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Gabriel Galo
Publicado em 14 de novembro de 2023 às 05:00
O Vitória é campeão nacional. Ora, e daí que é da Série B? Aliás, favor não vir falar de matemática, porque depois do último domingo em Novo Horizonte, não aceitamos menos do que a euforia. Formalidades não cabem em meio à festa. Não a esta.
Esportes impõem desafios que se valem da história para definir os rumos de uma instituição. Abusa e traumatiza. Transforma quem se valia no máximo do segundo lugar para compor sua galeria para além das fronteiras regionais, em resignado que assume que aquele é seu espaço. Não conscientemente, óbvio.
Até este 12 de novembro.
As cerca de 500 testemunhas que se deslocaram de onde fosse ao calor extremo do interior paulista levavam consigo toda a massa de torcedores do leão da Barra. Éramos aqueles que assistiram pelo estacionamento, pelos telões de bares, nas tvs em suas casas, com ouvido grudado no rádio, quem escolheu não acompanhar pra não sofrer. Éramos a nação rubro-negra no Jorjão. Mais do que isso, éramos a representação acumulada de 124 anos de tradição.
Na comemoração do gol da virada e do título pelos pés improváveis de Welder, explodimos em uma festa sem controle e sem roteiro. Sem saber o que fazer, desnorteados pelo final apoteótico, corríamos de lado a lado, chorando, nos abraçando. O caos mais lindo que já vi.
Nas lágrimas incontidas de meu amigo Mário Pinho e de tantos, se não todos, o alívio pelo título que enfim veio e pelo expurgo do desespero que foram os últimos anos. A cada soluço, a remoção do peso sobre os ombros, elevando o espírito de quem passa a vislumbrar apenas dias melhores, não como promessa, mas como possibilidade concreta.
No concreto ainda quente da noite no interior paulista, éramos, sobretudo, nossas influências que forjaram a paixão pelo Vitória e pela arquibancada.
Chamadas de vídeos ligavam Novo Horizonte à querência. “Queria que ele vivesse isso comigo hoje”, repetia Juliana sobre o pai, companheiro inseparável de Barradão. Já eu só queria o meu estivesse vivo para enfim ver o Vitória campeão nacional. Se felicidade só é real quando compartilhada, excedam-se as fronteiras físicas. Celebremos por todos os que vieram antes, e pelas gerações que ainda virão.
Jogadores sobre o alambrado, compartilhando o êxtase, fiéis representantes da nação. Conexão rara. Pois estes também não eram apenas eles. Eram Sena, Juvenal, André Catimba, Mario Sergio, Ricky, Petkovic, Fernando, Alex Alves, Neto Baiano e tantos outros ídolos que construíram o Vitória, mas lhes tiveram negado o troféu nacional.
A catarse de um dos melhores dias nossas vidas é o amontoado de histórias de quem preparou o caminho para que nele andássemos, redefinindo potências para quem virá. Onde você estava em 12 de novembro de 2023?, perguntarão no futuro.
Este título de Série B é, portanto, feito coletivo. É por todos, Vitória. É pela honra e memória de uma paixão que nunca cessa de uma torcida que te carrega nos braços, em qualquer circunstância, e te eleva. O teu pavilhão continuaremos erguendo.
Gabriel Galo é inabalavelmente Vitória