TRADIÇÃO

A história dos ex-alunos do Colégio Marista que dão as cartas no Carnaval

Diferentes gerações se tornaram importantes nomes da indústria da folia e da produção cultural baiana

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  • Thais Borges

Publicado em 4 de fevereiro de 2024 às 07:00

Colégio Marista do Canela
Colégio Marista do Canela Crédito: Reprodução

Uma caminhada de pouco mais de 600 metros separa o Largo do Campo Grande, no ponto de onde partem os trios elétricos para o circuito, do antigo Colégio Marista, no Canela. Quando o edifício foi comprado pelo Instituto Irmãos Maristas, ordem religiosa francesa, no começo do século passado, certamente não era possível imaginar que aquela proximidade territorial com a festa momesca seria estratégica.

De dentro dos muros do prédio da escola - que em 2010 virou sede do Instituto Federal da Bahia -, houve o ponto de partida para a empresarização do carnaval de Salvador . Foi do edifício centenário, que deixou de ser a sede da escola em 2008, que saíram alguns dos fundadores das principais empresas dessa indústria.

Os ex-alunos criaram agremiações tradicionais como o EVA, o Crocodilo e o Beijo, e os mais recentes, como o grupo San Sebastian, responsável por blocos como Blow Out e O Vale, e a Oquei Entretenimento, que assina boa parte dos eventos de pré-folia.

Tudo começou na escola. A combinação de uma rotina artística e de gestão - como o grêmio estudantil, festivais de música, olimpíadas e outros eventos - com amizades que duram até hoje fomentou o o que viriam a ser grandes negócios. Entre os colégios particulares, o Marista matriculava os principais sobrenomes da elite econômica e política da época.

“A cidade era pequena, então era como se a escola fosse para a rua”, lembra o arquiteto Heron Valladares, 61 anos.No Marista, ele acompanhou os diferentes movimentos no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Viu amigos dois anos mais velhos fundarem o Eva, acompanhou colegas mais novos criarem o Crocodilo e assistiu ao próprio irmão e outros amigos se juntarem para criar o bloco Beijo.

Pioneirismo

A experiência da primeira geração, da década de 1970, viria a influenciar todas as seguintes. Para muitos daqueles estudantes, o Carnaval, até então, era mais restrito aos clubes, principalmente o Bahiano de Tênis.

O arquiteto Heron Valladares lembra da primeira vez que foi para a rua. Um amigo que morava no Jardim Baiano convenceu uma turma a acompanhar o Top 69, tradicional trio elétrico que surgiu na década anterior.

“Foi o começo da gente curtindo o Carnaval de rua. Isso influenciou muito o pessoal. Um ano depois (em 1978), todo mundo saiu no Camaleão. Teve o Traz-Os-Montes, mas não era o pessoal do Marista. Era um pessoal da Barra. Acredito que o Top 69 foi o nosso start na rua”, opina.

Ainda que o EVA tenha nascido oficialmente em 1980, o embrião era concebido desde a década passada , na própria escola. Sócio-fundador do bloco, o empresário Hunfrey Ataíde entrou no Marista em 1970, quando o colégio recebia só meninos. Para se tornar aluno, era preciso fazer uma prova.

"A farda era de tergal, com a calça azul de tergal. Um ou dois anos depois, começou a ter meninas e a farda mudou para jaqueta de malha e calça jeans, uma coisa mais descontraída", lembra.

Um a um, os "Onze do EVA" - os 11 ex-alunos do Marista que se reuniram para o bloco - foram se conhecendo no colégio - ou seja,. O primeiro que Hunfrey encontrou foi Maurício Magalhães, de quem era vizinho, na Graça. Ademarzinho, o primeiro presidente, entraria para o negócio é da mesma época.

No meio, Professor Chico. No chão, Jorginho Sampaio e Jonga Cunha. Atrás de Chico, Ricardo Martins, Hunfrey Ataíde, Antônio José (Pernambuco), Ademarzinho Lemos e Guto Almendra
No meio, Professor Chico. No chão, Jorginho Sampaio e Jonga Cunha. Atrás de Chico, Ricardo Martins, Hunfrey Ataíde, Antônio José (Pernambuco), Ademarzinho Lemos e Guto Almendra Crédito: Acervo pessoal

"A gente foi criando uma amizade forte e começou a fazer coisas em conjunto. Meus pais tinham uma casa de praia com um campinho de futebol e toda sexta-feira a gente ia jogar bola. Depois, o pai de Ademarzinho comprou o sítio na Estrada Velha do Aeroporto", conta, citando a famigerada chácara cujo acrônimo veio a dar nome ao bloco.

