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Roberto Midlej
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 06:00
Ele não é imponente como o Teatro Castro Alves e sua capacidade é em torno de 60 pessoas. Mas duvido que você encontre em Salvador um espaço tão simpático e aconchegante como o Teatro Gamboa, fundado há 51 anos pelo diretor Eduardo Cabus. O Gamboa tem um charme todo especial porque a plateia fica a pouquíssimos metros dos atores, mesmo que você esteja na última fila. Não bastasse isso, o fundo do palco é uma parede de vidro, que dá vista para a Baía de Todos-os-Santos. >
Os atuais proprietários resolveram se desfazer do imóvel, mas desejam que o espaço continue sendo dedicado à cultura. Por isso, a preferência de compra é da Associação Teatro Gamboa, que há 18 anos administra o local. Mas, como o grupo não tem dinheiro para adquirir a casa, resolveu lançar uma campanha no site Catarse, para arrecadar R$ 500 mil e manter o espaço em atividade.>
Vale lembrar que o imóvel vale, ao menos, R$ 900 mil. Os proprietários, no entanto, sensibilizados com a causa, resolveram reduzir o valor e vendê-lo por apenas R$ 300 mil para a Associação. Dos R$ 500 mil que se pretende arrecadar, R$ 200 mil serão destinados a reforma. Atualmente, os donos são os herdeiros do ator Perry Salles (1939-2009), que adquiriu o teatro nos anos 1990.>
Como de costume nas vaquinhas virtuais, há cotas de diversos valores e, para cada tipo de colaboração, há uma recompensa. Se você contribui com R$ 50, pode assistir a um espetáculo com transmissão online. Se doa R$ 100, ganha uma caneca; com R$ 500, tem direito a ir a um show exclusivo de Tiganá Santana e por aí vai. E a recompensa mais importante: o Gamboa continuará em atividade.>
História>
A Associação Teatro Gamboa arrendou o espaço em 2007, depois de negociar diretamente com Perry Salles. O fundador do grupo, o ator Maurício Assunção, destaca que não há fins lucrativos e todos os membros da Associação recebem salários praticamente iguais entre si. Este modelo horizontal de administração foi decisivo, segundo Maurício, para que Perry aceitasse arrendar o teatro à entidade.>
Hoje, a Associação é mantida por um edital estadual que dá em torno de R$ 50 mil mensais, o que torna impossível ter dinheiro para comprar o imóvel. Essa verba é gasta quase na totalidade com os salários dos cerca de dez membros da associação, que prestam serviços ao teatro.>
Maurício destaca uma característica importante do Gamboa: o artista que se apresenta ali não paga pauta e, além disso, desfruta dos serviços de profissionais gratuitamente: “Tem assessoria de imprensa, designer e também produzimos cards para mídias sociais, além de oferecermos suporte de som e luz”. E mais: toda a bilheteria fica para o realizador do espetáculo. Além disso, os ingressos custam, no máximo, R$ 40.>
artistas>
Artistas baianos ressaltam a importância do Gamboa e da campanha para que o teatro continue na ativa. A atriz Márcia Andrade, que já apresentou peças como Playback naquele palco, fala sobre o papel do Gamboa: “Ele tem uma importância fundamental na minha vida como atriz e como pessoa, porque nós, artistas, somos público também. O Gamboa é um teatro democrático, necessário para a cidade, e Perry Salles tinha esse pensamento. É muito bom, porque os meninos [que administram o Teatro] dão continuidade a essa visão. O desejo de Perry era o mesmo deles: que o Gamboa fosse aberto a todos”.>
O ator Diogo Lopes Filho diz que o Gamboa é um “teatro-aconchego”: “É um teatro a serviço da classe teatral baiana. Ali, vi a estreia de Oficina Condensada [com Rita Assemany], Beijo no Asfalto, e atuei em espetáculos lá. Aquele lugar não pode se perder em outra função: precisa continuar sendo um teatro”>
“Comecei a fazer teatro há 35 anos e sou assíduo frequentador do Gamboa. Já fiz muitos espetáculos lá, como Seu Bonfim e Casa Número Nada. Participei também do projeto Prata da Casa, oficinas, palestras...”, diz o ator Fábio Vidal, que também destaca a peça Oficina Condensada.>
Márcia Rabelo, irmã de Perry Salles, ressalta que o único desejo do irmão era que o Gamboa se perpetuasse como teatro e que nunca tivesse outro fim. “Temos poucos teatros em Salvador, então o Gamboa precisa continuar. Já houve propostas de restaurantes e até de construtoras, mas não aceitamos”, garante.>
O curioso é que, em 1994, Perry Salles não tinha dinheiro para comprar o Gamboa, mas deu o jeito dele. Para isso, fez uma “vaquinha” com amigos e família. Agora, a história se repete: só muda a forma, porque a vaquinha, desta vez, é digital.>
SERVIÇO>
Campanha Fica, Gamboa. Site: www.catarse.me/ficagamboa. Cotas a partir de R$ 50>