suprimentos. “A falta de estruturação de dados e a dificuldade de prever a mão de obra necessária em cada fase do processo podem gerar impactos na qualidade e na credibilidade da empresa”, alerta. >
A redução de equipes, segundo Matos, costuma provocar efeitos imediatos no clima organizacional e na produtividade dos colaboradores remanescentes. >
“Há sobrecarga, cansaço, risco de burnout e perda de confiança interna. A liderança é desafiada a manter o moral e o engajamento de times sob pressão”, explica. >
Nova realidade >
Ele lembra ainda que a requalificação contínua e o investimento em habilidades digitais são medidas essenciais para que empresas e profissionais consigam se adaptar à nova realidade. “Não se trata de tratar a automação como um evento de corte, mas como um processo de evolução de talentos — com ética, planejamento e investimento nas pessoas”, defende. >
Matos também aponta que decisões desse porte exigem transparência e diálogo com sindicatos, além de atenção às responsabilidades sociais. “Os especialistas em ética corporativa enxergam uma tensão constante entre decisões de curto prazo, voltadas ao lucro, e a sustentabilidade social de longo prazo”.>
Em mercados onde a Nestlé e Amazon têm presença relevante, como o Brasil, os efeitos locais podem incluir queda de arrecadação, menor poder de compra e pressão sobre programas sociais e de recolocação. >
O consultor defende maior integração entre empresas e políticas públicas de upskilling e reskilling, para reduzir o desemprego estrutural gerado pela automação. A Amazon, por exemplo, declarou que, para os funcionários que forem desligados, haverá suporte de transição: benefícios de plano de saúde por um período, serviços de recolocação, prioridade interna para novas vagas. >
Lições >
Entre as principais lições do caso, Matos destaca a importância de líderes adaptáveis e programas contínuos de requalificação. Para os trabalhadores, as recomendações são claras: Jovens profissionais devem investir em habilidades digitais, dados e soft skills; profissionais mais experientes precisam se manter atualizados, estratégicos e ativos em suas redes de relacionamento. >
“O mundo não aceita mais amadores. Seja constantemente um aprendiz”, resume o consultor. >
O caso da Nestlé e Amazon não são isolados. Em todo o mundo, grandes multinacionais vêm readequando suas estruturas diante da automação, da pressão por margens mais altas e da incorporação de inteligência artificial nos processos corporativos. >
Unilever também anunciou um plano de corte de 7.500 vagas em 2024, aliado à digitalização de operações e à revisão de portfólio. A IBM revelou que deixará de preencher cerca de 8 mil cargos administrativos, substituídos por sistemas de IA generativa. PepsiCo e Procter & Gamble também reavaliam estruturas globais, priorizando automação logística e comercial. >
Especialistas apontam que o movimento é inevitável — mas defendem que as empresas que conseguirem equilibrar eficiência e responsabilidade social sairão na frente em reputação e engajamento de talentos.>