Longe do centro, os amigos promoviam noites de serenata e churrasco. “Como era um lugar mais isolado, a gente podia fazer um pouco mais de barulho". No terceiro ano do Ensino Médio, almoçavam juntos toda segunda-feira, quando saíam da escola. Depois, seguiam para o cinema no atual Shopping da Bahia. Poucos anos depois, aqueles encontros virariam reuniões, sempre no mesmo dia, todas as semanas,para falar do EVA.

Na escola, a disputa pela presidência do grêmio foi crucial para a história do bloco. Aqui, um spoiler: o grêmio do Marista ainda terá um papel importante na trajetória de outros grandes nomes da indústria do axé. Parte dos amigos chegou a se dividir e formar duas chapas, mas, no fim, o que imperou foi uma gestão conjunta nos três anos do Ensino Médio.

"A gente sempre via nossos amigos meio nervosos, agoniados, estressados com vestibular. Aí, Jorginho (Sampaio) teve a ideia de criar o Clube Eva. O que o clube ia fazer? Agitar o terceiro ano", lembra Hunfrey, citando o amigo e posterior sócio, morto em dezembro do ano passado.

Vieram campeonatos esportivos, festivais, festas, passeios de escuna. Em um forró, fretaram um ônibus para levar toda a turma para o sítio da Estrada Velha. Isso durou até o fim do ano letivo. No ano seguinte, os 11 - que, na verdade, naquele momento eram 14 - se espalharam pelas faculdades como Administração, Direito e Medicina.

Mas o 'baba continuava' e os encontros seguiram, ainda que menos frequentes. "Nesse processo, Jorginho sugeriu criar o bloco de Carnaval. O Camaleão tinha sido criado por um grupo de ex-alunos do Vieira e o Marista tinha uma rivalidade na época. Mas todos nós fomos contra. 'Que porra de bloco de Carnaval, você é maluco'. Ele ficou um ano pentelhando até que, em 1980, a gente concordou", conta. Havia apenas duas condições: a primeira era de que se chamasse EVA; a segunda, de que duraria apenas cinco anos, o tempo máximo para que todos terminassem a faculdade.

O ritmo das reuniões semanais às segundas para planejar o EVA foi o que afastou três dos amigos - um deles, inclusive, era professor. Dos 11 restantes, cada um foi designado a uma área. Ademarzinho se tornou o primeiro presidente e Hunfrey, por exemplo, ficou com a área de imprensa e marketing.

Hoje, são quatro sócios remanescentes no grupo EVA da formação original: além dele, ficaram André Silveira, Maurício Magalhães e Ricardo Martins. A amizade, porém, continua até hoje. Alguns não moram mais na Bahia, mas mantêm contato em um grupo no Whatsapp. Para Hunfrey, o legado do EVA vai desde a formação de talentos - a lista tem de Ivete Sangalo e Emanuelle Araújo a Saulo e Felipe Pezzoni - até incrementos na própria estrutura dos blocos, por terem sido pioneiros com a instalação do carro de apoio e a criação do abadá.

O EVA foi fundado por amigos do Marista
O EVA foi fundado por amigos do Marista Crédito: Acervo pessoal

A influência do colégio não é algo que passa despercebida por ele. “Apesar de a gente estar em pleno período militar, era um colégio que visava a ampla e irrestrita liberdade. Além disso, já tinha naquela época um modelo de ensino que forçava a criatividade. O diretor, irmão Aquiles, acompanhava atentamente tudo que acontecia no colégio, mas a partir do momento em que ele nos permite fazer festival de teatro, festival de música, nos dá condição de fazer tudo isso com respeito uns aos outros. Foi um colégio à frente de seu tempo”.

Entre amigos

O administrador Renato Linhares, 60 anos, é outro ex-marista que não tem uma explicação imediata para sua geração ter tido tantos alunos que passaram a trabalhar na área da produção de eventos e de música. "Costumo dizer que o Crocodilo foi o último dos grandes blocos, porque depois vieram os blocos alternativos", diz, citando o antigo Pinel, bloco fundado por Durval Lelys - também ex-Marista, criado no início dos anos 1980.

