Cientista baiano é alvo de campanha para custear despesas médicas

Ricardo Chemas  aguarda por vaga em hospital para realizar cirurgia para recuperar o braço esquerdo

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  • Saulo Miguez

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 05:00

A dor de um psiquiatra que perdeu livros raros e trabalhos científicos em incêndio
A dor de um psiquiatra que precisou recuperar a casa, o local de trabalho e viu anos de pesquisa e conhecimento virarem cinzas Crédito: Márcio Lima/Divulgação

Há pouco menos de um ano, a vida do médico Ricardo Chemas passou por um revés. A casa onde mora, no bairro do Rio Vermelho, onde também funciona o seu consultório, pegou fogo. O prejuízo material foi grande a ponto dele e da mãe, uma senhora de 97 anos portadora de Alzheimer, precisarem deixar temporariamente o imóvel até que o mesmo fosse reformado.

As chamas também consumiram anos de trabalho dedicados à construção do conhecimento. Para pagar os custos da obra, o pesquisador precisou gastar as economias e fazer cortes substanciais no orçamento. Inclusive o seu plano de saúde foi cancelado. Há mais ou menos um mês, ele sofreu um acidente e fraturou o braço esquerdo.

Apesar de toda uma vida dedicada à medicina, ele aguarda por uma vaga em um hospital para realizar a cirurgia. Enquanto isso, segue a sua rotina à base de morfina para conseguir realizar as atividades do dia a dia. "Tem sempre a barreira do custo hospitalar, os honorários de cirurgião e anestesista. Ainda não há uma perspectiva de quando será feita a cirurgia", disse.

Na tentativa de contribuir com a recuperação, amigos e admiradores se mobilizaram para arrecadar o valor das despesas hospitalares, que ficaram em torno de R$ 24 mil. Para tanto, criaram uma campanha de doação que pode ser feita via PIX, através da chave [email protected].

Apesar dos infortúnios, o pesquisador vive sem queixas. Ricardo, que há mais de 40 anos se dedica a tratar as mentes alheias, atribui essa resiliência à sua capacidade de tolerar as frustrações. “Perdi livros raros, trabalhos científicos que não estavam digitalizados, meus certificados, mas não perdi a vida”, contemporiza Chemas.

"Há pessoas que perdem um vestibular e querem tirar a própria vida, enquanto outros vão para um campo de concentração e sobrevivem. A resiliência também vem com a idade e o amadurecimento", completa.

Vocação instintiva 

Nos idos dos anos 1950, em Salvador, a maioria das crianças passavam o tempo soltando pipa, jogando futebol, batendo bolinhas de gude e caçando passarinhos com bodoques. Mas, para Ricardo Chemas, o lazer era bem diferente.

Desde a tenra infância, ele sabia que seu futuro seria em meio a pacientes, corredores de hospitais, consultórios e laboratórios de pesquisa. Assim, ainda muito criança, treinava injeções em insetos e ensaiava nos potes de vidros a formulação dos medicamentos que, anos depois, salvariam milhares de vidas.

“Desde pequeno, dizia aos meus pais que seria médico e cientista, era uma coisa instintiva. Já tinha uma vocação muito nítida. Eu nasci com isso”, disse Chemas com o brilho nos olhos próprio dos que amam o que faz.

Ainda na adolescência, a brincadeira foi ficando séria. Aos 14 anos, já publicava os seus primeiros trabalhos científicos e, ao 15, foi o mais jovem cientista a ingressar na Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência.

Em 1980, se formou em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, de onde saiu psiquiatra, clínico-geral e disposto a unir as duas especializações para tratar os processos mentais.

“Sempre tive interesse pelo lado psíquico, além do físico. Sou muito curioso pela mente e pelos processos psicológicos. Isso que me fez integrar as duas áreas”, detalhou.

Cura de corpos e almas

Ao longo de mais de quatro décadas dedicadas aos laboratórios e consultórios, Chemas tem feito o que se espera de alguém que nasceu com a vocação para curar. Os milhares de pacientes atendidos, muitos deles de maneira voluntária, e trabalhos realizados no Brasil e fora do país lhe renderam o reconhecimento das principais sociedades médicas.

Entre os casos que passaram pelo seu consultório, ele relembra um rapaz que sofria de um tumor muito agressivo no cérebro. O paciente foi operado e perdeu um dos olhos. Tempos depois, o câncer voltou. "O tumor estava do tamanho de uma laranja. Ele não queria operar com medo de perder o outro olho", disse o médico.

Respeitando a vontade do paciente, mas disposto a curá-lo, o Dr. Chemas se debruçou sobre as literaturas médicas e, na contramão do receituário tradicional, entrou com com uma medicação homeopática derivada da prata. Em seis meses, o tumor desapareceu, sem precisar de cirurgia.

Incansável, aos 69 anos, ele segue uma rotina de atendimentos e, no momento, vem desenvolvendo em seu instituto um medicamento para tratamento de pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que não causa dependência.