Dever de Classe e Injúria mostram que o punk está vivo em Salvador

Bandas se apresentam no sábado no Mercadão C.C, no Rio Vermelho

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  • Roberto Midlej

Publicado em 28 de março de 2024 às 06:00

A Dever de Classe nasceu em 1984, no fim da ditadura. Hoje, é formada por Nêio (baixo), Mauro (bateria),  Iure (guitarra) e Willyams (vocal)
A Dever de Classe nasceu em 1984, no fim da ditadura. Hoje, é formada por Nêio (baixo), Mauro (bateria), Iure (guitarra) e Willyams (vocal) Crédito: divulgação

Em 1981, a banda escocesa The Exploited - que existe até hoje - gravou um álbum chamado Punks not Dead, para mostrar ao mundo que o punk não havia morrido, ao contrário do que se apregoava em alguns cantos. Agora, é a vez de duas bandas baianas mostrarem que o punk está vivíssimo por aqui.

E, se você duvida disso, vá ao Mercadão C.C, no Rio Vermelho, neste sábado, às 17h30: vão se apresentar lá as bandas Dever de Classe e Injúria, duas veteranas bandas baianas representantes deste movimento que surgiu nos Estados Unidos nos anos 1970 e, na Bahia, ganhou muitos adeptos principalmente na década seguinte.

A Dever de Classe estará no palco com dois de seus fundadores: Willyams Martins e Nêio Mustafa. Eles terão a companhia de Mauro Rodrigues e Iure Aziz, que aderiram ao grupo mais tarde. Na Injúria, estão Fábio Castro (bateria e samplers), Manoel Messias (baixo e voz) e Adriano Bastos (guitarra). O show, uma iniciativa de Messias GB (fundador da banda brincando de deus), tem como pretexto o apoio à Palestina.

Surgida em 1984, no fim da ditadura militar, a Dever de Classe nasceu a partir de encontros que Willyams organizava naquela época na Faculdade de Comunicação da Ufba - Facom, no Canela, onde hoje funciona o curso de biblioteconomia. Nêio é de Brasília e chegou a Salvador em 1983. Quando tinha por volta de 16 anos, começou a frequentar aqueles encontros e foi fisgado pelo discurso punk.

"Lili [apelido de Williams entre amigos] conseguiu arregimentar jovens negros da periferia da cidade interessados no comportamento punk. Ele era um catalisador de contatos da comunidade punk e naquelas reuniões compartilhava com os outros as ideias do movimento punk", lembra Nêio.

Os encontros na Facom eram também uma oportunidade de ler os "punkzines" produzidos fora da Bahia. Essas publicações eram uma espécie de revista amadora voltada para a cultura punk e foram um importante meio de comunicação entre os adeptos do movimento. Ali, os leitores sabiam das novidades do mundo punk, que não eram notícia nos meios convencionais.

Adriano (guitarra), Fábio (bateria) e Manoel (baixo e voz), da Injúria
Adriano (guitarra), Fábio (bateria) e Manoel (baixo e voz), da Injúria Crédito: divulgação

Williams diz que, como a banda foi criada no final da ditadura militar, era natural que as canções fossem quase sempre com um tom de contestação às instituições, com uma ressalva: "A gente assimilava as letras do primeiro mundo [onde o punk surgiu e mais revelou bandas de sucesso], mas adaptava à nossa realidade, para falar de nossos problemas, de nossos costumes e comportamentos".

As questões políticas e sociais brasileiras estão em músicas como Pátria Armada: "Não me venha com este papo de pátria (...)/ Como posso gostar de um país que não me dá nada?/ A polícia dá porrada sem a gente fazer nada!". Há ainda críticas ao domínio político e econômico dos EUA sobre o mundo: "O imperialismo americano está sobre nós/ Impondo leis brutais e o poder destrói/ O meu povo é mameluco, é mulato e é cafuzo", canta Williams em Americanos Horríveis. Essas e outras canções da banda estão disponíveis no YouTube, basta procurar por "Dever de Classe - Desarmar o Mundo".

A Injúria, que também estará no Mercadão C.C neste sábado, surgiu cerca de uma década depois da Dever de Classe, em 1993, em Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. "Logo de cara, enfrentamos o segundo Garage Rock Festival, maior festival de bandas alternativas de Salvador na época. Dali em diante, tocamos em outras cidades, como Brasília, e nos abrimos para bandas como Ratos de Porão, e Dog Eat Dog", lembra Manoel Messias.

Também atenta a questões sociais, a Injúria nasceu na época do Levante Anarcopunk, segundo Messias: "O punk era forte e atuante na cidade e nós nos reuníamos no Centro da cidade para participar de manifestações e protestos como o Grito dos Excluídos. Somos contemporâneos de bandas como Revolução Proletária, AI-5, Antropofobia... e tocávamos na Cidade Baixa e Subúrbio", lembra o vocalista. Nas plataformas de música, estão dois EPs da banda: Somos Todos Iguais e Bootleg Live in Pelô.

O que: Base do Som - Bandas Dever de Classe e Injúria

Onde: Mercadão C.C. Rua Guedes Cabral, 20. Rio Vermelho. Salvador – Bahia. Brasil.

Quando: Sábado, 30/03/2024, às 17:30h.

Quanto: R$ 25