Ainda no Marista, Renato foi convidado a ser comissário do Pinel. Era uma figura que servia como divulgador do bloco, vendendo entradas. Na ocasião, chegou a ponderar que, entre os alunos da escola, a influência do EVA era forte. Ainda assim, ficou cinco anos como comissário do Pinel.

Sua turma, que tinha concluído o Ensino Médio em 1981, ainda era amiga e frequentava uma barraca de praia na Terceira Ponte, em Jaguaribe. "Éramos jovens universitários e estávamos lá no dia 2 de novembro, feriado de finados. Um colega, Luís, o único de nós que já faleceu, brincou 'rapaz, a gente fica o ano todo junto e, no carnaval, maior festa da Bahia, fica separado", lembra.

Entre os amigos, era comum um chamar o outro de 'crocodilo'. Era um equivalente a amigo da onça. Daí, o nome veio naturalmente. "Éramos nove, sendo sete de nós do Marista e dois que andavam com a gente", lembra. O bloco desfilou na Avenida pela primeira vez em 1987. Foi justamente o Crocodilo, comandado por Daniela Mercury, que inaugurou o circuito Barra-Ondina em 1996. A Rainha do Axé, que hoje é o principal símbolo da agremiação, convenceu os empresários do bloco a levá-lo para um trecho ainda vazio, devido à superlotação do Campo Grande.

Há cerca de 10 anos, porém, os últimos dos sócios-fundadores que ainda estavam no negócio saíram da sociedade. Hoje, o Crocodilo é totalmente operado pelo Canto da Cidade, empresa de Daniela Mercury. Até a cantora tem uma ligação com o Marista: apesar de não ter sido aluna, costuma participar de festivais de música e outros eventos por lá.

"Tinha essa característica muito forte das artes, era muito forte essa vertente de formação no colégio, por isso talvez tenha sido um dos fatores para tantos terem enveredado por esse campo", avalia Renato, que hoje trabalha na diretoria de administração de um órgão governamental. Outros antigos sócios foram para diferentes negócios, inclusive a produção de eventos como freelancers ou com empresas de marketing.

A saga do bloco Beijo foi parecida. Tendo saído do Marista em 1979, o educador físico Thomaz Valladares, 62, lembra que foi convidado por amigos a fazer parte do que viria a ser a agremiação. O bloco chegou a ter uma banda própria do mesmo nome e teve vocalistas como Gilmelândia e Netinho.

Ele é um dos casos em que a veia para a organização de eventos despertou após a escola. “Não fiz nenhum evento enquanto era aluno do Marista, mas me chamaram para entrar no grupo. Fui sócio-diretor e assim comecei a trabalhar no carnaval da Bahia”, lembra.

O próprio Thomaz ainda foi responsável por outros projetos icônicos do pré-Carnaval nos anos 1990 e 2000, como a Lavagem de Ondina e a do Pelourinho. “Nós fizemos 40 shows ao longo de cinco anos. Só no Othon, foram 17 eventos”, lembra, citando o antigo hotel em Ondina, fechado em 2018. Apesar de não atuar mais na área, ele não descarta trabalhar novamente com entretenimento e turismo no futuro. “Registrei a marca da Lavagem do Pelô recentemente e ainda dá para pensar nisso”, adianta.

Ambiente

Para entender o Marista no final da década de 1970, é preciso lembrar que Salvador era uma cidade diferente. Em 1980, por exemplo, o Censo contabilizou cerca de 1,5 milhão de pessoas - pouco mais de 60% da população de pouco mais de 2,4 milhões de hoje.

Além disso, aqueles anos parecem ter inaugurado uma era diferenciada para a arte e o entretenimento dentro da própria instituição. A professora de música e educadora musical Heloisa Leone foi uma das pessoas que acompanhou e vivenciou essa transformação. Ela entrou lá justamente em 1979 e ficou até 2005, quando se aposentou.

“Até o início da década de 1990, o colégio foi um espaço de muita arte e muita cultura. Me lembro do Irmão Eduardo, que foi diretor. Ele tinha um ditado que era: ‘aqui também se estuda’, porque era um lugar de muito movimento e muita arte. Marista foi um negócio de doido, olhando para trás hoje”, avalia Heloísa, que hoje trabalha em um projeto social de artes e dá aulas particulares.

