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Fernanda Varela
Publicado em 2 de novembro de 2025 às 08:00
No Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro, cemitérios de todo o país se enchem de flores, velas e orações. Entre os visitantes, uma dúvida silenciosa se repete: será que quem eu amo está em paz? A resposta, segundo pesquisadores, teólogos e psicólogos, envolve tanto a fé quanto a ciência e, principalmente, a forma como cada pessoa elabora o luto.>
Homenagem a quem morreu vai além do dia do enterro ou do velório e não precisa ser feita no cemitério
Do ponto de vista científico, não há comprovação de que a consciência continue existindo após a morte. Estudos em neurociência, como os revisados pela revista Frontiers in Human Neuroscience e pela Nature, mostram que as experiências conscientes dependem da atividade cerebral. Quando o cérebro deixa de funcionar, também cessam as percepções e os pensamentos. Ainda assim, pesquisadores reconhecem que rituais religiosos e simbólicos ajudam as pessoas a encontrar sentido e conforto diante da perda, fortalecendo o equilíbrio emocional e o processo de aceitação.>
Para as religiões, porém, a morte não é um fim, mas uma passagem. No cristianismo, o Catecismo da Igreja Católica (parágrafos 1020 a 1050) ensina que as almas dos fiéis “estão com Cristo” e aguardam a ressurreição. As orações feitas no Dia de Finados são, portanto, uma forma de interceder e desejar luz aos que partiram. >
No espiritismo, de acordo com O Livro dos Espíritos e a Federação Espírita Brasileira (FEB), o espírito permanece consciente após a morte e continua aprendendo em planos mais sutis. Já nas religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, o falecido retorna ao plano espiritual, sendo reverenciado como ancestral, o chamado egun, num ciclo de continuidade e respeito, segundo estudos do Museu Afro Brasil e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).>
Independentemente da crença, líderes religiosos e pesquisadores concordam que o que mais importa é a forma como a memória de quem partiu é cultivada. De acordo com o padre e teólogo jesuíta Fernando Sampaio, “o amor e o perdão são as maiores expressões de paz para quem está do outro lado”. No espiritismo, o mesmo princípio se aplica: emoções positivas, como gratidão e carinho, são compreendidas como formas de elevar a energia do espírito, ajudando-o a seguir em serenidade.>
Na psicologia, essa ideia encontra respaldo no conceito de “vínculo contínuo”, desenvolvido pela professora Maria Helena Pereira Franco, da PUC-SP, uma das maiores especialistas em tanatologia do país. Ela explica que “o luto não é esquecimento, mas transformação: continuamos ligados a quem amamos, mas de outro modo”. Segundo a pesquisadora, manter lembranças afetuosas, realizar gestos simbólicos e permitir-se viver a saudade são maneiras saudáveis de elaborar a perda e encontrar paz interior.>
Não há sinais universais que indiquem se um ente querido “está bem” após a morte. O que há são caminhos que trazem serenidade: acender uma vela, rezar, visitar o túmulo, fazer o bem em memória da pessoa amada. Para os religiosos, esses gestos ajudam a manter a conexão espiritual; para os psicólogos, são rituais que organizam o luto e transformam a dor em lembrança.>
Neste Dia de Finados, mais do que buscar respostas no além, talvez o essencial seja cultivar o amor que permanece. Honrar quem partiu é continuar vivendo com propósito, e é justamente nessa continuidade que mora a certeza de que, de algum modo, quem amamos está em paz.>