Blocos afros levam alas infantis para desfilarem no Carnaval; veja ensaio fotográfico

Quem desfila também neste domingo no Bairro de Itapuã são as crianças do Bloco Afro Malê de Balê

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  • Priscila Natividade

Publicado em 7 de fevereiro de 2016 às 08:04

- Atualizado há um ano

(Foto: Sora Maia/CORREIO)Para eles, o Carnaval não é só uma festa onde muita gente pula atrás do trio elétrico. A folia tem outro significado: é mais uma afirmação da sua identidade e da cultura afro-brasileira. “A nossa dança é muito linda assim como a minha história. O negro é a coisa mais bonita de se ver”, afirma a Rainha do Azeviche do Muzenzinha, Geovana Rebeca Chagas, de 6 anos. Geovana e mais outras 200 crianças do Bloco Afro Muzenza desfilam hoje (7) no Pelourinho a partir das 15h.O rei Azeviche do Muzenzinha, Reinan de Jesus, 12 anos, está contando as horas para colocar o bloco na rua, com o mesmo tema que o Muzenza levou para a Avenida, celebrando o reggae. “Eu estou muito ansioso para chegar logo a hora do desfile. Ensaiamos muito para fazer bonito hoje”. Para a coordenadora do Muzenzinha Cláudia Mattos, a participação infantil do Muzenza vai vir com mais força. “No desfile de domingo, vamos colorir ainda mais o Pelourinho, levantando a auto-estima destas crianças para que elas possam se perceber como negras  e ter ainda mais orgulho disso”.

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Quem desfila também neste domingo no Bairro de Itapuã são as crianças do Bloco Afro Malê de Balê. “O Carnaval é a culminância de todo trabalho que o Malê faz durante o ano. Desde cedo ensinamos a elas o respeito à cultura e o orgulho de ser negro, em um mundo onde o racismo perverso e doloroso, infelizmente, ainda existe. Além disso, são elas que vão perpetuar a história do Malê lá na frente”, explica a bailarina do Malê e coordenadora do Malezinho, Jany Salles. 1,5 mil crianças participam do cortejo que sai às 18h da sede do bloco afro no Abaeté e segue até a Sereia.A rainha do Malezinho, Raine de Jesus, de 12 anos, sabe muito bem, o quanto é importante levar esta mensagem para o Carnaval. “Eu gosto da minha cor, do meu cabelo, dos meus olhos. Não tenho vergonha de nada. Tenho orgulho”, garante. O rei, Luan Iago Trigueiro, de 9 anos, reforça: “Eu acho a minha cor linda”.  

De berço No Ilê Ayê, as crianças já nascem dentro do bloco, como afirma um dos dirigentes da instituição e coordenador da Band’Erê - grupo infantil oriundo da escola de canto, dança e percussão da entidade – Vivaldo Benvido. “Desde que nascem elas tem um vinculo com a instituição, se inserem e reconhecem como negras. Fazem questão de participar e a gente sente muita alegria com isso”. A Band’Erê faz a festa logo mais na Liberdade, a partir das 16h. As crianças também marcam presença amanhã (8) no desfile tradicional do Bloco na Avenida. “A Band’Erê é o futuro do Ilê e de toda essa resistência. 100% da banda Show do Ilê foi formada na Band’Erê”.Jonatan Cerqueira, de 11 anos, troca qualquer hit ou coreografia de Carnaval por músicas e danças que exaltam a cultura negra. O menino é umas das  1 mil crianças atendidas pelo projeto do Ilê. “Lá não falta nada do que eu preciso para me deixar feliz. Brinco, danço, faço aula de informática.  De tudo, o que eu mais gosto de fazer é dançar”, conta. Jonatan vai desfilar com pernas de pau, junto com a Band’Erê. “Eu acho que vai ser muito bonito”.  Outra apaixonada pela dança-afro é Natália Aila Miranda, de 11 anos. “No bairro onde eu moro, o caminho de quem está na rua é a violência. Mas o Ilê me ajuda a ver o mundo de outra forma, ver outros caminhos. As pessoas discriminam muito o negro. Hoje eu me orgulho de ser negra e de mostrar isso para as pessoas”.

Na Quarta-feira de Cinzas (10), as crianças do Bloco Bankoma se despendem do Carnaval com um desfile que sairá da rua principal do bairro de Portão, em Lauro de Freitas. “Elas ficam muito ansiosas quando veem os mais velhos entrando na Avenida. A amostra cultural que a gente faz aqui no bairro é, para eles, a oportunidade de também terem o seu espaço no Carnaval”, ressalta a coordenadora pedagógica do Bankoma, Eliana Souza.Até lá, Helena Maria Nascimento, de 12 anos, está empolgada com os preparativos e a confecção da roupa e dos adereços que irá vestir no desfile. “Estou fazendo as coisas e ajudando para divulgar o terreiro. Vou ficar linda”, diz. “As pessoas acham que negro só faz coisa errada e eu vou pra mostrara a eles que errado é pensar isso da gente”, completa a menina, disposta a quebrar todo tipo de preconceito.

Veja mais fotos:Rei e Rainha mirim do Muzenza, Reinan de Jesus Silva e Geovana Rebeca Assunção Chagas(Foto: Sora Maia/CORREIO)Fotos de Sora Maia/CORREIO