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Donaldson Gomes
Publicado em 17 de maio de 2024 às 05:00
A história de Jacobina, a pouco mais de 400 quilômetros de Salvador, se confunde com a da mineração. Quando a atividade vai bem, a cidade acompanha, e nos momentos em que a mina esteve parada, todos sentiram o efeito, conta Sandro Magalhães, country manager Brasil & Argentina no grupo Pan American Silver, detentor da Jacobina Mineração. A operação é responsável por manter 2,8 mil empregos e responde por aproximadamente 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade. Ações de responsabilidade de empresas como a Jacobina Mineração serão apresentadas durante o III Fórum ESG, promovido pelo CORREIO e o Alô Alô Bahia, nos dias 22 e 23 deste mês, no Porto de Salvador. >
Quem é>
Sandro Magalhães é country manager Brasil & Argentina no grupo Pan American Silver, detentor da Jacobina Mineração. Formado em Engenharia de Minas, atuando como executivo nas áreas de gestão empresarial do setor mineral, é o atual presidente do Sindicato de Mineração da Bahia (Sindimiba), membro do conselho de sustentabilidade da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e vice-presidente do comitê que representa as mineradoras da Bahia. >
Como foi o processo de amadurecimento da Jacobina Mineração em relação à agenda ESG?>
Muito antes do nome ESG estar em voga, a Jacobina Mineração já vinha pensando em melhorias no seu processo de governança e nas ações de apoio à comunidade, principalmente na parte educacional, e nos cuidados com o meio ambiente. Ela sempre trabalhou nesta linha porque os cuidados ambientais, sociais e com uma gestão responsável fazem parte do nosso modelo de negócio. E eu não falo isso da boca para fora, existe um orçamento separado para isso, assim como temos para manutenção e a própria produção. Isso tudo faz parte dos valores da empresa. Não somos uma dessas empresas que ficam postando um monte de coisas nas redes sociais e quando você olha de perto descobre que não é nada daquilo. Quando colocamos o assunto como um valor, deixamos claro que temos esta responsabilidade, você só concretizar se trabalhar de forma estruturada. A gente investe muito em equipamentos e estrutura, mas o nosso maior orgulho está no desenvolvimento de uma cultura, um pensamento sustentável dentro e fora da empresa. >
Se não for assim, torna-se algo falso, não é?>
Veja, não adianta eu pegar um caminhão, ou uma máquina, pintar de rosa e postar no Linkedin, achando que estamos fazendo uma grande coisa. Não está fazendo nada. Só está fazendo algo quando contrata competência e respeita isso independente de a pessoa mais competente ser homem ou mulher. Na Pan American, como um todo, temos orgulho de ter mulheres atuando desde os cargos de operadoras, quanto em funções de liderança e chegando até à alta gestão da empresa. Nosso conselho saiu de 37% de mulheres em 2022 para 45% agora. É um motivo de grande orgulho para a gente. >
Como este processo se desenvolveu?>
Se você pensar em termos de grupos temáticos, depois internalizar o conceito e separar os recursos, um passo importante é ter grupos específicos trabalhando com os temas de meio ambiente, social e de governança. >
Quando exatamente se iniciou este trabalho?>
Este trabalho já estava contido nas políticas da antiga detentora da Jacobina Mineração. A partir de 2017 veio a ideia de dar passos maiores e dar mais peso para este fim. Por exemplo, tivemos a criação de um setor para pensar na relação com as comunidades. Na parte ambiental, contratamos especialistas para trabalhar com a gestão de águas, outros, internacionais, para entender o que havia de melhorar a se aplica. Em termos de governança, tanto os proprietários atuais quanto os antigos, possuem ações na bolsa e você não sobrevive se tiver problemas com governança.>
Como é o processo de governança de vocês?>
Nós temos um termo de referência que estabelece aquilo que é correto, atendendo a legislação, temos política antissuborno, anticorrupção, tolerância zero com assédio moral ou sexual. Tem valores que são inegociáveis. Tudo isto está em nosso código de conduta e todo semestre treinando os nossos trabalhadores. Nós fazemos o treinamento e passamos por processos de auditorias internas e externas. Além disso, é ter políticas sérias de contratação e um movimento de adequação contínua. Não adianta dizer que abre espaço para mulheres e não oferecer um espaço de trabalho adequado para elas. O macacão precisa ser adaptável ao corpo da profissional quando ela engravida. Nós fizemos isso há alguns anos, temos uniformes especiais. A gente também valoriza muito a nossa prata da casa. Vários profissionais que começaram em Jacobina hoje estão em empresas de todo o mundo. Temos que contar isso com orgulho. >
As empresas do setor mineral já amadureceram no sentido de mostrar mais à sociedade as suas operações?>
As empresas mineradoras sempre foram muito fechadas, apesar de terem melhorado muito. Hoje na Bahia, as 11 mineradoras associadas estão muito animadas em mostrar cada vez mais o trabalho que a atividade realiza. Veja, não existe vida sem mineração e isto não vem de agora, desde a pré-história, o homem depende da mineração para sobreviver. Se pensarmos na vida moderna, ela não existe sem a mineração. Eu estou falando de medicamentos, de aparelhos eletrônicos, do próprio celular que algumas pessoas utilizam para criticar a mineração. A vida humana está ligada à mineração e ela não deveria ser penalizada como setor quando uma empresa cometeu algum tipo de erro, ou causou algum acidente grande. O que a gente tem que melhorar os nossos padrões, perseguir a excelência e subir nossos padrões para evitar que eventos indesejáveis aconteçam. Nosso papel é melhorar a vida de pessoas através da transformação mineral e eu não falo apenas sobre questões financeiras. Nós chegamos onde nenhum outro tipo de indústria consegue chegar e transformamos a vida das pessoas. O trabalhador, que muitas vezes concluiu a muito custo o segundo grau, vai trabalhar numa empresa com plano de saúde, odontológico, auxílio educação e vai ter acesso a uma série de treinamentos que, se levar a sério, terá possibilidade de se tornar um ser humano melhor. Os programas voltados para cultura e educação conectam as pessoas ao mundo.>
