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Orçamento no limite: mais da metade dos consumidores ainda pretende cortar gastos

Mesmo com perspectivas de melhora na economia, brasileiros continuam com o pé no freio

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  • Maryanna Nascimento

Publicado em 16 de outubro de 2017 às 05:12

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

A economia brasileira já mostra sinais de recuperação. O governo federal inclusive, já prevê um crescimento de 3% para o ano que vem. Mas enquanto estes sinais não se consolidam na vida das pessoas, os brasileiros ainda ajustam as contas para chegar sem dívidas em 2018. Os mais prevenidos avançam os passos e já começam a formatar o orçamento do ano que vem. A pergunta que têm em mente é se devem ou não ser tão otimistas quanto o governo. E, com os cinto já apertados, onde ainda podem cortar. 

Segundo o Indicador de Propensão ao Consumo, apurado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a maioria dos brasileiros segue cautelosa. O levantamento indica que seis em cada dez (59%) pretendem cortar gastos, 32% devem manter o mesmo o nível e apenas 5% pretendem aumentar. Os números se referem às expectativas para este mês de outubro.  “As coisas estão melhorando, mas ainda não é hora de gastar tudo. Contratações voltam a acontecer, porém, os índices de desemprego permanecem altos e o imprevisto pode acontecer a qualquer hora", afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela  Kawauti. Para o economista Gustavo Casseb, as coisas só devem melhorar mesmo no ano que vem. “Este ano nós estamos falando de uma recuperação no Produto Interno Bruto (PIB) que não deve passar de 1%. Isso mostra o quanto a economia está estagnada. Os sinais de recuperação ainda são muito tímidos. O nível de renda ainda não se recuperou, assim como os setores mais empregadres, como a construção civil, a indústria e o comércio de bens e serviços. As incertezas são muito grandes”, diz. 

Estabilidade?

Os efeitos da crise se destacam entre as justificativas para os que irão diminuir o consumo. Com base no levantamento, 23% mencionam os altos preços, 17% o desemprego e 8% a redução da renda. Além desses, 11% citam o endividamento e a situação financeira difícil e 9% citam a intenção de fazer reserva financeira. 

A cautela fez com que o administrador Rodrigo Mariano começasse o quanto antes a definir para onde vai o dinheiro, com projeções para 2018.“Não adianta cortar os gastos e não poder tomar uma cerveja no final de semana ou deixar de comer o que gosta. Então a gente tenta adequar a realidade para poder diminuir os custos”.Algumas das alternativas utilizadas por ele são economizar água, apagar as luzes desnecessárias e negociar um desconto de 10% na escola da filha de 4 anos.“Sei o quanto gasto de gasolina, de lazer ou com manutenção da casa. Agrupo tudo em macro contas e coloco em uma planilha. Tenho controle da casa e também o pessoal”, garante. Para não misturar os gastos e dividir as responsabilidades, sobretudo na hora de usar o cartão de crédito, sua família tem três cartões de crédito. " Tenho o meu, a minha mulher tem o dela e temos um cartão de crédito 9conjunto) para a casa”. 

Outro que está com tudo bem definido na ponta do lápis é o também administrador Matheus Motta. Entre os planos para o ano que vem está acompra de um carro e a reforma do apartamento.  Nos planos do administrador Matheus Motta estão a compra de um carro e a reforma do apartamento (Foto: Marina Silva/ CORREIO) “Eu era estagiário e fui contratado. Podia estar gastando tudo e aumentando o meu padrão de vida. Mas optei por manter o mesmo padrão de vida e me planejar”, explica.Para visualizar e controlar os gatos, ele usa tanto uma planilha quanto um aplicativo para celular, o Guia Bolso. “Estabeleço uma meta do salário e não posso passar, principalmente nos custos variáveis como lazer e alimentação”.  

Onde cortar

Ao desconsiderar os itens de supermercado, na lista dos produtos que as pessoas pretendem comprar, segundo a pesquisa feita pelo SPC, os remédios lideraram (23%), seguido por roupas, calçados e acessórios (20%). Em seguida, aparecem as recargas para telefone celular (17%), perfumes e cosméticos (11%), materiais de construção (7%), eletrodomésticos (7%), salão de beleza (6%), artigos de cama, mesa e banho (6%). Bens de maior valor aparecem só ao final da lista, com os smartphone sendo citados por 5%, os carros citados por 3% e casa própria citada por 3%. 

Para o educador financeiro e coordenador de assistência financeira do Juizado de Apoio ao Super Endividado, Antônio Carvalho, o sentido de alerta do consumidor deve está bem ligado na hora de definir estas prioridades, a ponto de não comprometer o esforço em economizar. “Grande parte das pessoas compram por impulso coisas que são supérfluas, mesmo que estejam em promoção. Realmente, preciso comprar esta roupa agora? Isso é mesmo importante? São perguntas que o consumidor precisa fazer antes de passar o cartão”, aconselha. 

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Outro cuidado são com os “pequenos gastos”. "Dobre a atenção nas compras aparentemente pequenas, que a gente faz no dia a dia. A depender do volume e da frequência elas podem ficar bem maiores do que uma despesa grande”. 

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Diagnóstico Faça um diagnóstico financeiro, ou seja, anote tudo o que for gasto ao longo de um mês, separando as despesas por categorias (energia elétrica, água, alimentação, combustível, telefone, etc.), para saber onde exatamente se pode diminuir ou até mesmo cortar. É muito importante saber onde está se gastando dinheiro para defenir as prioridades e onde estão as “gordurinhas”. 

Endividamento Caso esteja endividado, é necessário fa- zer uma verdadeira faxina financeira, buscando pela causa do problema. Não  adianta procurar o credor para pagar sem saber das suas possibilidades, do quanto possui para quitar as parcelas. Se não fizer assim, pode acabar se enrolando ainda mais. 

Reserva financeira É preciso estabelecer uma disciplina  e fazer uma reserva financeira como obrigação. Mais uma vez vai ser fundamental elejer prioridades. O resultado dos cortes pode ser direcionado a esta reserva. 

Produtos e serviços Na hora de decidir o que comprar, sobretudo no supermercado, busque marcas que atendam  a sua necessidade e não necessariamente ao status que elas carregam. 

 Alerta Cuidado com o crédito. Use ele ao seu favor, com responsabilidade e dentro do limite que você pode pagar. Não dá para ter uma fatura de cartão de crédito que comprometa todo o seu salário. Fique atento. 

Revisão Após colocar todas as despesas na planilha, revise todas as despesas fixas, entre elas pacotes de televisão, telefonia, internet e, até mesmo, a escola dos filhos já pensando no ano que vem. Mantenha o que de fato você consome e barganhe o me- lhor preço. 

Compras compulsivas Mais um alerta: evite comprar por compulsão, principalmente se o orçamento estiver apertado. Para não comprometer todo esforço que foi feito em economizar, volte sempre à mesma pergunta: isto é mesmo necessário? Independente de desconto ou promoção, fuja da compra de itens que não são necessários  naquele momento.