Volta às origens: Harmonia do Samba celebra a Capelinha no álbum Tá no DNA

O disco tem participações de Xande de Pilares e Anitta

  • Foto do(a) author(a) Monique Lobo
  • Monique Lobo

Publicado em 23 de agosto de 2015 às 15:44

- Atualizado há um ano

Não é novidade para os baianos que o grupo Harmonia do Samba nasceu nas ruas da Capelinha, em Salvador. O bairro vizinho à Boa Vista de São Caetano e ao Alto do Peru, famoso pelo tradicional picolé Capelinha, abrigou os primeiros shows da banda de Xanddy, 36 anos, Roque, 35, Bimba, 10, Luciano, 35, e Martins, 38, e sempre foi lembrado pelos músicos durante a sua trajetória de mais de duas décadas.Em seu novo trabalho, o 15º álbum Tá no DNA (Muralha Records), a banda de pagode se volta para o começo e com toda a energia do berço apresenta um projeto maduro e cuidadoso, sem perder o suingue que os alçou a uma das maiores bandas de pagode do país. Com metade das músicas autorais, o disco traz a batida que se tornou essência do som bem tocado do Harmonia, em faixas como Ai Ai Ai, Daquele Jeito e a título Tá no DNA, mesclado ao samba de roda, partido-alto, sambanejo e até ao funk melody. Jeitinho Diferente e Hoje Eu Sonhei com Você têm participações de Xande de Pilares e Anitta, respectivamente.(Foto: Divulgação)Em entrevista para o CORREIO, Xanddy fala do zelo que rodeou esse projeto, gravado no estúdio de sua casa. O cantor revela o clima alto-astral que tomou conta das gravações com a proximidade dos familiares e amigos, e com direito até ao almoço de Dona Graça, mãe do baterista Roque Cezar e uma das fundadoras do Harmonia do Samba.Esse é o 15º álbum de uma carreira de 22 anos do grupo. Como foi entrar em estúdio para fazer mais um disco?Esse ano eu estreei meu estúdio, o Nave, e fomos muito felizes em gravar lá em casa. A gente estava bem mais à vontade, com mais calma, perto da família. Isso remeteu ao nosso início na Capelinha, onde a gente estava sempre juntos. Até Dona Graça, a matriarca da banda, veio servir feijão dela. Como foi feita a seleção do repertório?A gente pede músicas aos compositores todo ano e algumas coisas também vão aparecendo durante o ano e a gente guarda. Viajamos pós-Carnaval e Bimba já tinha algumas coisas em arquivo e tínhamos Flechada do Prazer e Hoje Eu Sonhei com Você. Essa música primeiro veio sem letra e eu já gostei. Dois dias depois, Anitta veio aqui em casa, mostrei a ela e nós fizemos a letra. Guardamos também. Só quando voltamos das férias foi que começamos a preparar o disco. Esse álbum passeia por várias praias, tem o sambanejo, tem umas fusões rítmicas, esse samba de roda fundido com partido-alto, tem a Anitta com o sotaque do funk carioca, é um disco que conta o que é o Harmonia do Samba. A gente bebe de muitas fontes e gosta de colocar essas influências. Vocês sempre homenagearam a Capelinha. Mas nesse disco, em especial, isso está ainda mais forte nas músicas, no encarte que é todo composto de fotos do bairro feitas por Deco do Cavaco, que também toca na banda. Por que isso?O título nos remete ao nascimento e nós nascemos lá. A gente tem fortes lembranças do início da carreira. Foi lá que a banda se formou, onde tivemos nossos primeiros fãs. Lá a gente tinha total autonomia. Montar instrumentos, pintar o local do show quando era preciso, até catar os cacos de cerveja que as pessoas deixavam, tudo era a gente. Por isso temos essa coisa muito forte com a Capelinha. Estamos em um novo ciclo, já maduros, mas queríamos, mais uma vez, enaltecer e mostrar o lugar de onde viemos. O Harmonia do Samba é o grupo de pagode baiano com maior estabilidade no sucesso ao longo da carreira. Você acha que o fato de manter a mesma formação contribui para isso, além da identidade própria? Contribui. A gente entende que a personalidade do Harmonia é formada pelo coletivo. Cada um dos integrantes