Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Agência Correio
Publicado em 24 de julho de 2025 às 08:16
A China, conhecida por seu rápido crescimento, revela um paradoxo urbano chocante: condomínios de luxo abandonados que, antes sonhados para a elite, hoje abrigam agricultores e seus animais. Essa realidade em Shenyang e outras cidades ilustra as profundas cicatrizes de uma bolha imobiliária monumental. >
Projetos grandiosos, pensados para serem símbolos de status, como as "Mansões de Hóspedes do Estado", jazem incompletos, com suas fachadas em ruínas e terrenos invadidos pelo mato. A visão de riqueza desmoronou, cedendo lugar a um cenário inusitado de sobrevivência e adaptação.>
Esta transformação não é um evento isolado, mas um reflexo da supervalorização do setor imobiliário chinês, onde a especulação superou a demanda real. Assim, milhões de imóveis permanecem vazios, evidenciando uma desconexão preocupante com as necessidades da população.>
As vilas, idealizadas pelo Greenland Group, ostentavam colunas de mármore e lustres de cristal, com arquitetura inspirada na Europa. No entanto, a construção foi paralisada bruscamente, apenas dois anos após o início. Agora, o luxo prometido deu lugar a estruturas inacabadas e a uma paisagem de abandono.>
A ausência de compradores transformou esses empreendimentos em alvos de ocupação, não por criminosos, mas por agricultores locais em busca de moradia e terra para cultivo. Essas residências, antes destinadas a milionários, agora servem de lar para pessoas que dependem da agricultura e do pastoreio.>
O que dá para comprar com um prêmio da loteria?
O cenário é de contrastes marcantes, onde o passado de ostentação encontra a dura realidade do presente. "Entre colunas neoclássicas, pastam vacas. Onde antes havia carros importados, agora há tratores, enxadas e ferramentas de cultivo", descreve a situação em Shenyang.>
A China enfrenta uma proliferação de cidades fantasmas, um sintoma claro de um modelo de crescimento insustentável baseado na especulação imobiliária. Existem cerca de 65 milhões de imóveis vazios no país, um número impressionante que se aproxima da metade da população brasileira, segundo a revista americana AD magazine.>
Além de Shenyang, outras cidades exibem o mesmo destino, como Thames Town, perto de Xangai, que replicava Londres e hoje está quase desabitada. Kangbashi, em Ordos, projetada para um milhão de habitantes, nunca atingiu sequer um décimo desse número, permanecendo em grande parte vazia.>
Diversos fatores contribuíram para essa crise, incluindo a falta de compradores, o envelhecimento da população e o crescente custo de vida. Construtoras endividadas e projetos paralisados são as consequências diretas, alimentando a expansão das vilas abandonadas. Este cenário mina a confiança chinesa no setor imobiliário.>
A ocupação informal, embora improvável, trouxe algum propósito a essas áreas que de outra forma estariam em total degradação. Contudo, o fenômeno sublinha a vulnerabilidade de um planejamento urbano que se distancia das reais demandas da sociedade.>