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Agência Correio
Publicado em 13 de outubro de 2025 às 09:00
Experiências marcantes como o nascimento, as primeiras palavras e os primeiros passos fazem parte da trajetória de todos nós. >
Mesmo assim, não conseguimos trazer essas recordações à mente. Esse fenômeno é conhecido como amnésia infantil e, há muitos anos, é alvo de estudos de psicólogos e neurocientistas.>
Famosas que tiveram bebê em 2025
O grande questionamento é se de fato produzimos lembranças na fase inicial da vida e depois as perdemos, ou se o cérebro infantil ainda não possui estrutura para armazená-las de forma permanente.>
Nick Turk-Browne, professor da Universidade de Yale, explicou à BBC que até recentemente predominava a ideia de que os bebês não eram capazes de formar lembranças.>
Essa noção estava associada tanto à ausência de um senso de identidade consolidado quanto ao fato de ainda não falarem.>
Outra linha sugeria que só por volta dos quatro anos as memórias começavam a ser registradas, quando o hipocampo, área responsável por consolidar novas lembranças, já teria atingido maior maturidade.>
“Ele cresce mais do que o dobro durante a infância”, disse Turk-Browne. “Por isso, talvez não tenhamos ainda os circuitos necessários para guardar as experiências iniciais.”>
Um trabalho recente liderado pelo pesquisador, no entanto, apontou que essa visão pode ser limitada.>
O estudo acompanhou a atividade cerebral de 26 bebês de quatro meses a dois anos diante de imagens e indicou que o hipocampo já parece ter condições de registrar informações a partir do primeiro ano de vida.>
Esse resultado foi considerado um ponto de partida para compreender se os pequenos realmente criam lembranças. Para Turk-Browne, a próxima etapa é descobrir se essas memórias ficam guardadas em algum nível e se, no futuro, poderiam ser recuperadas.>
Pesquisas com animais reforçam essa possibilidade. Em 2023, cientistas mostraram que ratos adultos haviam esquecido a saída de um labirinto, mas retomaram a lembrança quando áreas específicas do hipocampo foram estimuladas artificialmente.>
Catherine Loveday, professora de neuropsicologia da Universidade de Westminster, afirmou à CNN que também acredita que bebês já conseguem gerar memórias, sobretudo quando começam a falar.>
“As crianças voltam da creche e contam algo que aconteceu. Porém, alguns anos depois, não sabem mais relatar. Isso indica que a memória existia, mas não permaneceu registrada”, explicou.>
Um fator que dificulta o estudo da amnésia infantil é identificar se as memórias relatadas de quando éramos bebês são verdadeiras.>
Segundo Loveday, o cérebro reconstrói lembranças e, a partir de relatos externos, podemos criar recordações falsas que soam autênticas.>
“O problema é que a memória nunca é uma gravação perfeita. Se alguém conta algo e você tem informações suficientes, seu cérebro pode montar uma cena que parece real”, afirmou à CNN.>
Para Turk-Browne, isso toca em um ponto essencial da existência humana. “Está ligado à nossa identidade”, declarou.>
“E o fato de termos esse vazio nos primeiros anos de vida, em que não conseguimos acessar lembranças, realmente desafia a forma como pensamos sobre quem somos.”>