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Roberto Midlej
Publicado em 7 de setembro de 2023 às 06:00
Um dia, assistindo ao noticiário na TV, Leandro Hassum se deparou com um fato um tanto curioso: um perigoso bandido, muito procurado, havia sido preso por acaso, quando, ao sair para deixar o lixo na rua, foi reconhecido por um vizinho, que chamou a polícia. Foi daí que o ator teve a ideia para a série B.O., que está chegando à Netflix. >
Em oito episódios, a comédia conta a história de Suzano - interpretado pelo próprio Hassum -, um policial que, no interior do Rio de Janeiro, captura por acaso um bandido ligado à máfia dos caça-níqueis. Suzano estava andando no segundo piso de uma casa velha quando, de repente, o chão se rompeu e ele caiu em cima do criminoso, que desmaiou. >
Daí, ele é logo alçado à fama de herói e não demora para que seja premiado com uma promoção, para liderar a equipe da 8ª DP da capital fluminense, que atua no combate ao crime organizado e enfrenta os bandidos mais perigosos do estado. >
Só há um pequeno problema: Suzano é medroso, não tem coragem de enfrentar bandidos e odeia ter que se meter em conflitos na hora de gerir sua equipe. Apesar disso, é do tipo boa-praça, querido por todos. Uma característica resume bem a personalidade de Suzano: ele é presidente do fã-clube de Sandy e Júnior, mesmo já chegando aos 50 anos de idade.>
Leandro Hassum
ator e criador da série B.O.Workplace Comedy>
Uma das peculiaridades de B.O. é trazer para uma produção brasileira um gênero muito pouco explorado por aqui, a "workplace comedy", que é a comédia passada em um ambiente de trabalho. Neste caso, trata-se de uma delegacia. Uma das referências neste gênero é a clássica The Office, que nasceu no Reino Unido, mas sua versão mais popular é a americana, estrelada por Steve Carell entre 2005 e 2013 e disponível no HBO Max.>
Hassum reconhece que a criação de Suzano foi influenciada pela série com Carell: "Pensei em Michael Scott [personagem de Carell] e essa seria a inspiração. Um cara que acha que tá falando uma coisa incrível, mas na verdade tá falando um tremendo absurdo. A ideia inicial era ele, depois vieram outras coisas".>
Como ocorre em The Office, praticamente toda a ação de B.O. ocorre num mesmo ambiente, que é a delegacia. Vindo do teatro, Hassum diz que sua origem contribuiu para que se sentisse mais à vontade neste formato. Além disso, a carreira teatral, segundo ele, ajudou a criar um clima leve nas filmagens. >
"Gosto de trabalhar em trupe, em galera, porque, quanto mais intimidade você tem, mais fica à vontade pra brincar com o outro", revela o ator, que tem 33 anos de carreira e agora estreia como diretor de um produto audiovisual: além de atuar e criar B.O., ele dirige o sétimo episódio. E ainda dá ideias para o roteiro de cada capítulo. >
A "trupe" a que Hassum se refere é bem grande e talentosa: Luciana Paes, Taumaturgo Ferreira, Jefferson Schroeder, Babu Carreira e Digão Ribeiro estão no elenco principal, e são os que mais contracenam com o protagonista na delegacia. E é a competência dos atores e atrizes que segura a série, que, embora esteja acima da média das produções estreladas por Hassum, tem piadas meio insossas e, às vezes, envelhecidas. >
Mas Hassum, é verdade, tem se esforçado para atuar de maneira menos histriônica que há algum tempo, como ele mesmo observou na entrevista. Com a própria Netflix, ele já fez comédias melhores que as suas "clássicas" O Candidato Honesto ou Até que a Sorte Nos Separe, marcados pelo seu histrionismo na interpretação e em piadas muitas vezes vulgares. >
Tudo Bem no Natal Que Vem e Os Vizinhos são filmes que marcaram o início da parceria de Hassum com a Netflix e mostravam um protagonista ingênuo, às vezes meio bobo. E B.O. não é diferente: além de Suzano ser parecido com aqueles outros tipos interpretados pelo comediante, a série, como as outras produções citadas, é para ver em família, dar umas risadas - bem discretas - e esquecer logo depois.>