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Carmen Vasconcelos
Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 17:33
O ano de 2025 consolidou decisões de longo prazo e trouxe a certeza de que a reforma tributária brasileira, até então debatida há décadas, finalmente sai do papel em 2026. A regulamentação do IVA Dual, o novo tratamento do Imposto de Renda, a mudança no tratamento da renda imobiliária, o fim da blindagem tradicional de holdings familiares e a adoção de regras compatíveis com o cenário global transformam o Brasil em um novo tabuleiro tributário. >
E o desafio é imediato: a menos de três meses da entrada em vigor das primeiras obrigações práticas da reforma, uma pesquisa da V360 com 355 empresas de médio e grande porte de setores como varejo, indústria, construção civil, agronegócio e tecnologia revelou que 72% ainda não adaptaram seus processos internos às novas regras para recolhimento e declaração dos tributos sobre consumo. Entre elas, 33,2% sequer discutiram internamente os impactos, 38,6% fazem apenas um levantamento preliminar e apenas 28,1% afirmam ter um plano estruturado de transição.>
Para Adriana Melo, especialista em finanças e tributação, esse cenário põe o plano em xeque. “2026 será o ano em que a reforma sairá do PowerPoint e irá para a vida real. Não basta saber a teoria: será necessário revisar estratégias, reforçar controles e repensar estruturas patrimoniais. Quem se adaptar cedo ganha previsibilidade, quem esperar demais vai pagar essa conta de forma mais dolorosa”, afirma.>
A seguir, a especialista apresenta as grandes viradas tributárias que vão direcionar as decisões em 2026:>
1. IVA Dual entra em campo e com custo dobrado>
“A LC 214/2025 tirou do papel o IBS e a CBS, e 2026 já começa com alíquotas-teste obrigatórias, valores simbólicos que ainda não refletem a carga final, mas já impõem adaptação tecnológica e processual. A consequência direta é imediata: empresas precisarão revisar cadastros, reconfigurar parametrizações fiscais e ajustar fluxos operacionais para operar dois sistemas simultâneos. O impacto operacional é pesado, com emissão de notas, escrituração, conciliação e reclassificação de produtos e serviços funcionando em paralelo", comenta.>
“E, do lado do mercado, a transparência do imposto na nota fiscal muda o jogo: pricing, branding e gestão de produto passam a conviver com um consumidor mais sensível ao custo Brasil exposto. Marketing e finanças precisarão andar juntos para monitorar comportamento, percepção de valor e a pressão por eficiência que virá na mesma velocidade da reforma", complementa a especialista.>
2. PF no radar: IR alivia a base, mas cobra rigor do topo>
“A atualização da faixa de isenção trouxe algum alívio às rendas menores, mas estruturas de alto patrimônio passam a ser escrutinadas com monitoramento automático de dividendos, offshores e fundos exclusivos. A fiscalização cruza dados em tempo real e qualquer incoerência patrimonial aciona alerta imediato. O novo IR é claro: quem ganha mais precisa apresentar coerência e transparência", analisa.>
3. Patrimônio e sucessão mais caros: revisões urgentes>
“Com ITCMD avançando para alíquotas de 8% a 10% e alcançando bens no exterior, e com a exigência de valores de mercado seguindo a tendência internacional de avaliação patrimonial por fair value, o que reduz drasticamente o espaço para defesas baseadas em subavaliação artificial, a reorganização patrimonial ganha urgência. Holdings familiares seguem úteis, mas deixam de ser blindagem fiscal: uso gratuito de bens pode gerar incidência de IBS/CBS e novas locações enfrentam carga maior. Finalidade real e governança passam a ser o centro da estratégia", diz Adriana.>
4. Renda imobiliária profissionalizada: PF virou contribuinte>
“A partir de 2026, quem possui mais de três imóveis de locação ou mais de R$ 240 mil anuais em aluguéis será enquadrado no IVA Dual sem deixar o IRPF, ou seja, o contribuinte passa a conviver com dois regimes simultâneos, o que exige contabilidade organizada, segregação de receitas e controle mais rigoroso dos contratos. A lógica da informalidade acabou e o setor verá um salto na profissionalização compulsória. O setor imobiliário viverá uma grande formalização e quem se profissionalizar, com contabilidade e gestão alinhadas, pode pagar menos e ganhar segurança jurídica", explica.>
5. Pressões globais: Pillar II e cadeias produtivas em migração>
“O Brasil entra de vez no jogo do Pillar II com tributação mínima global de 15% para multinacionais, enquanto barreiras comerciais impostas por grandes economias aceleram a realocação produtiva, com cadeias globais migrando para México, Índia e Leste Europeu, regiões que oferecem custos menores e acordos comerciais mais agressivos. Não basta exportar: será preciso pensar em presença global, compliance internacional e estruturação eficiente para competir em mercados protegidos", complementa Adriana.>
A verdade é que este é o resumo que ninguém queria, mas todo mundo precisa ouvir: “No fim, tudo se traduz em poder de compra. Se a reforma gerar eficiência, ganhamos competitividade e previsibilidade. Se virar apenas mais burocracia, trabalharemos mais para levar menos para casa", conclui Adriana Melo.>
Com assessoria>