tem o seu sotaque e é no encontro disso que o som se forma. Bimba tem uma maneira singular de tocar o contrabaixo, Roque a bateria e assim por diante. Desde que Junior Macedo fez parte da banda, ele conseguiu imprimir o som da metaleira do Harmonia em que as divisões, a característica de cada um, ficaram bem presentes. O fato de mantermos a formação, de ensaiarmos unidos e de nos mantermos unidos em muitas formas, isso agrega muito. É sólido.Em 22 anos de carreira, o grupo nunca caiu no lugar comum dos trocadilhos e do sexismo no repertório. Isso foi algo que vocês optaram desde o começo ou foi uma coincidência?Isso sempre foi a nossa verdade desde o primeiro disco, mas só passamos a ter consciência disso a partir do quinto ou sexto. Porque até ali, tínhamos muita influência de gravadora, além de vários fatores que nos forçavam, às vezes, a coisas que nem queríamos tanto. Mas fomos entendendo isso, através da resposta das pessoas e da crítica especializada, que valia a pena manter uma linha, respeitar essa linha e não desviar dela. Queremos fazer um trabalho que não fira ninguém e que não seja negativo.  O pagode baiano sempre teve muita dificuldade em entrar no mercado carioca. Em grande parte porque eles têm artistas de samba e pagode muito fortes. Como o Harmonia do Samba fez para criar um bom trânsito com esse público? Desde o início que a banda se projetou no Brasil, o Rio nos abraçou. Passamos alguns períodos mais ausentes, mas há quatro anos, voltamos com força. Ficamos quatro anos consecutivos fazendo ensaios lá, antes da Melhor Segunda- Feira do Mundo e as pessoas iam. E sempre quando convidamos é tudo muito organizadinho, a gente procura fazer muito profissional e isso conquista confiança, agrega um respeito. O disco traz duas participações: Anitta e Xande de Pilares. Por que escolheram os dois para esse projeto?A gente já queria gravar com o Xande há um bom tempo, desde o DVD romântico, mas acabou não acontecendo por coisas de gravadoras. Mas quando a música Jeitinho Diferente chegou pra mim, eu enxerguei ele cantando e fiz o convite na bucha. Ele ouviu a música e ligou com a resposta: “Meu amigo, que música é essa?! Eu vou cantar essa música de qualquer jeito”. Já Anitta, fizemos a música juntos e ela viria gravar aqui, mas pegou uma gripe e não pôde. Então, eu fui no Rio e gravamos lá. Antes dela ter essa fama toda, ela participou de uma Melhor Segunda-Feira do Mundo lá no Rio, a primeira que fizemos. E a nossa relação de amizade começou ali. O álbum traz uma mensagem de Gilberto Gil no encarte. Como surgiu essa luxuosa contribuição e qual a influência dele na sua carreira?Gil é uma influência direta, escuto desde criança. E, mesmo sem muita gente perceber, uso um monte de técnica vocal dele. Falo pra ele que ele é muito suingueiro e o pagode nos exige isso. Acho ele uma pessoa incrível, com uma história linda de vencer barreiras. Sou um admirador. E ter uma mensagem dele no nosso disco nos enche de orgulho. E quais as suas influências musicais, além de Gil?São muitas. Desde criança escuto Djavan, Alcione. Ouvi bastante aquela turma mais clássica: Caetano e Gil. As músicas da Bahia sempre bateram muito forte em mim. Olodum, Luiz Caldas. De dez anos pra cá, eu curto muito soul music, black music, samba e partido- alto. Amo de paixão o pagode. Vou de Steve Wonder a Zeca Pagodinho facilmente (risos).E do pagode contemporâneo, o que você escuta?Atualmente escuto muito os meninos da Lactosamba, com Rafa Chagas, eles têm desenvolvido um projeto incrível. A Katê também, que assina a última faixa do disco, tá com uma proposta linda de uma mulher cantando pagode. Gosto muito do Edcity. Tem coisas do Igor Kannário que eu gosto também.(Foto: Divulgação)Tá no DNAArtista Harmonia do SambaProdução Xanddy, Bimba e Deco do CavacoGravadoraMuralha RecordsPreçoR$ 18,90