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Larissa Almeida
Publicado em 28 de julho de 2023 às 05:20
O Hospital Santa Izabel (HSI), administrado pela Santa Casa da Bahia, completa 130 anos de história no próximo domingo (30), mas as comemorações foram antecipadas e já começam nesta sexta-feira (27). A partir das 8h30, uma celebração ecumênica, seguida de exposição fotográfica e plantio de uma muda da “Árvore de Hipócrates”, símbolo do ensino médico e do amor à ciência, farão parte da programação festiva do hospital, eleito no ano passado uma das 50 melhores instituições brasileiras elencadas no World’s Best Hospitals 2022 – Brazil pela revista norte-americana Newsweek. >
A publicação leva em consideração recomendações de especialistas médicos, gerentes de hospitais e profissionais de saúde, além de resultados de pesquisas de satisfação com pacientes e indicadores médicos de performance dos serviços para montar o ranking. >
Segundo o provedor da Santa Casa, José Antônio Rodrigues Alves, o momento atual do hospital faz jus à comemoração prevista. “Apesar de todas as mudanças financeira e sociais que a Bahia e o país passaram ao longo de todo esse período, o Santa Izabel soube se manter vivo e, principalmente, sendo sempre a porta-bandeira na área técnico-científica em termos de especialização. Essa semana nós já comemoramos o nosso segundo equipamento de robótica instalada no hospital. Somos líderes de cirurgia robótica no estado, temos mais de 1800 cirurgias registradas. [...] Portanto, temos muito que comemorar”, destaca. >
Na programação prevista para esta sexta-feira, a celebração ecumênica deve reunir os mais de 2 mil funcionários a serviço da instituição. A exposição fotográfica vai exibir imagens históricas do hospital e depois uma apresentação do novo equipamento de robótica vai acontecer no local. Por fim, o plantio de uma muda da “Árvore de Hipócrates” vai repetir o ato idealizado há 10 anos por José Antônio. A árvore plantada por ele e os demais colaboradores em 2013, nos 120 anos da instituição, inclusive, permanece viva e atualmente está mais alta do que o prédio do hospital situado no bairro de Nazaré. >
Fundado em 1893, o Hospital Santa Izabel atualmente atende cerca de duas mil pessoas por dia em 46 especialidades médicas e tem 514 leitos, sendo 84 de UTI. No ano passado, realizou quase 15 mil procedimentos cirúrgicos, 40 mil atendimentos ambulatoriais e 98 mil acolhimentos no pronto-socorro. O investimento em tecnologia de ponta é um dos motivos do eficiente volume de entrega aos baianos, mas também aparece como um dos desafios que o hospital precisa lidar no que tange à sua manutenção. >
“Manter a modernização, se posicionar bem junto ao mercado, garantir o atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS), que é o nosso principal objetivo, são os principais desafios que o hospital precisa enfrentar”, aponta o provedor José Antônio. >
No que se refere aos avanços, é também a tecnologia a aliada na construção do futuro e do legado do HSI. Em breve, a instituição deve receber uma residência médica voltada para cirurgia robótica com a promessa de agilizar o atendimento e recuperação do paciente, bem como sua segurança no procedimento cirúrgico. O serviço de bioimagem também deve ser expandido para exames de precisão mais refinados e voltados para área de oncologia. Além disso, atualmente está sendo instalado o primeiro serviço de transplante de medula óssea do hospital. >
Em termos estruturais, o hospital está em obras para dobrar o seu centro cirúrgico e deve ganhar mais oito salas de cirurgia, um novo prédio de estacionamento e um novo prédio administrativo. Em breve, também está prevista a ampliação da clínica Álvaro Lemos, na Avenida Milton Santos, que deve dobrar de tamanho e receber uma unidade especializada no atendimento feminino na clínica da Mulher. >
