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Estadão
Publicado em 21 de agosto de 2023 às 13:52
Desde a década de 1990, o repórter secreto do Fantástico, programa da Rede Globo, gerava curiosidade. Para proteger sua integridade física - e, ainda mais, o seu trabalho -, Eduardo Faustini, o jornalista por trás da função, nunca havia mostrado o rosto. Até agora. >
Neste domingo, 20, a atração exibiu mais um capítulo de uma série de reportagens que comemora os 50 anos de exibição do programa. O episódio surpreendeu os telespectadores com a decisão de Faustini em mostrar a aparência pela primeira vez na televisão.>
"O fato de eu não ser conhecido me possibilitou fazer inúmeras matérias de infiltração, de ir a lugares sem ser reconhecido", contou. "E agora já está na hora de descansar um pouco e não tem mais por que eu me esconder", disse Faustini antes de mostrar o rosto no Fantástico.>
O jornalista não escondeu seu incômodo ao aparecer pela primeira vez na televisão. "Estou extremamente desconfortável fazendo isso aqui. Quando estou fazendo o meu trabalho, eu não sinto nada. Eu não posso tremer, eu não posso gaguejar, e isso possibilitou muitas denúncias importantes que nós fizemos ao longo dos anos", afirmou.>
Carreira>
Eduardo Faustini é um dos mais importantes jornalistas investigativos da atualidade. Começou a carreira como repórter investigativo na Rede Manchete em 1990, migrando para o SBT dois anos depois. Em 1995, ele começou a trabalhar na Rede Globo.>
"Ele é um homem da primeira página", comentou Pedro Bial ao falar sobre a importância de Faustini para o Fantástico. O jornalista usava seu anonimato e câmeras escondidas para apurar, principalmente, denúncias de corrupção.>
Em 2002, Faustini investigou um sistema de "rachadinhas" em um gabinete de uma prefeitura do interior do Estado do Rio de Janeiro. Segundo o jornalista, foi a primeira vez em que se falou de "rachadinhas" na televisão.>
Com suas reportagens, o jornalista coleciona diversos prêmios que recebeu ao longo da carreira, como o Prêmio Esso de Jornalismo, o Grande Prêmio Líbero Badaró e o Prêmio Embratel.>
Neste último, Faustini recebeu o primeiro troféu na categoria Tim Lopes, criada para homenagear outro grande jornalista investigativo brasileiro. Na ocasião, o repórter foi reconhecido por uma denúncia da "Máfia das funerárias", um esquema que envolvia médicos e funerárias em atestados de óbitos comprados.>
A partir de 2014, ele passou a estar à frente da série Cadê o dinheiro que estava aqui?, na qual investigava esquemas de desvio de dinheiro público. Uma das denúncias que mais gerou repercussão envolveu obras paradas para a Copa do Mundo em Cuiabá em 2015. Faustini descobriu que R$ 640 milhões foram desviados de projetos que nunca haviam sido concluídos.>
Durante a participação no Fantástico neste domingo, o jornalista comentou sobre a responsabilidade e as consequências de seu trabalho. "Essas pessoas são processadas, presas, empresas são fechadas, casamentos são desfeitos. Eu sabia o peso dessa responsabilidade. Eu tenho ideia que sacrifiquei a minha família, a minha mulher, o meu filho, e eles nunca me cobraram", disse.>
Faustini se emocionou ao contar que o filho teve de fazer faculdade com policiais na porta da sala de aula. "Tem esse lado, que eu não posso negar que aconteceu e faz parte da minha vida. Graças a Deus, eu estou aqui e só tenho gratidão", relatou>
O jornalista anunciou que deixaria o programa após 26 anos em uma publicação feita no Twitter em 2021. "Saio com a paz da missão cumprida e com o coração explodindo de tanto carinho vindo dos meus colegas deste imenso país. Eu não imaginava ser tão querido. Esse é, sem dúvida, o maior patrimônio que construí", escreveu à época.>