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Carmen Vasconcelos
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 06:00
Líderes com perfil de mediador têm contribuído significativamente para acelerar negócios e construir culturas organizacionais mais humanas e resilientes. Isso foi o que mostrou um estudo realizado em parceria pela mediadora de Conflitos Organizacionais formada por Concadora (Alemanha) Ivânia Morgado; a mentora de líderes pela metogologia Helping Conversation Beth Cerri e o embaixador da Endeavour e atuante em diversos conselhos do terceiro setor José Laloni. >
O trio analisou ainda o impacto da escuta ativa e do diálogo em uma organização do setor financeiro, revelando que práticas de mediação adotadas pelo presidente criaram um ambiente de confiança, inovação e segurança psicológica — fundamentais para enfrentar cenários de crise e alta complexidade. >
O estudo considerou o caso real de uma empresa do setor financeiro, tendo como referência teórica conceitos da gestão de conflitos organizacionais. A identidade da empresa e dos gestores não foram reveladas a pedido da empresa por questões estratégicas. >
O presidente da organização abordada, ao adotar práticas de mediação no dia a dia do Comitê Executivo, criou um ambiente seguro para conversas francas e difíceis, que passaram a ser reconhecidas como ativos estratégicos. Essa abordagem fortaleceu a coesão da equipe e promoveu a entrega consistente de resultados, inclusive em momentos de crise. Com isso, a condução, baseada no respeito às diferenças e no incentivo ao protagonismo, gerou uma cultura organizacional de segurança psicológica. >
Com o tempo, essa cultura ultrapassou o C-Level e se espalhou por toda a empresa, incentivando a cocriação, o aprendizado coletivo e a busca por soluções sustentáveis. >
Ambientes e negócios saudáveis >
Segundo Ivânia Morgado, a experiência indica que, quando a hierarquia é utilizada como uma ferramenta de imposição de decisões, sem escuta da equipe e envolvidos, o clima organizacional é afetado no nível individual. >
“As mais variadas pesquisas indicam o impacto negativo de ambientes empresariais tóxicos na saúde mental dos funcionários - e no nível institucional, com operações de reduzida produtividade e consequentemente resultados abaixo das metas, de qualidade e financeiras”, reforça a mediadora. >
Para Ivânia, ouvir funcionários e equipes envolvidos em decisões que irão afetá-los a partir de uma escuta ativa, que seja capaz de orquestrar as opiniões, as ofertas de soluções, e implementar a melhor alternativa desenhada coletivamente, constrói um senso de pertencimento e protagonismo que se transformará em um diferencial tático na operacionalização do plano combinado. >
“Um líder mediador tem um perfil com um alto grau de inteligência socioemocional, uma força capaz de promover diálogos construtivos mediante diferentes pontos de vista. Ele consegue construir uma sabedoria coletiva ouvindo sua equipe com presença e interesse genuíno, valoriza o conhecimento, a história experiencial de cada membro do grupo, transformando as diferentes versões em oportunidades de crescimento do grupo e da empresa”, afirma. >
Completando a fala da colega, José Laloni complementa, defendendo que um líder mediador promove uma cultura de diálogos, de respeito à diversidade e de uma confiança mútua, permitindo um engajamento dos colaboradores e das equipes ao propósito da empresa, gerando resultados sustentáveis para todo o ecossistema do negócio. >
“A atuação de um líder moderador pode se aplicar em qualquer indústria. É claro que empresas de serviços, que têm muito do seu negócio ligado a pessoas e a times de alta performance, uma liderança desse tipo tende a fazer ainda mais diferença. Mediando conflitos, gerando um ambiente de competição segura”, garante. >
Estratégias >
A conclusão dos autores é clara: líderes com inteligência relacional e habilidade para facilitar diálogos são essenciais para organizações que buscam sustentabilidade e diferenciação competitiva. Modelos de governança baseados na colaboração, no respeito e na escuta são mais preparados para responder aos desafios do presente e do futuro. >
A pesquisadora Beth Cerri ressalta que as novas gerações não se submetem a quem não os trata com autenticidade e empatia. Por isso mesmo, as organizações podem e devem investir no desenvolvimento da inteligência emocional de líderes, a competência fundamental para liderar equipes com eficácia e empatia. “Essas formações ajudam os líderes a entender melhor suas emoções, gerenciar conflitos, tomar decisões mais assertivas e criar um ambiente de trabalho mais harmonioso. Há também as formações que desenvolvem a capacidade do líder de mediar conflitos e situações desafiadoras. Investir no desenvolvimento da inteligência emocional e na capacidade de mediar é essencial para fortalecer a liderança”, completa. >
Os pesquisadores sugerem que as empresas construam vários mecanismos capazes de promover uma cultura de diálogos construtivos, seja treinando líderes e equipes em diálogos autênticos e respeitosos para acordos construtivos, criando uma política interna de orientação para toda empresa de como serão conduzidas as conversas difíceis, considerando a diversidade - sabedoria coletiva - como um diferencial estratégico. “Nesse processo, o presidente também precisará desenvolver esse perfil de mediador, pois será um exemplo a ser seguido por toda a empresa”, finaliza Ivânia. >