Primeiro hospital da Bahia a realizar cirurgia em plataforma robótica, em 2019, o Hospital Santa Izabel traz nas veias da sua história o pioneirismo no que diz respeito à inovação. A primeira prova dessa forte característica data de 1908, 15 anos após a sua fundação, quando Manuel Augusto Pirajá da Silva, professor e médico especialista em doenças tropicais, identificou e fez descrição completa do Schistosoma mansoni, parasita que provoca a esquistossomose intestinal, mais conhecida como barriga d´água, no hospital. >
Sete anos depois, a primeira transfusão de sangue no estado também ocorreu dentro das dependências do hospital, no dia 2 de outubro de 1915. Em 1936, o HSI recebeu a reunião da Liga Bahiana Contra o Câncer. Na década de 70, a instituição começou a se tornar destaque na especialidade cardiológica, conforme conta o infectologista e diretor médico do hospital, Ricardo Madureira. “Foi implantada e desenvolvida aqui a área de cardiologia, estudos hemodinâmicos, intervenções hemodinâmicas e, nessa mesma década, cirurgias cardíacas. Foi um peso muito grande”, avalia. >
Há 25 anos no hospital, Ricardo começou como residente até se estabelecer como diretor médico. Para ele, o hospital é um espelho para tantos outros espalhados pelo país. “Nosso hospital serve de inspiração e valor histórico para a comunidade médica do nosso estado e do nosso país, porque, a partir do início do século XX, a medicina começa a ter a formação de especialidades médicas. O Santa Izabel participa ativamente desse momento quando alunos e professores da mesma faculdade começam a estudar e se dedicar à especialização”, diz. >
Com ensino de especialidades médicas estabelecido no HSI, um dos mais ilustres aprendizes da instituição foi Juliano Moreira, considerado pai da psiquiatria brasileira. Até hoje, o hospital promove ensino e pesquisa, e oferta especialização em 15 áreas medicinais. >
Mesmo quando não estava à frente de todos, o Hospital Santa Izabel esteve bem posicionado: foi um dos primeiros hospitais a ter residência médica no país – prestes a completar 42 anos –, um dos primeiros hospitais de ensino do Nordeste do Brasil e é referência, junto a outros do Brasil, na Cardiologia e Oncologia. >
Herdeiro de um legado que se inicia quando da fundação da Cidade de Salvador, o Hospital Santa Izabel remonta ao primitivo Hospital da Caridade, fundado pelo então governador-geral Thomé de Souza, em 1549, e administrado pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia. Essa instituição foi por mais de 200 anos o único Hospital Geral do estado. >
O Hospital da Caridade teve mudanças de nomes ao longo da sua história. Primeiro, foi denominado de Hospital N. S. das Candeias e era chamado pela população de Hospital da Cidade. Mais tarde, já com a denominação de Hospital São Cristóvão, recebeu para as aulas práticas, os primeiros 17 alunos da Academia Médico-Cirúrgica da Bahia, a primeira escola de medicina do Brasil, instalada no prédio da Santa Casa. O hospital funcionou ali por 284 anos, até sua desativação que deu lugar ao Hospital Santa Izabel. >
“Quando esse hospital fica pequeno para atender a demanda da cidade e quando se estabelece que o centro da cidade não era mais um local apropriado para ter um hospital por causa da insalubridade, a Santa Casa resolve fundar um novo hospital, que é justamente o Hospital Santa Izabel. Acho que esse é um dos maiores simbolismos dele”, frisa Rosana Souza, arquivista da Santa Casa da Bahia. >
É também desse início que surge a essência filantrópica da instituição. “Quando Thomé de Souza chega a Salvador e começa a fundar a cidade no Centro Histórico, imediatamente é criada a Santa Casa de Misericórdia da Bahia, que vivia de doações de quem estava vindo para cá morar e trabalhar. O ideal era exatamente servir ao próximo, seguir valores. O serviço da Santa Casa como um todo era ensinar. Na ocasião, era dar água a quem tem sede, dar comida a quem tem fome, acolher os doentes e enterrar os mortos. São valores de servir basicamente ao próximo. Essa é a essência da Santa casa e que se mantém até hoje”, finaliza o infectologista Ricardo Madureira.>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>