Quais foram os principais desafios enfrentados no processo de implantação do ESG?>
Eu resumo tudo numa palavra que é importante para tudo o que a gente faz na vida, que é confiança. Por muitos anos a atividade mineral não soube mostrar para a sociedade o que ela faz. Todas as vezes que a atividade aparecia nos meios de comunicação era porque aconteceu algum desastre. Só aparecia quando abria e ia gerar empregos, ou algum problema de natureza ambiental. Nós não fomos inteligentes o suficiente para mostrar às pessoas que o celular que algum radical usa para divulgar uma notícia falsa sobre a mineração só existe por causa da mineração. Numa casa, o que não for de madeira, plástico ou borracha, vem da mineração. O computador que as pessoas usam, o celular, o remédio, para ter mais saúde, necessita da mineração. Como é que se muda a mentalidade? É preciso construir uma relação de confiança. Nós, por exemplo, tivemos um trabalho muito grande no sentido de chamar a sociedade para dentro da mina e mostrar como nós trabalhamos. Isso é importante inclusive em relação aos órgãos de fiscalização e regulamentadores. Nós temos um programa de portas abertas, em que permitimos o acesso de qualquer entidade às nossas estruturas, levamos na barragem, na mina, onde quiser. Nós sabemos fazer acontecer protegendo o meio ambiente, respeitando as pessoas. Nós ganhamos o Great Place to Work (GPTW), de melhor lugar para trabalhar. É um prêmio difícil de conquistar porque é por votação dos funcionários. Acho que o grande desafio foi ganhar confiança dos órgãos, da sociedade e dos empregados – e este é um ponto muito importante. Às vezes, um funcionário novo chega na empresa com uma visão equivocada sobre a mineração, associa a algum acidente que aconteceu, e cabe a nós apresentá-lo à nossa cultura organizacional. >
Quais são os principais resultados que vocês alcançaram em Jacobina?>
Na parte ambiental, a primeira coisa que foi feita foi revisar nosso plano nesta área. Nós contratamos gente muito capacitada. Hoje, conseguimos reciclar 95% da nossa água. A gente tem, na parte ambiental, uma política muito séria para destinação de resíduos, e tem um projeto para reciclagem de materiais orgânicos que gera, por mês cinco toneladas de produtos que são usados como adubo. Temos programas para dar educação ambiental a jovens e adolescentes, tem o Dia de Mineirinho, em que levamos as crianças para a mina, mostrar o que fazemos. Tudo isso para mostrar muito cedo que a mineração não é vilã. Graças à nossa atuação, 18 nascentes estão preservadas. Muita gente fala sobre tecnologia, mas veja a tecnologia depende de matérias-primas que são fornecidas por nós. Não existe transição energética sem o nosso trabalho. >
Sem contar que a própria mineração, apesar de produzir bens primários, faz isso usando muita tecnologia. >
Só para você ter ideia, nós temos carregadeiras gigantescas operadas por controle remoto, toda o nosso sistema de ventilação e bombeamento é totalmente automatizado e controlado a partir da superfície. Acompanhamos exatamente onde estão nossos funcionários, se alguém tem um mal súbito, imediatamente recebemos uma sinalização por um dispositivo na lanterna e a nossa brigada é acionada. Muitas mineradoras que produzem a céu aberto, já têm caminhões que funcionam de maneira autônoma.>
Qual é o impacto da atuação de vocês na região?>
A atividade mineral em Jacobina data do Século XVIII, do tempo dos Bandeirantes, em meados de 1770. A história moderna, como mineradora, acontece na década de 70, do Século XX. A operação já foi tocada por uma série de empresas, mas deixa eu te falar, estive em Jacobina em 1998, quando a mina estava parada. Você não via nem 10% do que tem hoje de comércio, hotelaria e escolas do que se vê hoje. A cidade tem faculdade de Medicina, de Direito e várias outras disciplinas. Tem franquias que dificilmente se encontram em cidades do interior. Nós devemos responder por cerca de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) local. É uma contribuição enorme. Temos mais de 2,8 mil funcionários próprios. Se fizer a conta que o Ministério do Trabalho faz para o setor de mineração, cada emprego direto na mina influencia positivamente outras 11 pessoas fora da mina. A cidade gira em torno disso, porque nós também temos um papel de formação profissional. Muita gente entra em nossa empresa sem formação e sai de lá pronto para o mercado de trabalho. >
O III ESG Fórum Salvador é um projeto realizado pelo Jornal Correio e Site Alô Alô Bahia com o patrocínio da Acelen, Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Instituto Mandarina, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, OR, Salvador Bahia Airport, Suzano, Tronox e Unipar; apoio da BYD | Parvi, Claro, Larco Petróleo, Salvador Shopping, SESC, SENAC e Wilson Sons; apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Fera Palace, Hiperideal, Hike, Ticket Maker, Uranus2, Vini Figueira Gastronomia e Zum Brazil Eventos.>