Foi ela quem criou, por exemplo, um dos festivais de música mais tradicionais da escola - o Femin, dedicado à música infantil. Heloisa não foi professora dos jovens do EVA ou do Crocodilo, porque ensinava estudantes mais jovens. Na época, eles já estavam no terceiro ano. Mas Heloisa acompanha os caminhos dos mais novos até hoje. Mesmo seu filho, Marcelus Leone, se tornou um importante nome do Carnaval. Saxofonista, ele atua na banda de Ivete Sangalo.

“Era uma coisa muito própria. Ensinei no (Colégio Antônio) Vieira por dois anos e era muito diferente. Lembro que uma vez queria levar as turmas da sexta série para assistir a um concerto no Teatro Castro Alves. Era do lado do Vieira, mas fui falar com a coordenadora e não dava porque uma das turmas teria teste de ciências. Por causa de uma turma, sete turmas não poderiam assistir ao concerto. Não sei como é hoje em dia, mas antes era diferente”, compara.

Professora de Química do Marista até 2006, a educadora Iara Luz conta que não se surpreende tendo visto que tantos alunos tenham seguido para o caminho artístico.

"Me sinto orgulhosa dele, de todos eles. Acho que eles se deram bem porque souberam buscar os direitos deles sem causar nenhuma interferência no programa que era estabelecido e determinado na escola. Não faziam baderna, não faziam bagunça. Eles se reuniam", conta, referindo-se à atuação do grêmio estudantil.

Tendo trabalhado lá por 17 anos, Iara acompanhou a geração mais jovem. Foi professora dos irmãos gêmeos Ricardo e Rafael Cal, que fundaram a Oquei Entretenimento, e do nutricionista Daniel Cady. Esse último, ainda que não tenha escolhido uma carreira ligada à economia do Carnaval, acabou se conectando a ela. Desde que casou com Ivete Sangalo, principal artista da folia baiana, Daniel acompanha diretamente a rotina da cantora na folia.

"O comportamento dos alunos era diferente (da geração atual). Não vou dizer que não tinha agitação nem brincadeiras, porque existia. Mas existia o respeito tanto em relação aos pais quanto em relação à escola".

Professor de Educação Física do colégio desde 2006 até hoje, João Carlos Cardoso Júnior, conhecido como professor Xuxa, viveu os dois cenários. Antes de ser docente, também foi aluno da casa na década de 1990 e até o início dos anos 2000.

"O grêmio estimulava momentos musicais nos intervalos, momentos de integração, de teatro, de dança. Lembro que já na época, o pessoal ia assistir bandas que estavam começando despretensiosamente com integrantes do Marista e de outras escolas", conta, citando nomes como Saulo, considerado por alguns o último representante da elite do axé music.

Na nova sede, o grêmio estudantil, que foi tão importante para as primeiras gerações, ainda está sendo estruturado. "Já teve em alguns anos, mas a cada ano vai melhorando. Quando tem grêmio, tem eleições e os alunos interessados constituem uma chapa e fazem o processo eleitoral", explica o professor.

Grêmios estudantis são raros em escolas hoje. Uma pesquisa divulgada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação no ano passado identificou que apenas uma em cada dez instituições contam com a entidade. No entanto, o dado é exclusivo das escolas públicas e não há estatísticas semelhantes sobre as escolas particulares.

Incentivo

Ao lado de seu irmão Rafael, o empresário Ricardo Cal é um dos nomes mais lembrados por professores e colegas como representantes da geração mais nova do Marista que ganhou musculatura na indústria do entretenimento no estado. Sócio da Oquei Entretenimento, ele estudou no colégio por 11 anos e, desse total, foi presidente do grêmio por cinco anos.

"Apesar de ser uma instituição tradicional e religiosa, o Marista nos incentivava a sermos cidadãos e a termos uma vida além do estudo. Incentivava essa questão cultural, do teatro, da música, dos eventos, dos esportes. A gente participava de maneira muito ativa", lembra.

Ao longo dos anos, Ricardo passou pela maioria dos cargos de liderança estudantil. Além da presidência do grêmio, chegou a presidir as associações de grêmios de Salvador e até a dos grêmios maristas do Norte e Nordeste.

"Esse mundo do entretenimento fazia parte da minha vida porque a gente fazia muitos na escola. Eu levava a Banda Eva com Ivete, Gerasamba, Cheiro de Amor com Carla Visi. Tudo porque os blocos tinham, nas escolas, seu principal público para comprar abadá", explica.

Seu primeiro trabalho foi com o EVA, aos 15 anos. "Esse ano, completo 25 anos no Carnaval de Salvador. Não tenho memória de não estar produzindo e isso vem muito do desenvolvimento com as agremiações carnavalescas".

