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Alan Pinheiro
Estadão
Publicado em 19 de janeiro de 2025 às 15:56
O dono da voz marcante da televisão brasileira agora descansa em paz. Morreu neste domingo (19), aos 92 anos, o jornalista e apresentador João Baptista Belinaso Neto, conhecido como Léo Batista, em decorrência de um câncer no pâncreas. O nome histórico da comunicação do país estava internado no Hospital Rios D'or, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, desde o dia 6 de janeiro com quadro de desidratação e dor abdominal.>
Nascido em 1932, em Cordeirópolis (SP), Léo Batista participou de momentos inesquecíveis da sociedade brasileira ao longo de quase 80 anos de carreira. Foi o primeiro jornalista, por exemplo, a informar o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, na Rádio Globo. Quarenta anos depois, na TV Globo, anunciou a morte de Ayrton Senna horas após o acidente em Ímola, na Itália.>
Em mais de 50 anos de trajetória na TV Globo, o botafoguense Léo Batista se tornou sinônimo de esporte. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíadas, corridas de Fórmula 1, apresentou os principais programas do canal e fez parceria até com uma zebrinha, ao anunciar os resultados da loteria esportiva no Fantástico.>
Até ser internado, Léo Batista continuava trabalhando para a emissora na qual contribuiu com seus serviços por 55 anos, desde 1970. Viúvo, foi casado com Leyla Chavantes Belinaso, a Dona Leila, que morreu aos 84 anos, em 2022.>
Inquieto, não imaginava uma vida em que não podia exercer o seu trabalho, pensamento que ficava bem claro aos que cruzavam seu caminho nos corredores e camarins da Globo. "Eu acho que se ele sair do ar ele morre", diz Alex Escobar em depoimento à série "A Voz Marcante", que conta a história de Leo e é dirigido por Kizzy Magalhães. Até o meio de 2024, o nonagenário ainda comandava um quadro dentro do Globo Esporte e ia duas vezes por semana à sede da emissora.>
"Eu vou fazer 92 anos agora em julho, sendo 76 deles dedicados ao jornalismo, e continuo gostando muito do que faço", disse Seu Léo, como é chamado nos corredores da Globo, ao Estadão, na época do lançamento do documentário.>
"Sigo trabalhando porque a TV permite que eu continue ativo no esporte. Enquanto eles permitirem e eu tiver essa vitalidade, vou seguindo. Quero continuar fazendo isso. Não sei quanto tempo Deus ainda vai me dar de vida, mas eu estou muito bem de saúde e quero continuar fazendo o que me dá prazer.">
Batista começou sua trajetória como locutor do serviço de alto-falante de uma praça em Cordeirópolis, no interior de São Paulo, passando pela "era de ouro" do rádio, ao risco de se aventurar na televisão, na época em que o meio de comunicação havia acabado de surgir e ainda era um caminho incerto e questionado. Na telinha, se firmou como um dos principais nomes do jornalismo da Globo.>
Enquanto trabalhava em Cordeirópolis, foi notado pelo ex-deputado Domingos Lot Neto, então dono da recém-inaugurada Rádio Clube de Birigui, veículo no qual passou a trabalhar. Mais tarde, trabalhou no Rádio Difusora de Piracicaba e narrou muitos jogos do XV. Mesmo atuando em um veículo do interior, cobriu a Copa do Mundo de 1950 no Rio, para onde se mudaria em 1953, contratado pela Rádio Globo.>
No comando do programa o Globo no Ar, foi a primeira voz a noticiar o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954. Um ano depois, o espírito desbravador o levou a se aventurar na televisão, que ainda dava seus primeiros passos. Entrou para a TV Rio e apresentou o Telejornal Pirelli, concorrente do poderoso Repórter Esso, da TV Tupi.>
Léo Batista continuou na mesma emissora até 1970, quando foi chamado para fazer parte da cobertura da Copa do Mundo pela Globo, a pedido de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então chefe de direção de programação e produção da emissora.>
No ano seguinte, a "Voz Marcante" já apresentava a primeira edição do Jornal Hoje. Também foi o primeiro apresentador do Esporte Espetacular, em 1973, e do Globo Esporte, 1978, programas dos quais foi criador. Esteve na primeira edição do Fantástico, apresentando os gols da rodada e interagindo com a famosa Zebrinha na hora de noticiar os resultados da loteria esportiva. Também chegou a apresentar edições do Jornal Nacional, ao lado de Cid Moreira.>
Assim como no rádio, participou de coberturas marcantes depois que foi para a televisão, especialmente no esporte. Na soma das duas áreas, trabalhou em 13 Copas do Mundo e 13 Jogos Olímpicos. Foi ele quem entrou nos plantões sobre a morte de Ayrton Senna, em contato com o repórter Roberto Cabrini, que estava na Itália, e para noticiar o acidente que tirou a vida de Princesa Diana.>
"Na verdade, eu tive foi sorte de estar na hora certa e no lugar certo em todos esses momentos", disse Léo Batista ao Estadão. "Não sei se a palavra correta é emocionado, mas com certeza tem um misto de emoção com orgulho de ter feito parte disso tudo. Esse orgulho, na verdade, é por poder estar inserido na história, por ter sido a voz de fatos importantes e que marcaram a vida de muita gente. Agora, ao mesmo tempo, também noticiei alguns fatos tristes, como as mortes do Getúlio Vargas, do Ayrton Senna e da Princesa Diana, por exemplo.">
Além do amplo trabalho como comunicador, Léo Batista se dedicou a ofícios como o canto, as artes plásticas, a comédia e a literatura. Também foi dublador e marcou uma geração como narrador dos desenhos animados dos heróis da Marvel na década de 1960.>