Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
'Delírio a Dois' traz Lady Gaga, além de toques de musical e de romance. Mas o longa parece ter sido feito apenas para dar brilho a Joaquin Phoenix
Roberto Midlej
Publicado em 2 de outubro de 2024 às 06:00
Há cinco anos, o mundo se impressionou com a atuação de Joaquin Phoenix como o Coringa, no filme que levava o nome do personagem. Até a Academia se rendeu e o ator levou o Oscar para sua prateleira. Nas bilheterias, o filme dirigido por Todd Phillips quebrou um recorde: foi a primeira produção R-rated a quebrar a barreira de um bilhão de dólares. Nessa classificação indicativa, menores de 17 anos só entram acompanhados de um responsável.
E a atuação de Phoenix era mesmo marcante. Sua performance, embora muita histriônica, provavelmente atendia ao que o personagem pedia. O desempenho do ator, aliás, correspondia ao tom do filme, exagerado em praticamente tudo. Mas o impacto causado pela interpretação do protagonista já passou. Sua risada maquiavélica já não é mais uma novidade. Seu jeito bizarro de dançar também já não impressiona. Havia ainda a violência extrema, igualmente impactante há quatro anos. Então, Coringa: Delírio a Dois, que estreia amanhã nos cinemas, precisava ir além disso tudo, para não repetir a fórmula do primeiro filme.
Todd Phillips, que permanece na direção e divide o roteiro novamente com Scott Silver, se esforçou em busca de novos elementos, incluindo um toque de romance e pitadas dos velhos musicais de Hollywood. Mas Delírio a Dois tem outros dois elementos muito presentes no cinema americano: além de ser boa parte passado dentro de um presídio, é também um filme de tribunal.
Neste novo capítulo, passado após os acontecimentos do primeiro longa, Arthur Fleck, o Coringa, está internado no Asilo Arkham e aguarda seu julgamento pelos assassinatos que cometeu no filme anterior. Mas não é só ele que espera o grande dia no tribunal: todo o país, em mais uma demonstração da espetacularização da violência, aguarda ansiosa. A mídia não fala em outra coisa.
E, se no Brasil, Deolane Bezerra foi capaz de mobilizar seus seguidores até a porta do presídio para pedir sua liberdade, em Gotham City não é muito diferente: o Coringa, mesmo tendo matado um homem ao vivo em rede nacional de televisão, é herói para alguns. As pessoas vão para a porta do fórum segurando cartazes em sinal de apoio a ele e alguns até se maquiam como o palhaço vilão. Ou seria herói?
Por ser um preso bem comportado, Arthur ganha o direito de frequentar aulas de música e lá conhece Lee Quinzel / Arlequina, interpretada por Lady Gaga. Surge, claro, uma química entre os dois, que passam a viver uma paixão absolutamente delirante. E é nesses momentos de delírios dos personagens que surgem os números musicais protagonizados por Gaga e Phoenix.
A cantora, além de atuar e cantar no filme, foi também consultora musical do longa e ajudou a selecionar o repertório. Há referências diretas aos antigos musicais, como o momento em que ela interpreta That’s Entertainment, do filme A Roda da Fortuna (1953), com Fred Astaire e Cyd Charisse. Como o primeiro filme do Coringa, aparecem também algumas canções de Frank Sinatra.
No fim, Delírio a Dois parece não querer se assumir como musical nem como um filme de tribunal. E nem como romance. Acaba sendo um pouco de tudo e cansa um tantinho. Além disso, parece que tudo foi criado para dar a Joaquin Phoenix mais uma oportunidade de brilhar sob os holofotes por duas horas e meia. Cada take foi milimetricamente pensado para que o ator se sobressaísse. E ele se sobressai, mas, como dissemos lá em cima, já não há mais surpresa aí, afinal é a mesma performance.
No fim, o que fica é um gostinho de mais do mesmo.
Em cartaz: UCI (Shopping da Bahia, Barra e Paralela); Cinemark (Salvador Shopping); Cineflix (Bela Vista); Saladearte (Paseo e Ufba); Glauber Rocha