Este ano, a Oquei assina alguns dos principais eventos do pré-Carnaval, como o Feijão e Folia, neste sábado (3), no Hotel Wish, e a Gravata Doida, bloco que desfila na quarta-feira (7). Por ano, a empresa dos irmãos promove mais de 100 eventos em Salvador. Para Ricardo, esse é um legado dos tempos de escola, quando chegou a organizar um projeto diferente a cada três dias úteis, em alguns períodos.

"Pode ser clichê, mas o Marista foi o grande divisor de águas na minha vida. Obviamente, eu tive a oportunidade de estudar em um colégio tradicional que me trouxe aprendizado tanto acadêmico quanto de vida. Fiz Direito, mas não concluí porque o entretenimento ocupou meu tempo e comecei a aprender na escola".

Em 2024, o Marista completa 120 anos de atuação em Salvador. Ricardo já começou a preparação para um evento que pretende celebrar a data. "A ideia é trazer, como atrações, esses ex-alunos famosos para essa celebração", diz, citando os ex-colegas que se tornaram músicos.

Há, ainda, o Grupo San Sebastian, que é o maior representante do segmento LGBTQIAP+ no Carnaval de Salvador. Além de terem criado importantes blocos voltados para este público, como Blow Out e O Vale, eles criaram a SanFolia, que concentra as vendas e a produção de outras importantes agremiações para a comunidade.

A SanFolia hoje é sinônimo das grandes divas da música baiana: Ivete, Daniela, Claudia Leitte, Alinne Rosa e Babado Novo. E um dos responsáveis pela estrutura que torna isso possível é mais um ex-marista: José Augustto Vasconcelos, diretor-fundador do Grupo San Sebastian.

Assim como outros colegas de profissão, o empresário foi atuante no grêmio estudantil.

“O Marista, sem dúvida, dava um grande apoio às atividades culturais, fomentava essa rede entre os alunos, que, mesmo de séries diferentes, se envolviam em diversos projetos, como o grêmio estudantil, do qual fiz parte por muitos anos”.

O período em que estudou na escola, entre 1989 e 1999, é visto por ele como crucial para ter decidido seguir por esse caminho. “Foi desde lá que fui nutrindo a paixão por eventos, o gosto por liderar equipes, por assumir desde jovem responsabilidades que, sem querer ou não, me prepararam para o mercado em que trabalho hoje. Não tenho dúvidas de que, antes e depois, outros profissionais da área tenham dado no colégio ainda esses primeiros passos”, analisa.

Outra empresa que foi formada por sócios que saíram do Marista foi a Penta Entretenimento. Fundada em 1997, a companhia tem em seu casting, hoje, alguns dos principais nomes do Carnaval - em especial, do pagode. É o caso de Psirico, Parangolé, O Poeta e La Fúria, além de Lincoln.

Artistas

Desde 2009, o Marista tem uma sede em Patamares, quando o colégio foi transferido da unidade do Canela. Ex-aluno, o cantor Durval Lelys foi um dos que se engajou em protestos contra a venda do antigo prédio, em 2008.

Além disso, Gilberto Gil, um dos maiores nomes da história da música brasileira, também é ex-aluno da escola. Ainda que seja mais velho do que as gerações que levaram à maioria dos empresários, Gil engrossa a lista dos responsáveis pela economia carnavalesca ser como é. Há 24 anos, ele e sua família comandam o Expresso 2222, espaço vip que foi um dos primeiros camarotes do circuito Barra-Ondina e que se tornou referência no gênero.

Por ser negro, a trajetória do músico, porém, foi diferente do que outros colegas contemporâneos viveram. Em 2021, Gil usou as redes sociais para falar sobre seu período como estudante na escola. Ele relatou ter sofrido racismo pela primeira vez lá.

“Só fui sentir o racismo quando comecei a ir ao Colégio Marista, em Salvador, de pequenos burgueses, na maioria brancos, a elite baiana. Eu sofria muito, não só da parte dos colegas, mas também da parte dos professores, dos padres, dos irmãos. Era uma discriminação disfarçada, atenuada durante todo o tempo, mas com algumas manifestações agudas. Lembro-me que uma vez, quando pedi uma explicação, um professor, que se chamava Irmão Inácio, simplesmente virou para mim e disse: ‘cale a boca, seu negro boçal”, contou.