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Agência Correio
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 14:08
“O cérebro funciona como um sistema ativo e em constante adaptação, e o Parkinson interfere nesse processo de forma complexa e em mudança contínua”, afirmou ao Medical News Today o Dr. Aasef Shaikh, MD, PhD, professor, vice-presidente de pesquisa e diretor do Centro de Pesquisa e Educação do Instituto Neurológico do University Hospitals Cleveland Medical Center, no Departamento de Neurologia do UH Cleveland Medical Center. >
Bicicleta e ciclismo
Mesmo sem enfermidades, o cérebro passa por transformações naturais com o envelhecimento. Quando surge uma condição degenerativa como o Parkinson, ela acrescenta novos níveis de complexidade e provoca interrupções irregulares no funcionamento cerebral.>
Shaikh é o autor principal de um estudo recém-publicado na revista Clinical Neurophysiology, que revelou que o ciclismo pode ajudar a recuperar conexões neurais comprometidas pelo Parkinson.>
Para a pesquisa, nove adultos com diagnóstico de Parkinson participaram de 12 sessões de ciclismo distribuídas ao longo de quatro semanas. Todos já possuíam dispositivos de estimulação cerebral profunda (DBS) implantados antes de iniciarem o experimento.>
“Esse trabalho… utilizou a DBS devido à sua capacidade única de registrar a atividade neural nas regiões cerebrais próximas aos eletrodos de estimulação”, explicou Shaikh. “Assim, foi possível analisar como o exercício interfere e até reorganiza o funcionamento cerebral.”>
Os pesquisadores aplicaram um programa de ciclismo adaptativo, no qual a bicicleta ajustava o treino conforme o desempenho individual. Por exemplo, enquanto uma tela exibia a força da pedalada, o equipamento aumentava ou diminuía a resistência de acordo com o esforço do participante.>
Quando concluíram o estudo, Shaikh e sua equipe verificaram que, após as 12 sessões, os voluntários apresentaram alterações mensuráveis nos sinais cerebrais relacionados tanto ao controle motor quanto aos movimentos.>
O MNT também entrevistou Daniel H. Daneshvar, MD, PhD, chefe de Reabilitação de Lesões Cerebrais no Mass General Brigham e professor associado da Harvard Medical School, para comentar a pesquisa.>
Segundo Daneshvar, este foi um estudo criativo e promissor que responde a uma questão fundamental: em que medida o exercício realmente promove mudanças no cérebro de pessoas com Parkinson?>
A reportagem conversou ainda com Samer Tabbal, MD, neurologista e diretor do programa de distúrbios do movimento no Baptist Health Miami Neuroscience Institute, que integra o Baptist Health South Florida.>
“O efeito positivo do exercício sobre os sintomas motores em pacientes com Parkinson já foi comprovado por vários estudos anteriores”, destacou Tabbal. “O diferencial deste trabalho é propor uma explicação de como esses benefícios surgem, mostrando que a atividade física modifica o comportamento celular mesmo em um cérebro lesionado. >
Essa capacidade de adaptação, que inclui a criação de novas conexões, é chamada de neuroplasticidade.”>
“Um ponto interessante é que o ciclismo dinâmico não mostrou impacto imediato nos parâmetros analisados, mas apresentou benefícios claros em longo prazo”, completou. “Isso pode indicar que os ganhos do exercício se consolidam com o tempo e que os pacientes devem manter a prática sem esperar resultados imediatos. >
É semelhante a como uma amizade verdadeira se fortalece com os anos de convivência.”>
Para Tabbal, conhecimento é poder, entendido como a capacidade de transformação. Quanto mais se compreender como o exercício melhora o funcionamento cerebral, mais eficaz será o uso dessa ferramenta para aliviar os sintomas da doença.>
“No futuro, se soubermos exatamente como a atividade física favorece o cérebro, poderemos buscar alternativas que ofereçam o mesmo efeito, ou até maior, como medicamentos, estimulação elétrica ou magnética, terapias com música ou até luz”, finalizou.>