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Carmen Vasconcelos
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 06:30
A era das conexões superficiais está ficando para trás. Em um mundo em que confiança, propósito e colaboração valem mais do que trocas imediatas, o networking tradicional — baseado em interesses pontuais — vem cedendo espaço para comunidades profissionais ancoradas em valores divididos. >
“As comunidades de networking criam um ambiente de confiança, colaboração e pertencimento. Nessas redes, as pessoas não se conectam apenas por interesses profissionais, mas por visão de mundo e causas que acreditam”, afirma Laís Macedo, fundadora do hub Future Is Now (FIN). >
Segundo o LinkedIn Business, 85% das vagas de emprego são preenchidas por meio de networking — um dado que reforça o valor estratégico das conexões. Mas, como ressalta Laís, o segredo está em ir além da lógica transacional: “O networking deixa de ser uma estratégia e passa a ser uma experiência transformadora de construção coletiva. É sobre crescer junto, e não sozinho.” >
Transformações >
Para Marcelo Botelho, diretor regional da LHH Nordeste, essa mudança reflete uma transformação cultural mais ampla: “No passado, networking era sinônimo de influência e acesso. Hoje, o propósito autêntico é a construção de confiança entre os indivíduos e o uso da inteligência coletiva em prol de objetivos comuns. Isso exige tempo, presença e disposição para ensinar e aprender.” >
Na nova lógica, relacionamento e estratégia não são opostos, mas forças complementares. Conectar-se com curiosidade genuína e presença ativa se tornou uma vantagem competitiva. >
“As oportunidades surgem quando há confiança, admiração mútua e alinhamento de valores. É a diferença entre ‘usar’ a rede e ‘ser parte’ da rede”, explica Laís. >
Essas comunidades valorizam a contribuição contínua e a generosidade intelectual. Quem ganha destaque não é quem mais se autopromove, mas quem compartilha, escuta e agrega. “A coerência entre discurso e ação é o que fortalece a reputação. O storytelling pode soar como conquista ou aprendizado — depende de como é contado”, complementa Botelho. >
Lideranças humanas>
Se o networking já foi visto como um meio de autopromoção, hoje é também um espaço de vulnerabilidade e troca real. “Compartilhar uma falha com o grupo pode gerar aprendizado coletivo e fortalecer vínculos. O erro, quando compartilhado com responsabilidade, se transforma em conhecimento”, destaca Botelho. >
Para Laís Macedo, esse é o alicerce das lideranças do futuro: mais humanas, empáticas e abertas à diversidade. “Liderar hoje é humanizar. A vulnerabilidade, quando feita com responsabilidade, não compromete a imagem — ela fortalece. É essa autenticidade que aproxima e engaja.” >
A pluralidade também assume papel central. “Ambientes diversos promovem discussões mais ricas e resultados melhores. A complementariedade amplia perspectivas e nos torna profissionais mais criativos e completos”, reforça Botelho. >
A tecnologia ampliou o alcance das conexões, mas a profundidade relacional segue sendo o grande diferencial. “Curtidas e mensagens são o início, não o fim. No digital, confiança se constrói com consistência; no presencial, nasce da espontaneidade e da escuta. O segredo é saber transitar entre os dois mundos com autenticidade”, afirma Laís. >
Botelho complementa: “A tecnologia potencializou as interfaces sociais, mas também reduziu o tempo dedicado a conexões presenciais. Precisamos equilibrar os dois universos — ser autênticos tanto atrás de uma tela quanto em uma mesa de café.” >
Para quem está começando, o conselho é simples — e poderoso. “Rede não se constrói com pressa, mas com presença. Participe com intenção, compartilhe o que te inspira, reconheça o trabalho dos outros. Quando você entrega valor real, passa naturalmente a ser lembrado e convidado para oportunidades significativas”, orienta Laís Macedo. >