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Carmen Vasconcelos
Publicado em 28 de julho de 2025 às 06:00
Assumir a liderança de uma organização ou de uma equipe aos 30 anos era considerado precoce. Hoje, é cada vez mais comum encontrar profissionais com 22 ou 23 anos liderando equipes, comandando projetos estratégicos e ocupando posições de destaque em empresas de todos os tamanhos, especialmente em startups, franquias e negócios digitais. >
A ascensão meteórica da Geração Z à liderança corporativa desafia antigos paradigmas sobre maturidade, autoridade e preparo. Mas afinal, essa geração, nascida entre 1997 e 2012, está realmente pronta para liderar? >
Para o diretor regional da LHH Nordeste Marcelo Botelho, pronta está, mas a capacidade de entregar maior valor nessa função dependerá do ambiente e do contexto que a liderança será exercida. Para ele, as maiores virtudes da geração Z estão na sua aptidão digital, trabalhar por propósitos claros e buscar uma rotina mais equilibrada, entre outras. “O fato é que nem todos os ambientes de trabalho atuais são capazes de oferecer essas condições e algumas culturas organizacionais sequer permitem isso”, reflete. >
A psicóloga e mentora de carreiras Aila Lorena Cardial tem uma postura diferente. Ela diz que essa geração está em processo de desenvolvimento, mas ainda não está pronta. No cenário atual, as mudanças ocorrem de uma forma mais acelerada. “Isso exige uma capacidade de adaptação, criatividade e inovação. Além da diversidade que é uma pauta presente e necessária nas empresas. Sobre esses pontos, a Geração Z está mais pronta do que outras, porém, quando falamos sobre algumas habilidades comportamentais, como inteligência emocional ou resiliência, nitidamente, eles precisam de um preparo e desenvolvimento. Ainda falta a maturidade emocional que vem das experiências ao longo do tempo”, defende. >
Líderes Z >
Aila Cardial reconhece que a liderança da Geração Z tem maior capacidade de adaptação à tecnologia,crescente nos últimos anos, especialmente durante a pandemia, quando o mundo embarcou na digitalização. “Busca pelo propósito, inclusão, diversidade com certa informalidade também se faz presente entre esses novos líderes. Gestores de gerações anteriores foram moldados num ambiente onde o profissional workcaholic era bem visto. Hoje, estão burnoutando”, reflete a psicóloga. >
A psicóloga destaca a liderança humanizada, preocupação com a saúde mental e segurança psicológica, diversidade e inclusão, busca pelo propósito e uma certa ousadia como características muito positivas na Geração Z. “Por outro lado, pouca resiliência, mais dificuldade para lidar com frustrações e ambiente com mais pressão ou dificuldade para lidar com temas mais complexos. Isso é comprovado com estudos recentes sobre a dificuldade de contratação e/ou promoção de profissionais mais jovens para cargos de liderança”, pondera. >
Botelho ressalta que a tomada de decisão da Geração Z tende a ser feita de forma mais colaborativa, é comum ver decisões de extrema relevância para o negócio serem colocadas para discussão em fórums, envolvendo pessoas de hierarquias diferentes, enquanto pessoas de outra geração podem ter uma postura mais autoritária e individualista. “O grande aspecto em torno desse tema é que, na pluralidade de gerações que encontramos no mercado de trabalho, é comum encontrar algumas das qualidades da geração Z sendo executadas com maestria pelas outras gerações e vice-versa, a adaptabilidade continua a ser uma das competências mais relevantes para o mercado atual, independente da faixa etária”, analisa. >
Modelo de Comando >
O diretor Marcelo Botelho lembra que os conceitos de liderança e gestão mudaram muito nos últimos anos, principalmente no quesito autoridade. “No passado, ela era mais definida e relacionada com hierarquia, o modelo de comando e controle era cultuado e se enxergava, no líder, a figura capaz de responder a todas as perguntas. Hoje, o líder pode ser mais vulnerável e a decisão pode ser colegiada, o mais importante é que as partes impactadas possam ser ouvidas e que se gere mais valor para o coletivo”, ressalta. >
Botelho destaca que a Geração Z deixa como principal lição o fato de compreender que liderar é adaptar-se. “Vivemos em um ambiente de trabalho com diversas gerações, em um mundo que a tecnologia muda constantemente e que não existe uma fórmula única de sucesso, ser capaz de escutar as pessoas, se colocar no lugar delas e ter humildade para assumir erros e aprender com eles são a chave para um mundo do trabalho melhor”, acredita. >
A psicóloga Aila Cardial já atuou com muitas empresas com Workshops e Jornadas de Liderança e um dos temas mais pautados é, justamente, a questão geracional e mudança de cultura. “Entender a perspectiva do outro é um ponto de partida interessante para que essa transição seja leve e ao mesmo tempo estratégica”, sugere. >
A psicóloga reforça que características da Geração Z podem e devem ser incorporados às culturas organizacionais, especialmente no que diz respeito à liderança humanizada e emocionalmente segura. “Saúde mental e segurança psicológica são uma prioridade e os líderes precisam se preparar, independente da geração. A NR01 está aí batendo na porta e a mudança para ambientes mais saudáveis, com clima organizacional adequado começa pela liderança. Isso melhora resultados, produtividade, reduzindo TurNover com aumento da retenção e satisfação das equipes", finaliza. >